sábado, 7 de julho de 2012

Atenção aos sinais de desgaste social

A «saúde» de uma sociedade, não é fácil de avaliar por governos em que imperam os números do orçamento e do défice, porque a matemática usada pelos economistas não contém fórmulas sofisticadas para abranger os sentimentos das pessoas. Nem os ligados ao Direito desde uma cadeira de 10 valores há dezenas de anos até à licenciatura, mesmo que com o devido tempo de maturação, possuem tal matemática social.

Sem matemática, mas com uma observação curiosa, persistente e abrangente, poderão vislumbrar correlações entre diversos sinais ou indícios técnicos e esboçar hipóteses de previsão. Neste momento começam a ser visíveis sinais preocupantes. Vejamos alguns.

O Governo, para fazer face ao défice e à dívida acumulada e estando submetido a pressões exteriores autoritárias, arrancou com um ataque de austeridade muito duro, que atingiu mais fortemente os funcionários públicos e os reformados e pensionistas. Por exemplo, os cortes dos subsídios de férias e de Natal equivalem a um corte de 14,28% do salário anual. O aumento do IVA e de outros impostos e as reduções de benefícios sociais e na saúde, vieram juntar-se aos aumentos de preços de bens de consumo indispensáveis, diminuindo o poder de compra, de que resultou quebra do consumo, menor facturação do comércio e da restauração, menor produção das empresas, falências (crise afecta grande comércio e obrigou ao encerramento de 37 lojas), desemprego, menor massa fiscal e agravamento do défice orçamental e das carências das pessoas. Estas têm que limitar os cuidados de saúde e de alimentação, e já parece notório o aumento de óbitos. Dez mil famílias e empresas arrastadas para a falência no primeiro semestre.

Embora o PM continue com a sua persistência na austeridade em estilo «custe o que custar», e não se sentindo tentado pela solução que Hollande aplica em França, surgem na sua área ideológica opiniões que mostram que a convicção de que a austeridade não é solução para o prometido e desejado crescimento, antes pelo contrário. Vieram a público opiniões nesse sentido. Segundo Miguel Beleza, austeridade selectiva “não é muito fácil nem eficiente” segundo António Rebelo de Sousa, "Portugal seguiria caminho da Grécia" com mais austeridade, segundo Francisco Van Zeller, “não há margem para mais austeridade na nossa sociedade"; o próprio PR disse que não é fácil encontrar espaço para mais sacrifícios.

Estas e outras opiniões demonstram que a situação é difícil, mesmo grave, e são temíveis reacções populares desagradáveis e que poderão desencadear uma dramática quebra da desejável Paz interna. Os sinais estão a surgir como avisos, alertas, a tomar em consideração para eliminar as causas. Não deve deixar de ser dada atenção ao significado de notícias como estas: Cavaco foi apupado em Almourol, na Póvoa de Varzim e noutros locais; Passos foi vaiado em Braga e na Figueira da Foz; Álvaro foi assobiado e travado por manifestantes na Covilhã; Silva Martins foi recebido com assobios e gritos em Vila Real de Santo António. Começam a ser frequentes as visitas oficiais a toque de assobios.

E solução não pode ser a de permitir que as forças repressivas actuem no estilo da Líbia ou da Síria porque, além de estarmos numa situação geográfica diferente, somos uma sociedade com outras tradições e inserida na União Europeia. A crise impõe serenidade para a busca, em diálogo alargado, das melhores soluções que contribuam para o crescimento com justiça social, equidade dos sacrifícios para não colocar em risco a harmonia entre pessoas que podem deixar de ser o «povo de brandos costumes», tolerante e sofredor.

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