Já são passados cerca de 40 anos sobre a primeira «Conversa em Família» de Marcello Caetano, em que este teve a frontalidade de mostrar conhecer os problemas que preocupavam os portugueses, fazendo nascer a esperança de lhes dar solução.
Era um assumir de responsabilidades que podia ser a cedência a uma tentação ingénua. Um ano ou mais depois, numa outra conversa – passaram a realizar-se regularmente – veio dizer quase «ipsis verbis» o mesmo que tinha dito na primeira. Era uma confissão de fracasso, de que nada tinha melhorado desde então, uma desilusão.
Recordei esses tempos devido às notícias de hoje de que Cavaco Silva, nas visitas natalícias que vem fazendo, na sequência da sua campanha de combate à exclusão, ouviu alertas sérios sobre " a crescente degradação das condições de muitas famílias". As culpas foram atribuídas ao desemprego e aos empregos cada vez mais precários, que levam a que "quem tem de deixar de trabalhar para acompanhar um filho doente se veja de repente a braços com falta de dinheiro até para pagar a renda da casa". Qualificou o desemprego como "um fenómeno preocupante" e deixou no ar a ideia de que o tenciona abordar mais tarde.
Também, na companhia de D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, contactou com sem-abrigos com problemas graves de toxicodependência e alcoolismo.
Exortou à esperança, realçando o papel insubstituível do voluntariado e da sociedade civil e estimulando os técnicos e dirigentes a um melhor aproveitamento das boas vontades existentes e apelando aos poderes Central e Local para que ajudem o mais possível as entidades privadas de solidariedade social prestadoras de cuidados que, muitas vezes, o Estado não fornece. Trata-se de um "compromisso cívico" que irá reafirmar nos próximos três anos, até ao fim do seu mandato.
Aproveitou mais um dia do seu roteiro para a inclusão apelando ao governo central e às autarquias locais para "na medida do possível" terem uma atitude generosa em relação às instituições de solidariedade social. Quis deixar uma palavra de estímulo directo aos muitos voluntários que, com grande generosidade, tentam alterar no quotidiano situações de grande exclusão social em muitas instituições espalhadas pelo país que trabalham com idosos, deficientes, crianças e em todos outros domínios". Mostrou vários casos de sucesso e deixou claro, uma vez mais, que o combate à exclusão social "não é só uma tarefa do governo", mas sim "de todos os portugueses sem qualquer excepção."
Esperamos que Cavaco Silva não desista deste seu propósito, embora o êxito não seja imediato, mas são indispensáveis gestos positivos em cada momento. E é muito interessante a ideia de realçar que Portugal não é obra apenas de governantes, mas de cada um, «de todos os portugueses sem qualquer excepção», dentro das suas possibilidades.
Algumas das notícias:
Cavaco mostra exclusão entre a dor e a esperança
Desemprego e exclusão social preocupam presidente
Presidente apela a atitude generosa dos poderes públicos
Natal (Escrito em 2006)
Há 1 hora
2 comentários:
Caro João Soares,
faço-lhe a vontade, vou comentar um "pouquinho" este post, pela sua importância!
O governo contratou uma conhecida agência de promoção de imagem para fazer neste fim de ano em tempo de antena na televisão, o elogio do primeiro-ministro e a sorte que nos coube por o termos aos desígnios da Nação...
O PR juntou-se em solidariedade às IPSS que, sendo algumas da igreja não merecem ser esquecidas por esse facto, bem pelo contrário, apelou ao "governo" que em parceria olhe com carinho estas instituições que cada vez estão mais cheias e não têem lugar para TODOS OS QUE PRECISAM e os procuram. Os cortes nas verbas e a falta de apoio a que se vêem remetidas estas instituições deveria obrigar quem as faz -o ogverno- a criar de novo os albergues e abrigos de outrora.
Mas este governo olha apenas o défice, há muito ultrapassado se o governo cumprisse com o pagamento das dívidas. Se em Setembro/Outubro o estado não deixasse para o outro ano o pagamento dos seus deveres!
Espero um discurso sensato do PR, mas também sei que dirá de sua justiça!
Abraço e FELIZ NATAL
Caro Mário Relvas,
Obrigado pelo seu comentário, que ajuda a compreender em maior amplitude e profundidade o tema. É bom o PR apontar o dedo para o problema e é imprescindível que o Governo resolva as situações que necessitam de solução urgente.
Infelizmente, os governantes apenas olham para o imediato e, quando levantam os olhos para ver mais longe, esbarram com as legislativas de 2009 que pretendem ganhar. Por isso, só vemos asneiras e a vida dos portugueses mais necessitados a piorar dia após dia.
Para propaganda, falsa publicidade, não falta dinheiro, mas para o essencial não aparece.
Eu tinha esperança que o País viesse em anos próximos a recuperar o rumo normal de País moderno, mas já perdi essas esperanças e, como vimos no noite do Porto, há no País quem seja capaz de colocar fora da corrida os piores cavalos, abatendo-os. Logo, podemos temer que a solução esteja nas mãos desses «seguranças» orientados por alguém que pretenda falar em nome de Portugal. Não esqueçamos que a primeira-ministra indiana Indira Gandhi foi assassinada em 31 de Outubro de 1984 por dois dos seus guardas pessoais. E também, a 6 de Outubro de 1981 quando assistia a um desfile militar, o Presidente egípcio Anuar Sadat foi morto num atentado organizado por militares.
Por cá, também nada disso é impossível, por mais confiança que os governantes depositem nos «boys» do partido.
Só que, por cá, a fruta está tão podre que seria necessário eliminar toda a dita «classe política».
Desejo-lhe um Feliz Natal e que o 2008 traga mais paz social e sensatez a quem dela necessita e que dela carece.
Abraço
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