domingo, 15 de julho de 2007

Guerra a pior forma de resolver conflitos

Como já aqui escrevi, a mais desejável forma de resolver conflitos internacionais é o diálogo, a negociação que, através de cedências de parte a parte, conduz ao restabelecimento da confiança e de relações de convivência pacífica. O recurso à guerra arrasta inconvenientes graves para vencedor e vencido, com a destruição de recursos materiais e perdas de vidas. E no fim das hostilidades armadas, é na mesa das conversações se consolida a paz, apetecendo perguntar porque não foi por essa mesa que se tentou de início resolver o diferendo. Duas notícias vêm agora reavivar este tema: da Coreia do Norte e da Rússia.

Coreia do Norte

Após três semanas de desenvolvimentos positivos, no âmbito das negociações entre Estados Unidos, Japão, Rússia, China e as duas Coreias, em torno da crise nuclear norte-coreana, foi conseguido o acordo de Fevereiro, em Pequim. Com ele, Pyongyang aceitou o princípio do desmantelamento do seu programa nuclear em troca de uma série de ajudas económicas e humanitárias e de garantias de segurança por parte dos EUA, além da devolução das verbas retidas durante a investigação a um banco de Macau, acusado de envolvimento no tráfico de divisas para a Coreia do Norte.

Com este avanço que estabeleceu um bom grau de confiança entre a partes em conflito, a Coreia do Norte recebeu ontem o primeiro de uma série de carregamentos de combustível acordados em troca do encerramento do reactor nuclear de Yongbyon, cujo fecho formal foi anunciado ao final do dia.

O subsecretário de Estado americano Christopher Hill, principal responsável dos EUA envolvido no dossier nuclear norte-coreano, classificou a desactivação do reactor como "um primeiro passo" na direcção certa. As 6200 toneladas que chegaram ao porto de Sonbong, no nordeste do país, representam apenas a primeira parte das 50 mil toneladas que Pyongyang receberá pelo fecho de Yongbyon. Quando concluir o desmantelamento do seu programa nuclear, Pyongyang receberá um milhão de toneladas de combustível.

Rússia

As negociações nem sempre são fáceis e isentas de tomadas de força, quer diplomáticas, quer económicas, quer apenas de propaganda, por forma a cada um dos intervenientes poder fazer valer os seus trunfos, o que tem de ser conduzido com muita perspicácia, porque o «bluff» mal conduzido pode ultrapassar o pondo de não retorno e o conflito armado torna-se inevitável. Estou convicto de que foi assim que começou a guerra no Iraque ainda em curso.

Numa decisão digna de uma pequena Guerra Fria, Vladimir Putin assinou um decreto que suspende a participação da Rússia no tratado sobre armas convencionais na Europa (CFE, na sigla inglesa), um dos mais importantes documentos da nova ordem mundial. Na prática, Moscovo deixa de fornecer informações sobre as suas forças e a recusar inspecções.

A decisão responde à expansão da NATO e segue-se a opções ocidentais que Moscovo contesta, sobretudo a iniciativa americana de construir um escudo anti-míssil na Europa de Leste e a instalação de bases militares na Roménia e Bulgária. Os países europeus criticaram o decreto presidencial, embora em tom prudente.

A atitude russa surge menos de duas semanas depois de Vladimir Putin ter visitado o presidente americano, na residência da família Bush. Na altura, apesar dos problemas entre as duas potências, a cimeira parecera bem sucedida. O que divide russos e americanos tem a ver com a segurança na Europa, sobretudo a questão do Kosovo, o escudo anti-míssil e a entrada na NATO de países que pertenceram à esfera soviética.

Para enquadrar estes aspectos, poderão ser lidos os seguintes textos aqui «linkados»:

14Nov06 - relações internacionais são interesseiras

29Nov06 - relações internacionais entre amor e medo

01Dez06 - Guerra de civilizações ou guerra de tradições?

02Jan07 - A Democratização nuclear é previsível

2 comentários:

Anónimo disse...

Um tema interessante.
Ou é responsabilidade, ou algo ardiloso.

OU...MEDO e DINHEIRO...

Quem não tem um e outro não se sujeita!

Mas isto é um pré-requisito para inglês ver.

Os mesmos ingleses que expulsaram diplomatas russos...

Abraço

A. João Soares disse...

O tema é importante e merece ser ponderado. Tem havido eficiência da diplomacia ao ponto de serem evitadas situações de guerra. Um caso pouco falado é o da Índia e do Paquistão, ambos com armas nucleares, por vezes muito à beira do disparo. Pouco tempo depois das grandes crises, há troca de visitas ao mais alto nível, para consolidar o bom entendimento.
Abraço