Transcrição de artigo seguida de NOTA:
Quando nada se aprende com as crises
Jornal de Notícias. 110205. 00h09m. Por Joana Amorim
Chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) discutiram ontem o futuro do euro, acreditando que a Europa vai sair mais forte da crise da dívida soberana. O mesmo havia sido dito aquando da crise alimentar de 2008. E o resultado está à vista.
Tirando uma ou outra excepção, os estados-membros, Portugal incluído, nada fizeram para prevenir uma nova alta de preços. Como a que está actualmente em vigor - na passada quinta-feira ficámos a saber que o preço das matérias-primas alimentares estava ao nível mais alto dos últimos 20 anos. Num país que importa quase metade do que consome, como o caso de Portugal, soam as sirenes.
As causas são já conhecidas: uma forte pressão do lado da procura, nomeadamente de países emergentes como a China e a Índia; a alta do petróleo, que continua acima dos 100 dólares o barril; as alterações climáticas, como os recentes fenómenos de cheias; o denominado mercado das "commodities", que é como quem diz a acção dos especuladores financeiros, ao que acresce ainda a apreciação do euro; e, por último, a pressão da produção de etanol, nomeadamente nos EUA, no preço do milho.
E o que fazer, então, tendo em conta que as variáveis não estão nas nossas mãos? O titular da pasta da Agricultura entende que "é inviável" Portugal ter reservas alimentares estratégicas, mas várias vozes do sector dizem precisamente o contrário, dando o exemplo francês. Como o defende, aliás, o Programa Alimentar Mundial.
Sem reservas, ficaremos então à mercê da volatilidade dos mercados? Ou ficaremos à espera que a grande distribuição continue a assumir esse aumento, não o reflectindo no consumidor? Sejamos claros, se esta subida se prolongar no tempo vamos, todos, pagar mais caro pela comida que pomos na mesa.
Vamos apostar na constituição das ditas reservas estratégicas e/ou fomentar a produção nacional com vista a uma menor dependência do exterior? Depois do que se passou em 2008, em que se chegou, inclusive, a falar de racionamento, aconselha a prudência a que ponhamos mãos ao trabalho. Para que possamos todos sair mais fortes de mais esta crise.
NOTA: Mas nada de melhor se pode esperar! Os actuais políticos, não só os nossos, salvo eventuais excepções, não possuem preparação, nem moral, nem dedicação pelos interesses das populações para aprenderem e procurarem as melhores soluções. São regidos pela ambição da riqueza pessoal – todos, com eventuais excepções, acabam por ser incluídos nas listas dos mais ricos - e essa ganância coloca-os nas mãos dos poderosos da economia e das finanças que os manipulam à sua vontade e segundo o seu interesse, através de corrupção a que alguns chamam eufemísticamente de «robalos».
Não é por acaso que acontece o que está a passar-se no Norte de África e no Médio Oriente. «O povo é sereno» e muito paciente até atingir o ponto em que se vê obrigado a agir. E este agora parece ser o momento em que o despertador acorda os mais pacíficos. Estamos no patamar de grandes alterações na ordem social mundial.
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