Independentemente de ideologias, temos que concordar que Portugal tem vindo a ser mal governado e, para evitar um colapso dramático, é imperioso implementar mudanças estruturais no regime. Isto já não se resolve com mudanças de pessoas, ou de partidos, mas sim com um pacto de regime com um código de conduta assinado por todos os partidos em que fiquem bem claros princípios de comportamento dos governantes e das oposições.
Por exemplo, há que reduzir ao mínimo, em casos bem definidos, as nomeações por critérios de «confiança política», sem concurso público, destinadas apenas a favorecer os amigos do clã. Tais nomeações, não tendo em conta as competências, têm delapidado os dinheiros públicos e arrastado o País para uma crise crónica de difícil cura. O concurso público, com condições bem definidas, privilegia as competências e permite admitir os melhores cérebros do País, independentemente da família ou da terra de nascimento. O facto de poderem ser de partido diferente é superado por «contrato por tarefas», em que o admitido se compromete, por escrito, a realizar as tarefas fixadas segundo método pré-definido, com isenção e rigor, e em caso de infringir este compromisso, passa a poder ser demitido com justa causa. Em caso de a evolução do serviço tornar convenientes outras tarefas, o compromisso receberá um aditamento.
Há também que restabelecer a confiança do povo nos seus representantes, com base nas acções honestas destes, em benefício dos interesses nacionais, com preocupações de poupança de recursos e de aumento de eficácia.
Impõe-se uma drástica redução da quantidade de assessores bem como dos contratos para «estudos» feitos com amigos partidários que só têm a finalidade de enriquecer os «compadres». Gastam-se milhões de euros em «estudos» encomendados para justificar uma decisão tomada por palpite. E, para dar mais aspecto de razão encomendam-se outros pareceres com igual finalidade a outros compadres. Vantagem só há para a bolsa desses «especialistas» amigalhaços. E o contribuinte pagou os impostos e vê que nada melhora porque o dinheiro é desbaratado nestas «brincadeiras».
Nesse código deve também constar a preocupação de reduzir os custos de funcionamento da máquina administrativa, em instalações, equipamentos de escritório e de transporte, mordomias, etc.
Com um tal código de conduta, o regime tornar-se-á mais honesto e eficaz na busca dos mais altos objectivos nacionais e, logicamente, o País poderá começar a desenvolver-se de forma séria e sustentável.
Além desse pacto assinado por todos os partidos com assento na AR, os grandes investimentos que produzam efeitos para além da legislatura actual, devem merecer a aprovação da oposição, a fim de que, se houver mudança de partido no Governo, os projectos continuem a ser realizados.
Com este esquema devidamente aprofundado e honrado por todos, os políticos passarão a merecer a confiança dos eleitores e os esforços serão orientados para bem de Portugal e não teremos recursos esbanjados em benefício de políticos corruptos, à procura de «tachos dourados», de «reformas múltiplas e milionárias» e de «enriquecimento ilegítimo».
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
10 comentários:
Caro Amigo,
É lindo e correcto o seu desejo! Mas deixe que lhe diga o seguinte: a sua proposta corresponde à «militarização» da política. Militarização, tão-somente porque é desse modo que funciona o quartel, ou funcionava! As ordens eram dadas e cumpridas independentemente da muita ou pouca simpatia pelo executante e cumpridas na mesma medida em relação o comandante; a missão sobrepunha-se a tudo o mais.
Mas é lindo e correcto o seu desejo, contudo, foi por causa das mesmas razões que o edifício monárquico se desmoronou, caiu a 1.ª República e quase poderíamos acusar do mesmo mal o Estado Novo.
O compadrio é um defeito nacional. Os favores a amigos feitos com os dinheiros do Povo vêm de todos os tempos. Para mudar só um transplante total de local geográfico ou a disciplina do quartel... Mas por pouco tempo, pois a força deste Povo é tal que também subverte os militares.
Um abraço
Caro Alves de Fraga,
Obrigado por comentário tão lúcido, como é sempre de esperar de uma mente esclarecida.
Sem dúvida que a utopia não pode ter uma realização total e incondicional, mas poderá servir de um ligeiro toque no flanco para levar a besta a desviar a rota um pouco para o melhor lado, ou para afastar do lado mais perigoso, do precipício.
O transplante total ultrapassaria os limites do razoável, seria outra utopia. Haverá que procurar o meio termo, o ponto de equilíbrio que permita não cair para um ou outro dos lados do fio da navalha.
Nada nas sociedades é perfeito, nem as alterações se alcançam com rapidez.
Um abraço
João
Não sou apologista do fascismo. Sou apologista da reflexão e do livre pensamento. Deixo aqui estas frases do homem que foi eleito, recentemente, " O Grande Português", na RTP, para reflecção perante os dias de hoje. Quem o elegeu foi o povo de hoje. O mesmo que vive em democracia, que votou neste PS, e ouve falar mal dele há muitas décadas, mesmo debaixo da terra.
Cumprimentos
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«Não há nada mais inútil que discutir política com políticos».
«Devo à Providência a graça de ser pobre: sem bens que valham, por muito pouco estou preso à roda da fortuna, nem falta me fizeram nunca lugares rendosos, riquezas, ostentações. E para ganhar, na modéstia a que me habituei e em que posso viver, o pão de cada dia não tenho de enredar-me na trama dos negócios ou em comprometedoras solidariedades. Sou um homem independente. Nunca tive os olhos postos em clientelas políticas nem procurei formar partido que me apoiasse mas em paga do seu apoio me definisse a orientação e os limites da acção governativa. Nunca lisonjeei os homens ou as massas, diante de quem tantos se curvam no Mundo de hoje, em subserviências que são uma hipocrisia ou uma abjecção. Se lhes defendo tenazmente os interesses, se me ocupo das reivindicações dos humildes, é pelo mérito próprio e imposição da minha consciência de governante, não por ligações partidárias ou compromissos eleitorais que me estorvem. Sou, tanto quanto se pode ser, um homem livre. Jamais empreguei o insulto ou a agressão de modo que homens dignos se considerassem impossibilitados de colaborar. No exame dos tristes períodos que nos antecederam esforcei-me sempre por demonstrar como de pouco valiam as qualidades dos homens contra a força implacável dos erros que se viam obrigados a servir. E não é minha culpa se, passados vinte anos de uma experiência luminosa, eles próprios continuam a apresentar-se como inteiramente responsáveis do anterior descalabro, visto teimarem em proclamar a bondade dos princípios e a sua correcta aplicação à Nação Portuguesa. Fui humano». 7JANEIRO1949
Sr. M. Relvas,
Com o maior respeito pelas suas opiniões, deixe que possa aqui ficar a minha sobre António Salazar: foi o mais dissimulado dos Portugueses conhecidos do século XX; fazia assentar uma parte das suas afirmações em verdades indiscutíveis para, depois, dar largas à maior mentira que imaginar se possa. O exemplo do que acabo de dizer está na segunda transcrição que
faz e, como no seu longo consulado, o único político que admitiu existir em Portugal foi ele mesmo, prova-se que realmente era inútil discutir com Salazar... Fazia-se segundo ele entendia que era conveniente para o Povo e, ao contrário de ajudar a educar esse mesmo Povo, alienou-o. Alienou-o até ao ponto de dar origem ao dono deste blog desenvolver um raciocínio brilhante para evitar os defeitos herdados do século XIX e que Salazar não contrariou, mas, pelo contrário, favoreceu.
Acho que a minha opinião poderá valer tanto como a de qualquer outro cidadão, por isso, arrisco-a.
Cumprimento-o.
Caro João Soares
Era bom que assim pudesse ser. Mas é preciso ter em mente que a política NÃO É a arte de governar. É a arte de conquistar e manter o poder. Por isso, em política, a fidelidade é muitíssimo mais importante que a competência. Com a perigosa agravante de o funcionário competente poder avançar com ideias próprias...
Será necessário dizer mais?
Caro Fernando Vouga,
Gostaria de poder contrariá-lo, mas infelizmente tenho de lhe dar razão. Os políticos esquecem a «arte de governar» e praticam a arte de se governarem e aos amigos, usando de palavreado vazio de conteúdo com prestidigitação, para defenderem os interesses próprios e do partido, e denegrindo tudo qanto esteja fora do seu clã, da Nomenklatura. Quem fizer uma observação que lhes desagrade é considerado inimigo e inserido na lista negra.
A fidelidade, quando existe é ao chefe do grupo e não ao povo soberano que justifica a existência dos políticos.
Um abraço
A. João Soares
Caro Sr. cor Alves de Fraga,
começo por o saudar e agradecer o seu comentário. Essencialmente o que procurei trazer com esta transcrição do Dr. Salazar é a discussão. Salazar tinha defeitos como qualquer governante. Mas tinha coisas boas que ainda hoje marcam a actualidade.
Aqui na transcrição ele fala da subserviência do poder político aos partidos, e destes aos negócios pouco claros que os sustentam. Pergunto:o que acha desta opinião olhando a realidade actual? Acha que em democracia não existe uma ditadura dissimulada e controlada? Caro Sr. cor Alves de Fraga, saberá bem melhor que eu, que a arte de controlar as massas não é difícil quando se tem certos poderes e parceiros bem definidos.
Se o povo demorou décadas para dizer mal de Salazar, quando outrora o via como Deus e senhor, hoje o povinho demora, por vezes, várias décadas para ver as maroscas que alguns dinossauros da política lhes fazem. E basta olhar a justiça actual em Portugal para perguntar se isto é uma democracia real. A propósito, como vai o seu processo por delito de opinião?
Cumprimentos
Caro Senhor M. Relvas,
É certo que Salazar veio mostrar como os partidos se comportaram mal durante a 1.ª República, mas somente para justificar a sua extinção durante o seu consulado.
É certo que os partidos estão a comportar-se mal nesta nova República, mas isso, julgo eu, não nos autoriza a chamar a opinião de Salazar para justificar o ataque aos mesmos partidos; temos de os atacar, obrigando-os à entrada nos eixos, sem recurso à ditadura e ao ditador e isso passa, necessariamente, pela educação do Povo português que sempre esteve habituado a tudo receber do Poder sem grandes obrigações em troca. Em abono do que afirmo, julgo, em consciência, que se contariam pelos dedos de várias mãos os portugueses que face à oportunidade de receber um favor do Estado o recusariam por sentirem que estavam a defraudar os contribuintes... Isto é, acima de tudo, fruto da educação popular... e, também, da pelintrice em que nos habituámos a viver.
O meu processo foi arquivado, porque, realmente, não cometi nenhum delito de opinião. Disse verdades! E o Poder, habituado, ainda, aos tempos de Salazar, não gostou de as ler.
Os meus melhores cumprimentos
Caros amigos
Abordando o tema de Salazar, o discurso que M. Relvas transcreve mostra uma pessoa virada para si mesma, demasiado preocupada com a sua própria imagem. Não é um discurso de um homem de Estado. Não aponta caminhos, não define políticas, não motiva a Nação. Apenas justifica o seu estilo político com os erros do passado.
Não tendo apetência pelos bens materiais (o que não é defeito), acabou por se deixar aprisionar pelas teias do poder que construiu. E, para mantê-lo, a ele foi "subserviente" usando uma máquina coerciva e totalitária o que, no fundo, acabou por ser "uma hipocrisia ou uma abjecção" (as palavras entre aspas são do próprio Salazar).
Compreendo a preocupação de M. Relvas, pessoa que muito respeito. Compartilho mesmo dos seus temores. Porque os desvarios das nossas ineptas governações fazem-nos correr o risco de, dentro em breve, termos no poder algum candidato a novo Salazar. Se calhar, ele já lá está..
Caros senhores, companheiros de debate,
agradeço as vossas opiniões. Este pequeno extrato de discurso foi proferido em 1949, num contexto específico.
Caro Sr Alves de Fraga,
é altura de se poder falar livremente de Salazar ou de Cunhal, em Portugal. Estou-me nas tintas para ambos, pois não passam de cinzas. Odiados por uns, amados por outros, nem me aquecem nem me arrefecem. A história e a memória dos povos é mais importante. O homem passa mas a obra fica. E, acho uma falta de ética democrática, só se poder falar da esquerda e nunca da direita. Do Salazarismo nunca me queixei, tal como muitos outros.Era jovem? talvez. Privilegiado, eu? Não sei porque?! O meu avô materno até tinha na estante da sala de visitas as obras proibidas na altura -em Moçambique-. Do comunismo e da anarquia posso-me queixar, e muito.
Bem, nada disto é importante para o tema. Volto a perguntar: o que acham dos partidos democráticos que recebem apoios financeiros de empresas privadas? Ás claras ou às escuras, tanto faz.
É que eu não gosto de jogar à cabra-cega. Sou frontal e, por vezes até demais. Contudo não tenho medo. Sabem porquê? Porque sei!! Além disso também sei que morrerei, mais tarde ou mais cedo. Nada temo! E digo-vos que ainda ontem soube de duas coisas que me fizeram "rir" tanto... Uma tem a ver com uma "associação" da qual faço parte, e outra com uma "força de segurança" da qual fiz parte. Fico satisfeito pelo arquivo do seu processo. No entanto, já se diz para aí que isso não passou de uma manobra de diversão. O que este povo mal informado repete aí pelos cantos...
Caro Sr. Fernando Vouga,
Não acredito que esteja lá um ditador. Sabe bem que os interesses dos que na realidade mandam, estão bem direcionados e divididos. Aliás, seguem apenas a regra: dividir para reinar! E digo-lhe mais: ele que não se defenda...
O compadrio, a incompetência e os corruptos minam a sociedade que assobia para o lado. Ignorância? falta de educação? Falta de cidadania? Mas não estamos nós num país europeu, democrático? Livres do antigo regime há mais de três décadas?
Vamos até ao Circo de Roma?
Deixo-vos os meus cumprimentos e as minhas despedidas
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