segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Classe média em risco de «implosão»

Desde 1 de Setembro de 2010, com o post «Justiça Social???», foi aqui feito eco dos insistentes alertas surgidos na Comunicação Social, pela voz de pessoas cujo nível de pensamento é inquestionável, sobre o perigo do aumento escandaloso do fosso entre os mais ricos e os mais pobres, o qual foi agravado pela política de austeridade criada pelo «ultraliberal» actual ministro das Finanças e que afecta mais duramente os níveis sociais mais carentes e a classe média.

Surge agora a notícia Classe média está em risco de “implosão” que refere um estudo da autoria do sociólogo Elísio Estanque, a chegar às bancas esta semana, da qual extraímos algumas frases, podendo os interessados ler todo o texto clicando no seu título:

Os indícios técnicos da degradação social da classe média são visíveis a cada momento: "Todos os dias há algo de novo: o acordo de concertação social, o anúncio de uma nova vaga de excedentários na função pública, o abandono da universidade pelos estudantes, as novas vagas de desemprego, o aumento das taxas moderadoras, a desmontagem do Estado Social – está tudo a acontecer de uma forma extraordinariamente rápida e intensa"

A classe média está " fraca e ameaçada de ‘proletarização’" e «em escassas dezenas de anos passou de predominantemente rural a marcadamente urbana".

As consequências, "que hoje estão à vista", "foram agravadas, por um discurso político que, ao invés de ter um teor pedagógico e preventivo, instigou ao consumo e ao progressivo endividamento".

"A maior parte das famílias tem cinco ou mais créditos, sendo que os mais recentes são contraídos para fazer face aos antigos..."

O presidente da Caritas, Eugénio Fonseca, faz uma descrição do mundo em que se move diariamente e que lamenta: "As pessoas recusam-se a assumir a perda de status, aguentam muito para além do limite do razoável, procurando manter a aparência de um estilo de vida que já não são capazes de pagar. E quando finalmente nos procuram, a gravidade das situações é tal que ultrapassa, em muito, a nossa capacidade de intervenção".

"São professores, juristas, arquitectos, engenheiros", enumera Eugénio Fonseca. E não procuram apenas o que comer: "Pedem ajuda para pagar a renda, a água, a luz, as propinas dos filhos",

"Os poderes políticos deviam estar mais preocupados com a possível implosão deste grupo [classe média] do que com a sua eventual manifestação nas ruas".

Porém, noutros países, já está a desenvolver-se a sensibilidade para o fenómeno da injustiça social e da estratificação dramática entre uns tantos ricaços e uma maioria que tende para a pobreza e a escravidão. Em França o Presidente Nicolas Sarkozy anunciou a criação da taxa «Robin Hood», de 0,1% sobre as transacções financeiras. Na América, Bill Gates acha que não paga impostos suficientes, tal como outros ricaços têm declarado publicamente.

Também entre nós, já há, no próprio PSD, quem ache que a austeridade que nos oprime tolhe as hipóteses de desenvolvimento e que é preciso governar com as pessoas para as pessoas e não apenas com números interpretados sempre em benefício das maiores fortunas, como se vê na notícia Cavaquistas defendem saída de Vítor Gaspar do Governo.

Imagem de arquivo

5 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Para mim isto foi uma excelente notícia. Não fazia a mais pequena ideia de que ainda havia classe média...

Mentiroso disse...

A própria expressão «classe média» – e sobretudo o seu uso contínuo – confirmando que existem classes num país, basta para testemunhar a ausência de democracia, em que não existem classes.

A. João Soares disse...

Amigos Vouga e Mentiroso,

Sociedade de classes, faz lembrar as teorias de Karl Max de meados do séc XIX. Hoje as «democracias» são uma má imitação do regime das cidades gregas da Antiguidade. O único factor ainda existente é o voto livre e secreto, mas mesmo esse já há muito deixou de ser livre, pois as campanhas eleitorais com mil promessas falsas e a fidelização aos partidos (castradora da liberdade) tornaram a eleição numa rotina de resultados facilmente previsíveis.

Daí que, em vez de uma igualdade como queriam os revolucionários franceses de 1789, existe na actualidade uma espécie de feudalismo em que um punhado de detentores dos cordelinhos domina o resto da população mundial, subordinando-as aos seus caprichos de negócios.

Estamos num momento da história em que convém estar atento a cada sinal que chega, para não ficarmos surpreendidos, de boca aberta, com os acontecimentos que estão para aparecer. Os indícios estão todos a aparecer com coerência e lógica deixando já antever alguns aspectos da sociedade do futuro próximo.

Abraços
João

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Em linguagem corrente, quando se Fala de classes, quer-se dizer apenas estrato social. Como tal, aquilo a que chamei classe média, estrato cuja existencia contribui muito para a paz social, está a desaparecer, se é que o que ainda resta se pode chamar estrato social.

A. João Soares disse...

Caro Fernando Vouga,

A sua ideia era bem compreensível e é facilmente deduzida do texto da notícia Classe média está em risco de “implosão”.

Transcrevo um parágrafo da notícia:

"São professores, juristas, arquitectos, engenheiros", enumera Eugénio Fonseca. E não procuram apenas o que comer: "Pedem ajuda para pagar a renda, a água, a luz, as propinas dos filhos", completa Lino Maia. Deram origem a um novo conceito, o de pobreza envergonhada, e começaram há dois ou três anos a aparecer nos noticiários sob a designação de "novos pobres", falando sempre sob anonimato, com a voz distorcida, filmados ou fotografados de costas ou em contraluz. "Nesse aspecto, a situação piorou: hoje dificilmente se consegue que estas pessoas falem, mesmo nessas condições", diz Lino Maia. O que aconteceu? "As pessoas estão deprimidas", diagnostica o presidente da Caritas. Elísio Estanque hesita em falar de um grupo social "doente". Mas acaba por assumir a expressão, para designar "o estado de segmentos da população que em duas décadas alimentaram expectativas fortíssimas e legítimas de mobilidade social ascendente e que agora caem na pobreza, sem perspectivas de retornar, sequer, à posição anterior". "É doentia", considera, a forma "envergonhada, calada e silenciosa" como esta frustração está a ser vivida por aqueles que ao mesmo tempo "encenam uma normalidade que já não existe".

Este curto trecho mostra a gravidade em que se encontra o estrato social intermédio.

Um abraço
João