segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Os partidos precisam de séria reforma

Manuel Maria Carrilho publica no Diário de Notícias de hoje o artigo A implosão partidária que promete ser o primeiro de uma série em que desenvolve o tema da modernização da democracia partidária, em consequência de uma situação que tem vindo a agravar-se e que apresenta características implosivas.


Refere a indiferença e a ausência de reacção à sua contínua degradação, bem confirmada nas intercalares de Lisboa.

«Da gigantesca abstenção até aos valores obtidos pelos "dissidentes", da desmotivação dos cidadãos até à fragmentação dos eleitos, tudo veio ajudar a empurrar o descrédito partidário para limiares que podem ser verdadeiramente implosivos». Os partidos estão profundamente esclerosados, sem verdadeira coerência ou consistência.

Os partidos «tornaram-se cada vez mais organizações de eleitos sobretudo preocupados com a eleição seguinte». O fenónemo dos chamados "independentes", na verdade apenas dissidentes de ocasião, pode na verdade ter consequências muito negativas para a vitalidade da democracia.

«É, pois, urgente agir para melhorar a nossa democracia, e só há uma via: a de requalificar os próprios partidos, fazendo deles organizações mais pluralistas, mais transparentes e mais informais. Em suma, mais atractivas para quem se queira dedicar (em exclusivo ou em paralelo com as suas carreiras profissionais) à vida pública.»

O que se vê nos Governos dos principais Países europeus «são quadros partidários, com qualidade e experiência, que dão garantia de competência nas (naturalmente sempre controversas) funções que ocupam. E, nestas circunstâncias, a sociedade civil, os independentes e os movimentos de cidadãos somam competitivamente ideias e debates, projectos e desafios aos partidos, sem pretender substituí-los.

A reconquista da credibilidade dos partidos e dos políticos passa hoje por uma porta estreita, que é a da coerência com que praticam aquilo que proclamam, devendo assumir o que receitam. Devem «Reformar-se, combatendo o conformismo e valorizando internamente a criatividade, a competitividade e a audácia, com um objectivo nuclear: o de aumentar tanto o seu enraizamento popular como a sua capacidade de atracção das elites.»

Desejo e espero que M. M. Carrilho dê ao mundo a obra que há vários anos é esperada e que está fazendo falta. Os políticos precisam de uma «cartilha» que lhes sirva de apoio, que lhes dê uma orientação credível, coerente e bem estruturada, para melhor poderem zelar pela felicidade dos povos. Houve vários teorizadores ao longo da História e precisamos de um actual. Platão criou o conceito de Democracia; Nicolas Maquiavel deixou os seus conselhos ao Príncipe para melhor manter e consolidar o seu poder autoritário nas diversas situações; Cardeal Richelieu ajudou o seu rei a conseguir o poder absoluto; Nas revoluções contemporâneas francesa e americana surgiram impulsos quer académicos quer da experiência, de Alexis de Toqueville, Madison, Thomas Jefferson, etc, tendo Alexander Hamilton celebrizado o conceito «reflexão e escolha»; Posteriormente Frederik Engels e Karl Max lançaram uma teoria que entusiasmou os jovens, mas que foi desvirtuada na sua concretização prática, embora os seus princípios, muito próximos do cristianismo, mantenham alguma validade; Nos tempos mais recentes, surgiu a teoria da terceira via, amplamente explicada por Anthony Giddens, que atraiu vários governantes há poucos anos. Também na América surgiram alguns pensadores, mas que pecaram por se terem limitado em torno de interesses pragmáticos do momento, como Francis Fukuyama, Samuel Huntington, etc.

Os políticos de hoje, com pouca preparação e apetência para o estudo, precisam «mandamentos » sintéticos e facilmente digeríveis. Este texto de Carrilho tem a virtude de estar escrito de forma clara, facilmente interpretado, em condições de ser compreendido pelo pessoal que respira o mesmo ar dos governantes. Por isso, há muito que esperar da sua mente esclarecida para a definição das políticas do futuro. É isso que lhe desejo para coerência e consistência da governação do País.
Seja o líder académico dos nossos políticos!

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Soares

Desculpe-me, mas a opinião de M. M. Carrilho não me interessa para nada. Esse senhor, para lá da pose de intelectual de uma esquerda sofisticada e pedante, nunca fez nada de jeito na vida. É mais um daqueles falhados que teve a desvergonha de escrever um livro a culpar os outros pelos seus desaires. Eu bem sei que está na moda. Spínola, Zita Seabra, Santana Lopes, e outros quejandos também o fizeram...

Claro que há a necessidade de, urgentemente, reformular a política em Portugal. Mas isso já só se consegue com uma verdadeira revolução. Não é com textos, decerto perfumados, de um antigo Ministro da Cultura.

Gisele Claudya disse...

Bem, meu amigo João, sabes que nada entendo de política...nem no meu país e menos ainda no país que eu amo que é Portugal. Mas diante de tantos problemas que vcs, portugueses falam, é claro que algo precisa ser mudado. E se der certo, por favor, passem adianta pros políticos brasileiros, tá?
Beijinhossss

A. João Soares disse...

Caro De Profundis,
Compreendo as suas palavras. Mas, nesta altura, não deixa de ter significado um indivíduo do partido do poder, emitir estas críticas. Quando à revolução necessária, não poderá ser pelas armas, por vários motivos: A Europa e a NATO não permitiriam; As Forças Aramadas não têm capacidade de organizar algo eficiente neste sentido; E se a pudessem fazer, não teria melhores resultados do que as já feitas no século XX.
Terá de ser uma revolução pelos cidadãos usando o civismo (que ainda não existe!). Se as próximas legislativas, tivessem uma abstenção superior a 90%, o resultado seria bem visível e obrigaria os políticos a rever todo os seus comportamentos, porque ficava provado que a soberania reside realmente no povo, que a sabe usar. Os políticos (as pressões internacionais) não gostariam de o poder ter sido escolhido apenas pelos membros da oligarquia e seus familiares e amigos!!!
Nesse sentido, talvez os textos do Carrilho possam ter utilidade, conforme o aproveitamento que os críticos dele fizerem. Poderá ser um bom arranque para uma discussão nacional sobre a governação do País.
Um abraço de muita amizade

A. João Soares disse...

Cara Amiga Gisele Claudya,
Obrigado pela visita e o comentário. Não se preocupe com isto. Não está assim tão mal. Está como vem sendo costume há muitos anos... talvez há séculos!
Não dizemos pior do que Eça de Queirós dizia!
Há poucos a falarem disto, mas poucos gostam de ler e muitos têm medo de alar e de comentar textos como estes.
Quem fala assim tem o interesse de tornar o País melhor, mais moderno, mais parecido com os mais evoluídos da Europa... uma é utopia, mas aliciante!!!
Beijinhos
João

Anónimo disse...

Caro AJS,

o indivíduo amigo do poder quer um tachinho como deram ao Joãozinho Cravinho...

Não há volta a dar, a não ser tornar este país num PAÍS a sério, onde a moralização e honra de ser funcionário público voltasse a ter lugar. Um lugar onde os valores gritassem mais alto que os euritos, ou o carrito BMW do serviço...Lembram-se dos carochas?Lembram-se dos Renaulr 4?Estes eram os carros mais comuns no estado.E hoje?

Um País onde as FA tivessem um lugar digno e compostas por pessoas dignas e verdadeiros militares.

O mesmo para as FS!

Enfim, um país de sonho?

Abraço
MR

A. João Soares disse...

Mesmo que o MMC queira um tacho, as ideias que apresenta, podem impulsionar uma reflexão das pessoas que não estão muito contentes com os sacrifícios que nos são impostos. De qualquer forma, há-de, forçosamente, ocorrer uma grande mudança no sistema. Não pode continuar assim. Queremos políticos que se preocupem em tornar o povo mais feliz e não explorá-lo ao máximo para benefício da oligarquia.
Um abraço

Anónimo disse...

Caro joão Soares

O M. M. Carrilho é um político mais queimado do que um indiano cremado. Tudo o que ele disser só pode ter efeitos contrários. Porque o que ele tem que fazer não é escrever, é desaparecer para dar o exemplo.
A revolução de que falo não é necessáriamente pela via das armas. Quanto a mim, passa mandar para férias no Tarrafal toda a classe política e todos quantos vivam a menos de 1 Km das suas casas, porque podem estar contaminados.

A. João Soares disse...

Caro De Profundis,
Esta sua sugestão deixa-nos preocupados. Temos de sondar se estamos no raio de acção da contaminação de alguém...
Um brincalhão, Sempre Jovem!!!
Abraço