O Sr. Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva não é um homem de acção que tome decisões a quente, com exaltação e sem ponderação. Pelo contrário, a sua longa experiência de professor universitário, com influência da fleuma britânica, fortificou o seu feitio de ponderação, estudo aprofundado e sólida preparação das decisões. Não é pessoa para dar um salto no desconhecido e, como um atleta, tem cuidado com o ponto da chamada para o salto em comprimento e com a linha de partida dos 100 metros.
Sendo sensato e prudente por temperamento, disse que não foi à Figueira da Foz para ser candidato a líder o partido, tendo ali passado casualmente durante o passeio para fazer a rodagem do novo carro e, depois, cedido à pressão dos camaradas para se candidatar. E ninguém consegue penetrar no segredo das suas congeminações, que oculta com sucessivos «tabus» e, para melhor se proteger da tentação de responder a perguntas indiscretas, não hesita em encher a boca com grossa fatia de pão de ló. Por tudo isto, convém ter em mente que as suas palavras quando, ontem, exigiu "mais qualidade" na democracia portuguesa, exortando "alguns agentes dos poderes públicos" a ter "cuidado com as suas atitudes" constituem, provavelmente, a primeira fase de uma resolução adiada para época mais oportuna..
Embora considere que "as instituições funcionam de acordo com todas as regras democráticas", Cavaco considerou ser necessário "um esforço para desenvolver e melhorar a qualidade da democracia" e que "talvez isso requeira uma atitude diferente dos cidadãos, mas também uma atitude diferente da parte dos poderes públicos".
A estas palavras José Lello, membro do Secretariado Nacional do PS reagiu dizendo que "foi uma declaração abrangente, que retém princípios de senso comum que também subscrevo. Um dos papéis do Presidente é ser um elemento moderador e de referência da qualidade da democracia", e acrescentou que "na democracia portuguesa podemos dizer o que quisermos».
Voltando à serenidade e ponderação do Presidente, há meses que ele poderia lançar aos políticos este aviso, mas preferiu esperar que tal atitude fosse tomada pelo «treinador», o chefe da equipa governativa. A espera foi longa e deve ter sido dolorosa porque as anedotas infelizes de vários ministros foram-se repetindo, cada vez mais em concorrência com as dos humoristas Gato Fedorento e Herman José, sem que tivessem surgido medidas de contenção da parte do responsável pela equipa. Os exemplos de ministros jocosos, anedóticos e pouco dignos das cadeiras em que se sentam acabam, segundo a lógica do sistema, por ser aproveitados por bufos e caciques locais para tomarem de assalto os postos de mais representatividade da função pública, sem os dotarem de valor acrescentado.
A paciência do Sr. Presidente já não permitia esperar mais, apesar de estarmos em plena Presidência da UE. A gravidade da situação tornou inadiável o alerta e, quando terminar esta presidência, será o momento mais adequado para decisão mais expressiva. Até lá, há que observar e meditar.
Este aviso do mais alto magistrado da Nação, veio evidenciar que muitos escritos aqui colocados estão sintonizados com as suas palavras. Parabéns Sr. Presidente pela sua ponderação e sentido de Estado, mas o povo precisa também de alguma acção de quem de direito
DELITO há dez anos
Há 7 horas
7 comentários:
Parabéns pelo seu texto caro João Soares.
Depois da presidência europeia algo tenderá a mudar? O PR não governa...mas!!
Abraço
MR
João Soares
Eu acho que o nosso Presidente tem tido uma actuação à altura, calando alguns detractores que tentaram exovalhá-lo na campanha.
Porém, acho que está na altura de ele dar um murro na mesa e mostrar ao governo que o tempo das falinhas mansas já acabou. Qualquer dia torna-se insuportável viver neste país democrático (?). Depois, talvez seja tarde para o nosso Presidente, pois pode ter de tomar uma decisão como a de Jorge Sampaio; então será ele o crucificado.
O tempo o dirá.
Abraço
Caros Mário Relvas e Amaral,
Realmente, o Presidente é acusado por muitos de ser demasiado tímido e hesitante, mas tem querido manter um bom relacionamento e convivência pacífica com o Governo. Provavelmente, quando terminar a Presidência da UE, deve haver grande remodelação governamental, porque há ministros que já estão a mais, há muito tempo, ou, se essa substituição não for feita, uma dissolução do Parlamento, mas para isto, há um prazo em relação às eleições seguintes. E é uma operação muito dolorosa, como se viu com a queda de Santana Lopes.
O pior da situação actual é o autoritarismo arrogante que tem sido extensivo a bufos e caciques de todos os níveis, tornando a vida um susto permanente.
Abraços
As palavras, apenas, não chegam, meu caro amigo.
Podem até servir, apenas, para um introdução de um 2ºm,andato em que os galgos de raça de Cavaco serão lançados na corrida...
Esperemos, mas nunca gostei nada daquele ar seráfico de S. Excelência! De britânico, fleumático, nada lhe vejo para ser franco.
A prpósito, ou talvez não, convido-o a dar uma voltinha pelas minhas Maravilhas da Aldeia, chamando desde já a sua especial atenção para a figura de D. Bolismundo I.
Parabéns por mais um excelente e ponderado texto.
Um abraço.
Jorge G. - O Sino da Aldeia porque avisar é (cada vez mais) preciso
Caro Jorge,
Se é british não é franco! São dois povos que se detestam!
E, depois destes trocadilhos, as suas observações não me surpreendem. A leitura do texto presta-se a essa interpretação e à contrária. Procuro escrever com o máximo de isenção e apartidarismo. Gosto de analisar os problemas sem neles incluir a minha opinião. Esta não interessa a ninguém e as soluções não devem ser adoptadas para meu jeito,mas sim devem resultar de uma dedução lógica.
Abraço
Por muito menos "trapalhadas" o tio Sampas mandou o Santana ir dar uma curva. Mas por outro lado também era uma pena demitir este governo. Os gajos são uma fonte inesgotável de piadas!
Caro KK,
Realmente é como diz, todas as coisas têm um lado mau e outro menos mau(não poso dizer que seja bom!).
Abraço e bom fim-de-semana
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