segunda-feira, 16 de julho de 2007

Lisboa com nova Câmara?

Embora me interesse pela vida do meu País, por tudo o que nele ocorre e pelo que se passa no mundo que possa, directa ou indirectamente, ter consequências na vida dos portugueses, verifica-se, por razões várias, que nunca fui sócio de nenhum clube nem filiado de qualquer partido político. A ausência de compromissos daí resultante e o gosto por esboçar análises, o mais possível, imparciais, livres e isentas, permite-me apontar o dedo a decisões, medidas e palavras, de qualquer responsável político que me pareçam discordantes dos interesses gerais da Nação, dos objectivos que traduzam desenvolvimento e melhoria das condições de vida dos cidadãos.

Quanto às eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, numa observação rápida de cidadão não residente no concelho, nada encontro de positivo, antes pelo contrário, fico abalado com o estado a que chegou a consciência da população em relação à má qualidade dos políticos, traduzida por uma abstenção de 62,6%. Para essa «grande maioria absoluta» da população, tanto faz a Câmara ser presidida por A ou B ou ... L (eram 12 candidatos), por serem «todos iguais». A abstenção dá que pensar e é possível que nela se reflictam também os efeitos da política governativa geral.

Quanto à elevada abstenção, é difícil uma palavra de avaliação, mas talvez ela signifique que o povo está esclarecido sobre o seu dever cívico de participar nas formalidades democráticas, ou, por outro lado, está bem acordado e alerta e queira mostrar aos políticos que não lhes dá aval para a continuação dos seus processos oligárquicos de concentrar benefícios nos membros do clã e seus próximos. Talvez os 62,6% possam ser classificados como uma revolução silenciosa espontânea, ainda por organizar, para a destituição do sistema vigente.

Outro ponto de reflexão. Que já não é novo, é a pouca importância os partidos políticos, do que resulta a grande quantidade de eleitores a preferirem privilegiar, com o seu voto, candidatos independentes, tal como aconteceu recentemente nos concelhos de Oeiras, Gondomar, Felgueiras e outros e, também, nas eleições presidenciais. As máquinas partidárias, com o seu autoritarismo e arrogância não têm conquistado as simpatias do povo. Porquê? Como remediar esta anomalia? Cabe aos políticos meditar serena e profundamente neste assunto.

Veremos se os lisboetas ganham com esta mudança antecipada. Muitas Câmaras, e a de Lisboa não tem sido excepção, gastam fortunas em obras de fachada que não são essenciais para a melhoria das condições de vida da população e, muitas vezes, são mesmo contraproducentes, como foi o caso do túnel do Marquês. Não me refiro a pormenores técnicos da sua construção, mas à ideia de o construir, facilitando o acesso de carros à cidade numa época em que é ecologicamente aconselhável evitar esse acesso para bem do ar que os habitantes respiram. Com os custos do túnel e de tantos parques de estacionamento na cidade, podiam e deviam ser construídos parques na periferia, com grande capacidade e segurança onde ficariam os carros não indispensáveis na cidade e de onde partiriam transportes públicos mais rápidos e eficientes, por encontrarem as ruas mais livres. Dessa forma, seriam poupados dinheiros municiais e seria tornado mais saudável viver e trabalhar em Lisboa.

Lisboa terá mesmo uma nova Câmara ou esta será igual às outras com os defeitos e vícios tradicionais? Haverá «centenas» de assessores nomeados por critério de «confiança política», ou terá apenas os necessários, escolhidos por concurso público e critério de competência técnica? E que medidas de controlo aplicará para evitar a corrupção generalizada?

4 comentários:

Anónimo disse...

Estou como o S. Tomé:
-VER PARA CRER...

Mas muito pessimista, embora António Costa me pareça um político que pratica a seriedade!

Gato escaldado...

Abraço

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Não há motivo para grande optimismo. A Câmara não é só o presidente. Há por lá, como em todas, vícios de corrupção muito enraizados, Veremos quanto vão gastar para substituir o assessores que por lá navegam. E qual ser´o número dos próximos boys?
Abaço

Meg disse...

Da maneira que "aquilo" está, só um bom prestidigitador é que conseguirá algum resultado...
Ou outro sismo... para começar tudo de novo.
Mas falta um Marquês de Pombal.
Um abraço

A. João Soares disse...

Cara Meg,
Sem esses milagres que refere, será precisa muita dedicação, competência e honestidade. Será necessário reduzir os assessores em proporção às tarefas a realizar, simplificar burocracias e combater a sério a corrupção. E, como tudo isso iria fazer perder os tachos a muitos amigos do poleiro, não há razões para optimismo e para grandes esperanças.
Felizmente, os meus netos são estrangeiros. Mas penso em todos os portugueses das gerações mais novas que aqui ficarão a sofrer muito, em consequência dos erros que hoje se fazem.
Abraço