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quarta-feira, 26 de abril de 2017

OS IDEAIS DE ABRIL



Dos discursos dos oradores de todos os partidos na comemoração do 43º aniversário da revolução de Abril conclui-se que os ideais de então não foram completamente concretizados. É necessário e urgente tomar medidas, com reformas profundas para atingir tais objectivos:

- Criminalização do enriquecimento ilícito,
- Criação de uma sociedade inclusiva e justa,
- Tornar mais socialmente justa a distribuição da riqueza,
- Subordinar o poder económico ao poder político, isto é, aos interesses dos portugueses, em geral,
- Evitar a continuação da austeridade,
- Combate aos privilégios injustificados, ao compadrio, à corrupção, à opacidade, à economia subterrânea,
- Dar prioridade ao primado da pessoa, do seu pojecto de vida,
- Respeitar os direitos humanos e a protecção da vida,
- Praticar uma visão solidária da dignidade humana,
- Respeitar os direitos sociais e económicos da população e procurar solução para a pobre e o desemprego,
- Difundir os deveres sociais e ambientais,
- Recuperar direitos e salários e os deveres de cidadania,
- Defender o Caminho para um Mundo pacífico, dialogante, sem guerras.

Só faltou citar dois exemplos de governantes com iniciativas muito positivas, cujos actos merecem ser analisados para deles serem retiradas as convenientes lições:
Pepe (José) Mujica, ex-Presidente do Uruguai
John Magufuli (Bulldozer), Presidente da Tanzânia

Do segundo transcrevo o seguinte texto:

Magufuli, o Bulldozer! Presidente da Tanzânia
É o recém-eleito Presidente da Tanzânia e já ficou na memória das pessoas. Também conhecido por Bulldozer pelas mudanças radicais que implementou, John Magufuli tem 56 anos e assumiu a liderança do país a 5 de Novembro de 2015. Os cortes inacreditáveis desde que é Presidente da Tanzânia já fazem eco:
- Pela primeira vez em 54 anos, a Tanzânia não vai celebrar oficialmente o dia da Independência, 9 de Dezembro, porque Magufuli defende ser “vergonhoso” gastar rios de dinheiro nas celebrações quando “o nosso povo está a morrer de cólera” – nos últimos três meses morreram pelo menos 60 pessoas vítimas de cólera.
- Não há mais viagens para fora, as embaixadas deverão tratar dos assuntos no exterior. Se for necessário viajar, uma permissão especial deverá ser dada pelo Presidente ou pelo seu Chefe de Gabinete.
- Acabaram-se as viagens em 1ª classe e executiva– com excepção do Presidente, o Vice-Presidente e o Primeiro ministro.
- Acabaram-se os workshops e seminários em hotéis caros, quando há tantas salas de ministérios vazias.
- O Presidente Magufuli perguntou por que motivo os engenheiros recebem V8s (modelo de carro topo de gama) se as carrinhas são mais práticas para o seu trabalho.
- Acabaram-se os subsídios. Por que motivo são pagos subsídios se vocês recebem salários; aplicável também aos parlamentares.
- Todos os indivíduos ou empresas que tenham comprado empresas do Estado, que foram privatizadas, mas não fizeram nada com elas (passados 20 anos) ou as fazem recuperar imediatamente ou devem devolver ao governo.
- John Magufuli cortou o orçamento da inauguração do novo Parlamento de 100 mil dólares para 7 mil dólares.

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segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 DE ABRIL - REFLEXÃO

Completam-se hoje 42 anos sobre a data nacional mais importante dos últimos tempos. A sua importância não assenta apenas em factores positivos, mas principalmente em temas de reflexão que nos podem ajudar a compreender virtudes e defeitos humanos e concluir pela necessidade de uma mais adequada preparação de um futuro melhor estruturado e gerido.

Como a maior parte das revoluções, esta nasceu de um impulso que não assentou numa visão alargada e bem estruturada daquilo que se pretendia construir depois. O erro não foi original: a tão conhecida Revolução Francesa escolheu o lema liberdade, igualdade e fraternidade, sem ver que a liberdade e a igualdade não são compatíveis. Se numa formatura militar há igualdade de uniforme, não há liberdade de cada um estar vestido como mais deseja. E, quanto a fraternidade, ela tem sido apanágio de grandes filósofos como Cristo, mas não costuma ir muito mais longe na prática. O resultado foi o aparecimento da guilhotina contra a fraternidade e contra os que não seguiram a igualdade de pensamento, usando a liberdade.

Depois do golpe de 25 de Abril, veio o PREC, desorganizado, com a liberdade transformada em LIBERTINAGEM e o poder entregue a oportunistas com visões mal definidas e não explicadas, muitas vezes apontadas a pormenores de interesse pessoal, com desprezo pelos grandes objectivos nacionais que não tinham sido definidos. Esperava-se que estes e as grandes estratégias tomassem forma espontaneamente. Mas não surgiu a necessária convergência de patriotismo consensual que os definisse e às respectivas estratégias para os atingir. O homem de quem todos muito esperavam, mostrou ter ideias limitadas e pouco flexíveis baseadas fundamentalmente na sua vaidade pessoal, acabando por, ao fim de cinco meses, desistir da continuação do Portugal novo que ajudou a iniciar e indo tentar uma outra forma de lutar.

O poder foi entregue a pessoas ambiciosas por oportunidade de alimentar a sua vaidade, com ideias muito condicionadas mas sem um conhecimento adequado da vida nacional e da necessidade de dar uma estrutura conveniente ao País, quer internamente quer internacionalmente perante os parceiros que mais interessavam. A criação da própria Constituição pecou por uma imperfeita definição daquilo que se pretendia do País e da forma de o engrandecer e, em vez de linhas estratégicas de aplicação alargada, prendeu-se com pormenores muito condicionantes limitadores, para satisfazer às várias opiniões influentes.

Para dar um exemplo da impreparação daqueles que mais se evidenciaram no aproveitamento do poder. cito um artigo intitulado «Memória do 13 de Junho de 1974»

E para não me alongar, termino com o desejo de que estes 42 anos devem servir não para as habituais recriminações e tricas partidárias, mas para evitar cair em erros semelhantes e, pelo contrário, «pensar antes de decidir» as estruturas que permitirão colocar Portugal a par dos melhores Estados do Mundo em produção de riqueza e na sua distribuição socialmente mais moral e justa para que haja uma qualidade de vida tão boa quanto possível, com menores desigualdades, com maior fraternidade e com uma liberdade que respeite democraticamente os direitos dos outros.

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quarta-feira, 7 de maio de 2014

40 ANOS DEPOIS - COMEMORAR. Poema de Viçoso Caetano



40 anos depois !!!

Outra vez o 25 !
Fala-se em comemorar....

Mas comemorar o quê?

-A perda do Ultramar
a que então se chamou
Desc´lonização exemplar
E atirou com um milhão
P´ra uma vida de cão?

- A entrada na Europa
e desde então bancarrota?

- A perda da independência
e sequente adstringência
Por falta de competência
Discernimento e visão?

- A falta d´emprego e pão
e os cortes na pensão
Que a Troika paranoica
Nos impôs sem contrição?

Mas comemorar o quê?

- A falta d´honra e vergonha
Qu´agora é o que mais se vê?

Ah!, já sei: - a Liberdade
- Para a falta de respeito
De ordem e disciplina
Qu´em todo o lado germina!

- Contra os costumes e usos
Qu´escamoteiam desígnios Ainda mais abstrusos!
Prós divórcios e abortos E outro procedimentos Que são antinaturais
Como sejam os casamentos

Entre homossexuais!


Esta medida aliás,
Como sendo a mais capaz
E o melhor dos argumentos
Para haver mais nascimentos
Uns p´la frente...outros por trás...

DaÍ à cuadopção
Foi tempo de dizer zás,
Mas cuodopção com U
(U aberto como cú)
Eureka! A solução...

Sem falar no grande alcance
Qu´esta medida traria
Como a única "chance"
D´atrair investimento,
P´ra o desenvolvimento
Da nossa economia...
E p´ró fortalecimento
Do lar da democracia
- Que é o nosso Parlamento -.
Esse lar onde se albergam,
Todos os mais deputados,
Sempr´em constante labuta
E na maior "harmonia".

Alguns são tão esforçados,
Nessa "sublime" disputa,
Qu´hão-de ser sempre lembrados
Como uns bons FILHO DA LUTA.

E já me ia a esquecer...
Liberdade p´ra beber
A famosa coca cola,
Álcool puro e outras "coisas"
, Misturadas na pingola.
E porque não liberdade
P´ra enfrentar e bater
Aos professores na escola.

40 anos depois...

Quem redigir a minuta,
Com clareza e isenção
P´ra escrever o qu´ocorreu,
Chegará à conclusão De que PORTUGAL MORREU.

E a certeza absoluta
De que foi ludibriado
P´ra depois ser assaltado
Por uma ralé corrupta.

Viçoso Caetano
O Poeta de Fornos de Algodres

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segunda-feira, 22 de abril de 2013

25 DE ABRIL E O FUTURO


Estamos próximos daquele dia de primavera em que as ruas se encheram de cravos a festejar uma mudança na vida nacional, 25 de Abril. Porém, os resultados não foram os mais desejados por não terem sido acautelados todos os pormenores de um necessário planeamento para o «depois».

O PREC (processo revolucionário em curso) deu à palavra liberdade o significado de libertinagem e foi esquecido que a nossa liberdade só existe quando respeitamos a dos outros. E isso teve como efeito que o PREC se tem prolongado, com a designação de PRAEC (processo revolucionário ainda em curso).

A bagunça que se sucedeu e se foi agravando ao ponto de, ainda hoje, a dívida pública aumenta 131 milhões de euros por mês.

À confusão em que temos vivido aplica-se a quadra do popular poeta algarvio António Aleixo:

Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será uma ciência.


Agora, levantam-se vozes e anunciam-se projectos, como o incentivo à reflexão apresentado pela Associação 25 de Abril que quer “vencer o medo e construir o futuro”. Realmente, deve ser pensado o futuro das pessoas, vivas e vindouras, pois os estragos produzidos por más políticas vão ser sentidos por vários anos. Trata-se de atitudes individuais mas que terão de ser sincretizadas e orientadas para um grande objectivo comum – o crescimento de Portugal». Para isso serefectivo, tem que haver patriotismo, sentido de Estado e sentido de responsabilidade servido por indomável coragem.

E aqui cito mais uma quadra de um conhecido poeta algarvio, o contemporâneo José Rolita Correia Caniné:

Ergue-te Homem, pede a Lua,
Com Alma grande, com Fé;
Nem sempre ela será tua,
Mas, de rastos, nunca é!


Imagem de arquivo

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terça-feira, 24 de abril de 2012

«Heróis de Abril» arrependidos ???

É difícil de compreender que:

- Associação 25 de Abril sai pela primeira vez das comemorações da revolução
- Soares não vai à sessão oficial do 25 de Abril
- Manuel Alegre ausente da sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República

Um feriado, uma data festejada, serve para comemorar um momento brilhante da história de um País.
Porque será que os «heróis» do 25 de Abril não querem comemorar o acto que protagonizaram? Já se arrependeram ???

Imagem de arquivo

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Antes e depois de Abril vistos agora

Transcrição de texto recebido por e-mail; por se tratar de uma visão polémica, esperam-se comentários variados, de qualquer cor, que permitam esclarecer de forma isenta, imparcial, serena e construtiva as questões ainda duvidosas.

34 ANOS DEPOIS...

Exmo Senhor Professor,

Sou obrigado a escrever-lhe, nesta data, depois de ter escutado, com toda a atenção, a aula de História, que nos deu sobre a Revolução de Abril de 1974.

Li todos os apontamentos que tirei na aula e os textos de apoio que me entregou para me preparar para o teste, que o Senhor Professor irá apresentar-nos, na próxima semana, sobre a Revolução dos Cravos.

Disse o Senhor Professor que a Revolução derrubou a ditadura salazarista e veio a permitir o final da Guerra Colonial, com a conquista da Liberdade do Povo Português o dos Povos dos territórios que nós dominávamos e que constituíam o nosso Império.

Afirmou ainda que passámos a viver em Democracia e que iniciámos uma nova política de Desenvolvimento, baseada na economia de mercado.

Informou-nos também que a Censura sobre os órgãos de Comunicação Social terminara e que a PIDE/DGS, a Polícia Política do Estado Fascista acabara, dando a possibilidade aos Portugueses de terem liberdade de expressão, opinião e pensamento. Hoje, todos eles podem exprimir as suas opiniões nos jornais, rádio, televisão, cinema e teatro, sem receio de serem presos.

Disse igualmente que Portugal era um país isolado no contexto internacional e que agora fazemos parte da União Europeia e temos grande prestígio no mundo. Que somos dos poucos países da União a cumprir, na íntegra, os cinco critérios de convergência nominal do Tratado de Maastricht para fazermos parte do pelotão da frente com vista ao Euro.

Li os textos de apoio do Professor Fernando Rosas, onde me informam que os Capitães de Abril são considerados heróis nacionais, como nunca houvera antes na nossa história, e que eles são os responsáveis por toda a modernidade do nosso país, pois se não tivesse acontecido a memorável Revolução, estaríamos na cauda da Europa e viveríamos em grande atraso, em relação aos outros países, e num total obscurantismo.

Tinha já tudo bem compreendido e decorado, quando pedi ao meu pai que lesse os apontamentos e os textos para me fazer perguntas sobre a tal Revolução, com vista à minha preparação para o teste, pois eu não assisti ao acontecimento histórico, por não ter ainda nascido, uma vez que, como sabe, tenho apenas dezasseis anos de idade.

Com o pedido que fiz ao meu pai, começaram os meus problemas pois ele ficou orrorizado com o que o Senhor Professor me ensinou e chamou-lhe até mentiroso porque conseguira falsificar a História de Portugal. Ele disse-me que assistira à Revolução dos Cravos dos Capitães de Abril e que vira com «os olhos que a terra há-de comer» o que acontecera e as suas consequências.

Disse-me que os Capitães foram os maiores traidores que a nossa História conhecera, porque entregaram aos comunistas todo o nosso império, enganando os Portugueses e os naturais dos territórios, que nos pertenciam por direito histórico. Que a Guerra no Ultramar envolvera toda a sua geração e que nela sobressaíra a valentia dum povo em armas, a defender a herança dos nossos maiores.

Que já não existia ditadura salazarista, porque Salazar já tinha morrido na altura e que vigorava a Primavera Marcelista que, paulatinamente, estava a colocar Portugal na vanguarda da Europa. Que hoje o nosso país, conjuntamente com a Grécia, são os países mais atrasados da Comunidade Europeia.

Que Portugal já desfrutava de muitas liberdades ao tempo do Professor Marcelo Caetano, que caminhávamos para a Democracia sem sobressaltos, que os jovens, como eu, tinham empregos assegurados, quando terminavam os estudos, que não se drogavam, que não frequentavam antros de deboche a que chamam discotecas, nem viviam na promiscuidade sexual, que hoje lhes embotam os sentidos.

Disse-me também que ele sabia o que era Deus, a Pátria e a Família e que eu sou um ignorante nessas matérias. Aliás, eu nem sabia que a minha Pátria era Portugal, pois o Senhor Professor ensinou-me que a minha Pátria era a Europa.

O meu pai disse-me que os governantes de outrora não eram corruptos e que após o 25 de Abril nunca se viu tanta corrupção como actualmente. Também me disse que a criminalidade aumentara assustadoramente em Portugal e que já há verdadeiras máfias a operar, vivendo à custa da miséria dos jovens drogados e da prostituição, resultado do abandono dos filhos de pais divorciados e dum lamentável atraso cultural, em virtude de um Sistema Educativo, que é a nossa maior vergonha, desde há mais vinte anos.

Eu fiquei de boca aberta, quando o meu pai me disse que a Censura continuava na ordem do dia, porque ele manda artigos para alguns jornais e não são publicados, visto que ele diz as verdades, que são escamoteadas ao Povo Português, e isso não interessa a certos órgãos de Comunicação Social ao serviço de interesses obscuros.

O meu pai diz que o nosso país é hoje uma colónia de Bruxelas, que nos dá esmolas para nós conseguirmos sobreviver, pois os tais Capitães de Abril reduziram Portugal a uma «pobreza franciscana» e que o nosso país já não nos pertence e que perdemos a nossa independência.

Perguntei-lhe se ele já ouvira falar de Mário Soares, Almeida Santos, Rosa Coutinho, Melo Antunes, Álvaro Cunhal, Vítor Alves, Vítor Crespo, Lemos Pires, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Pezarat Correia... Não pude acrescentar mais nomes, que fixara com enorme sacrifício e trabalho de memória, porque o meu pai começou a vomitar só de me ouvir pronunciar estes nomes.

Quando se sentiu melhor, disse-me que nunca mais lhe falasse em tais «sacanas de gajos», mas que decorasse antes os nomes de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, D. João II, D. Manuel I, Bartolomeu Dias, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro, Camões, Norton de Matos, porque os outros não eram dignos de ser Portugueses, mas estes eram as grandes e respeitáveis figuras da nossa História.

Naturalmente que fiquei admirado, porque o Senhor Professor nunca me falara nestas personagens tão importantes e apenas me citara os nomes que constam dos textos do Professor Fernando Rosas.

Senhor Professor, dada a circunstância do meu pai ter visto, ouvido, sentido e lido a Revolução de Abril, estou completamente baralhado, com o que o Senhor me ensinou e com a leitura dos textos de apoio. Eu julgo que o meu pai é que tem razão e, por isso, no próximo teste, vou seguir os conselhos dele.

Não foi o Senhor Professor que disse que a Revolução nos deu a liberdade de opinião? Certamente terei uma nota negativa, mas o meu pai nunca me mentiu e eu continuo a acreditar nele.

Como ele, também eu vou pôr uma gravata preta no dia 25 de abril, em sinal de luto pelos milhares de mortos havidos no nosso Império, provocados pela Revolução dos Espinhos, perdão, dos Cravos.

O Senhor disse-me que esta Revolução não vertera uma gota de sangue e agora vim a saber que militantes negros que serviram o exército português, durante a guerra, que o Senhor chamou colonial, foram abandonados e depois fuzilados pelos comunistas a quem foram entregues as nossas terras.

Desculpe-me, Senhor Professor, mas o meu pai disse-me que o Senhor era cego de um olho, que só sabia ler a História de Portugal com o olho esquerdo. Se o Senhor tivesse os dois olhos não me ensinaria tantas asneiras, mas que o desculpava porque o Senhor era um jovem e certamente só lera o que o Professor Fernando Rosas escrevera.

A minha carta já vai longa, mas eu usei de toda a honestidade e espero que o Senhor Professor consiga igualmente ser honesto para comigo, no próximo teste, quando o avaliar.

Com os meus respeitosos cumprimentos

O seu aluno

P.S.:Todos os anos, nesta data, se fala em comemorações em todo o país,
mas eu pergunto: COMEMORAR O QUÊ????

Imagem da Net

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

25 de Abril, por Aventino Teixeira

0 texto "O 25 de Abril" foi escrito há nove anos e esteve acessível na internet durante cerca de um ano. Republico-o agora, nas vésperas de mais um aniversário da data, porque o entendo, não só ainda actual, como confirmado pela pertinaz ausência de qualquer réplica à tese. Será caso para dizer, parafraseando Garcia Marquez: " Ninguém escreve ao coronel!" O que não faz mal nenhum porque os coronéis não ditam a história!

25 de Abril de 2004

O 25 de Abril

1 - O 25 DE ABRIL DE 1974 E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO, TAMBÉM CHAMADO DE "REVOLUÇÃO DOS CRAVOS"

1.1- É o falhanço do golpe de Estado Militar de 25 de Abril de 1974 que está na origem daquilo a que se convencionou chamar de Revolução dos Cravos ou Revolução de ABRIL. Esta opinião que perfilho desde aquele dia, hoje data histórica, tornou-se já uma asserção pacificamente aceite pelos mais destacados protagonistas militares do evento (Melo Antunes, por exemplo) e também por alguns historiadores isentos, no sentido de não enfeudados a certos interesses político-partidários.

1.2 - Quando falo de golpe de Estado militar falhado – e adiante direi o porquê do falhanço – ocorre-me o recurso à expressão de Raymond Aron quanta à necessidade de "um golpe de Estado legal" para a passagem da IV a V Republica francesa. Efectivamente e para além da génese particular de natureza reivindicativa /corporativa dos capitães das armas da Infantaria, Cavalaria e Artilharia, para além da aguda consciência política de alguns desses militares e de um ou outro oficial superior, quanto à injustiça e inutilidade da guerra colonial, para além das condições objectivas externas (a nova atitude das então super potências quanto ao colonialismo e a posição da Igreja simbolizada pelo Papa Paulo VI ao receber, em 1970, os três líderes dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné, bem como a posição da mesma Igreja na denúncia da prisão em campos de concentração de padres africanos, entre eles J. Pinto de Andrade. Para além de condições, também objectivas, na ordem interna, (eleições de 1969, incidentes na Capela do Rato e o acento tónico na guerra colonial posta em todas as acções das lutas académicas), para além disso tudo ou quiçá por isso mesmo, o movimento dos capitães foi-se transformando em enorme "buzinão" de que muito boa gente quis aproveitar-se para fins políticos muito claros. Uns (onde me incluía - e a Pide/DGS assim o afirmava na ficha respectiva), para derrubar o regime; outros (onde se incluíam quadros superiores da policia política e, necessariamente, Marcelo Caetano), para inflexão do sistema, em ordem a uma certa abertura democrática e de descolonização não radical; outros, ainda, para a manutenção teimosa do status quo, como será (?) o caso da tentativa de Kaúlza de Arriaga de também "buzinar". Tentativa aliás abortada nos fins de 1973.
Eu próprio, participante que fui das reuniões ditas conspirativas e da discussão do documento que veio a ser chamado de «Programa do MFA» acabei aconselhado a afastar-me (o capitão Mariz Fernandes pediu-me o afastamento porque a Pide não via com bons olhos a minha "colaboração com o movimento"). Esta posição dos "Altos Comandos" foi-me mais tarde confirmada por Vasco Lourenço.
Quando – numa reunião onde estavam presentes Vítor Alves, Vasco Lourenço, Otelo, Hugo dos Santos e outros – perguntei porque estavam metidos no movimento os Generais Costa Gomes e Spínola foi-me respondido que, sem os generais, o "povo não acreditava em nós"!
- Então chamem-lhe o movimento dos generais! - exclamei.
Não entrei portanto, e por razões que me são exteriores, nas operações militares. Só soube da data do golpe no próprio dia.
De resto, o mesmo aconteceu, já quase em cima da hora, a Vasco Lourenço e Melo Antunes, ambos enviados compulsivamente para as Ilhas (pelo menos o Vasco Lourenço). Em consequência, o papel destes dois destacados militares assumiu contornos bem mais perigosos que os meus, honra lhes seja!...

1.3-0 Golpe de Estado militar tinha sido desferido.

Por que falhou?
Muito simplesmente porque a população, aquilo a que hoje se chama a sociedade civil, "aquilo" a que sempre historicamente se chamou Povo, saiu para a rua, desobedecendo aos continuados apelos dos "revoltosos" sedeados no quartel da Pontinha, para que ficasse em casa.
E foi por isso que Marcelo teve de ir para a Madeira e depois para o Brasil. E foi por isso que se fez a Lei 7/74 de 27 de Julho, em que se reconhecia, pela primeira vez, o direito a autodeterminação e independência dos povos das colónias, o que, obviamente, não constava do programa.

2 - O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO EM SI

2. l – A chamada Revolução dos Cravos teve início nesse mesmo dia 25 de Abril de 1974. No fundo, ninguém estava preparado para ela.
É historicamente falso que alguém tenha fomentado organizadamente o que quer que fosse.
Ao contrário da Revolução de 1383/85, em 25 de Abril não houve um Álvaro de Pais, embora houvesse vários Mestres de Avis e alguns candidatos a Condestável.

2.2 - Em 25 de Abril os "camionistas", os utentes deste país, principalmente em Lisboa e no Porto, reclamaram os seus direitos de cidadania, o seu direito "à participação referendaria" e foram sendo gradualmente submetidos e orientados por essas duas grandes forças da "razão": as armas e a "Organização".
O chamado poder político-militar passou por sucessivas metamorfoses.
Da Junta de Salvação Nacional para o Conselho dos Vinte, deste para a Troika, desta para o Conselho da Revolução. Sempre com uma Assembleia do Movimento das Forças Armadas "AMFA", uma espécie de parlamento em duas fases: numa primeira, constituída apenas por oficiais do Quadro Permanente (eleitos e por inerência); na segunda, já como Órgão de Soberania (nomeada na noite de 11 para 12 de Março, na sequência do célebre golpe conhecido por 11 de Março) onde já cabiam oficiais milicianos, sargentos, soldados e marinheiros.
Todos estes órgãos iam reflectindo as pulsões políticas dos partidos e movimentos que melhor conseguiam organizar as pessoas nas ruas, nos locais de trabalho, nos quartéis, nos bairros de residência.
Depois foi o que se sabe: a politização apressada dos que tinham as armas (havia militares que pensavam que Marx era russo!...), a sua arregimentação pelos já referidos partidos e movimentos políticos, a sucessão de golpes e contra-golpes, o Gonçalvismo, essa assustadora trombeta de reagrupamento da desmantelada extrema-direita que deu em bombista e até de aprendizagem e massificarão da ideologia correspondente, enfim a série de disparates que se conhece.
Disparates onde houve ingenuidade e maniqueísmo, justiças pequenas e grandes injustiças, egoísmos e cobardias, perplexidade e contenção, ódios e divisões. Mas, sobretudo, de que resultou um caminho aberto e irreversível para uma maior liberdade do indivíduo.
Apenas haverá que vigiar e pressionar os responsáveis políticos pelo desenvolvimento para que a pobreza e discriminação entre as nações não nos assole. Então, a Revolução, acidental, terá valido a pena. A democracia será uma realidade.
Mesmo que seja a única possível e, pelos vistos, a única desejável: a representativa.

3 - A APROPRIAÇÃO DO 25 DE ABRIL

3.1 - Ao longo destes 21 anos – tanto os que nos separam do 25 de Abril de 1974 – as comemorações da efeméride têm assumido tantas matrizes, tão diversas formas, que ninguém, minimamente atento, pode deixar de relacionar cada uma delas com a situação político-partidária global existente em cada momento comemorativo e com a apetência para a sua apropriação, quer a nível de protagonismo individual, quer a nível de grupo.
Houve mesmo um ano em que numa manifestação/celebração de rua, nitidamente organizada por um certo partido, um dado Almirante, aliás organizador individualizado, impediu que Otelo integrasse a primeira fila da Manif. ao lado dele próprio, do Vasco Lourenço e do Dr. Eduardo Lourenço.
E isto muito antes de Otelo ter sido acusado (justa ou injustamente, não monta para o caso) de pertencer às FP-25 de Abril.
O pobre do homem que queria ser actor, que foi general de aviário e que era o símbolo do cravo, ficou sem ele e foi parar à nona fila, de lágrimas nos olhos!...
O quartel da Pontinha, local emblemático do Comando Operacional do 25 de Abril dir-se-ia hoje em dia ocupado pelo mais "talentoso e opulento" homem de Abril, agora, segundo consta, bem encaminhado para uma brilhante carreira de deputado, ao lado de Marques Júnior e Mário Tomé.
Refiro-me a Vasco Lourenço.

3.2 - O 25 de Abril não pode ser apropriado, nem por individualidades nem por grupos de individualidades, por mais que, no antes, as individualidades e o seu agrupamento tenham tido protagonismo para o derrube do regime.
Os capitães de Abril são individualidades naquele presente, mas isso mesmo e só isso. Isto é, não são, como aliás também o não são os anteriores eventuais protagonistas, os donos, proprietários do 25 de Abril enquanto revolução.

3.3 - Segundo Kenneth Maxwel, director do centro Camões da Universidade da Columbia, "A Revolução (eu diria a componente militar da revolução) foi surpreendente, quanto ao seu poder psicológico mas limitada em termos da capacidade para reordenar a sociedade".
E tinha razão!...
Ou não será que é, na reordenação da sociedade, no seu sentido progressista, no sentido de uma maior justiça social, mais liberdade, mais afirmação de cidadania e mais desenvolvimento económico que está a verdadeira revolução?
Esse desiderato compete, como sempre historicamente competiu, ao povo, actualmente através do seu voto e da sua indómita e persistente vontade de preservar as instituições democráticas, melhorando e aprofundando o seu funcionamento.

25 de Abril de 1995

Aventino Teixeira
(16.07.1932 – 10.04.2009)

Recebido hoje por e-mail de Joaquim Evónio

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domingo, 11 de maio de 2008

25 de Abril. Antes e depois

Dentro do objectivo de este espaço ser apartidário e aberto a todas as ideias, procurando estimular as reflexões mais abrangentes a fim de analisar os fenómenos por todos os lados, com isenção e desapaixonadamente, transporto para aqui este texto recebido por e-mail do amigo LSC. Trata-se de uma carta de um rapaz ao deu professor de história. Espero que possa despertar um debate de ideias orientadas para um maior esclarecimento dos casos citados, sem paixões, facciosismos, ou radicalismos.

34 anos depois...

Exmo Senhor Professor,

Sou obrigado a escrever-lhe, nesta data, depois de ter escutado, com toda a atenção, a aula de História, que nos deu sobre a Revolução de Abril de 1974.

Li todos os apontamentos que tirei na aula e os textos de apoio que me entregou para me preparar para o teste, que o Senhor Professor irá apresentar-nos, na próxima semana, sobre a Revolução dos Cravos.

Disse o Senhor Professor que a Revolução derrubou a ditadura salazarista e veio a permitir o final da Guerra Colonial, com a conquista da Liberdade do Povo Português o dos Povos dos territórios que nós dominávamos e que constituíam o nosso Império.

Afirmou ainda que passámos a viver em Democracia e que iniciámos uma nova política de Desenvolvimento, baseada na economia de mercado.

Informou-nos também que a Censura sobre os órgãos de Comunicação Social terminara e que a PIDE/DGS, a Polícia Política do Estado Fascista acabara, dando a possibilidade aos Portugueses de terem liberdade de expressão, opinião e pensamento. Hoje, todos eles podem exprimir as suas opiniões nos jornais, rádio, televisão, cinema e teatro, sem receio de serem presos.

Disse igualmente que Portugal era um país isolado no contexto internacional e que agora fazemos parte da União Europeia e temos grande prestígio no mundo. Que somos dos poucos países da União a cumprir, na íntegra, os cinco critérios de convergência nominal do Tratado de Maastricht para fazermos parte do pelotão da frente com vista ao Euro.

Li os textos de apoio do Professor Fernando Rosas, onde me informam que os Capitães de Abril são considerados heróis nacionais, como nunca houvera antes na nossa história, e que eles são os responsáveis por toda a modernidade do nosso país, pois se não tivesse acontecido a memorável Revolução, estaríamos na cauda da Europa e viveríamos em grande atraso, em relação aos outros países, e num total obscurantismo.

Tinha já tudo bem compreendido e decorado, quando pedi ao meu pai que lesse os apontamentos e os textos para me fazer perguntas sobre a tal Revolução, com vista à minha preparação para o teste, pois eu não assisti ao acontecimento histórico, por não ter ainda nascido, uma vez que, como sabe, tenho apenas dezasseis anos de idade.

Com o pedido que fiz ao meu pai, começaram os meus problemas pois ele ficou horrorizado com o que o Senhor Professor me ensinou e chamou-lhe até mentiroso porque conseguira falsificar a História de Portugal. Ele disse-me que assistira à Revolução dos Cravos dos Capitães de Abril e que vira com «os olhos que a terra há-de comer» o que acontecera e as suas consequências.

Disse-me que os Capitães foram os maiores traidores que a nossa História conhecera, porque entregaram aos comunistas todo o nosso império, enganando os Portugueses e os naturais dos territórios, que nos pertenciam por direito histórico. Que a Guerra no Ultramar envolvera toda a sua geração e que nela sobressaíra a valentia dum povo em armas, a defender a herança dos nossos maiores.

Que já não existia ditadura salazarista, porque Salazar já tinha morrido na altura e que vigorava a Primavera Marcelista que, paulatinamente, estava a colocar Portugal na vanguarda da Europa. Que hoje o nosso país, conjuntamente com a Grécia, são os países mais atrasados da Comunidade Europeia.

Que Portugal já desfrutava de muitas liberdades ao tempo do Professor Marcelo Caetano, que caminhávamos para a Democracia sem sobressaltos, que os jovens, como eu, tinham empregos assegurados, quando terminavam os estudos, que não se drogavam, que não frequentavam antros de deboche a que chamam discotecas, nem viviam na promiscuidade sexual, que hoje lhes embotam os sentidos.

Disse-me também que ele sabia o que era Deus, a Pátria e a Família e que eu sou um ignorante nessas matérias. Aliás, eu nem sabia que a minha Pátria era Portugal, pois o Senhor Professor ensinou-me que a minha Pátria era a Europa.

O meu pai disse-me que os governantes de outrora não eram corruptos e que após o 25 de Abril nunca se viu tanta corrupção como actualmente.

Também me disse que a criminalidade aumentara assustadoramente em Portugal e que já há verdadeiras máfias a operar, vivendo à custa da miséria dos jovens drogados e da prostituição, resultado do abandono dos filhos de pais divorciados e dum lamentável atraso cultural, em
virtude de um Sistema Educativo, que é a nossa maior vergonha, desde há mais vinte anos.

Eu fiquei de boca aberta, quando o meu pai me disse que a Censura continuava na ordem do dia, porque ele manda artigos para alguns jornais e não são publicados, visto que ele diz as verdades, que são escamoteadas ao Povo Português, e isso não interessa a certos órgãos de
Comunicação Social ao serviço de interesses obscuros.

O meu pai diz que o nosso país é hoje uma colónia de Bruxelas, que nos dá esmolas para nós conseguirmos sobreviver, pois os tais Capitães de Abril reduziram Portugal a uma «pobreza franciscana» e que o nosso país já não nos pertence e que perdemos a nossa independência.

Perguntei-lhe se ele já ouvira falar de Mário Soares, Almeida Santos, Rosa Coutinho, Melo Antunes, Álvaro Cunhal, Vítor Alves, Vítor Crespo, Lemos Pires, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Pezarat Correia... Não pude acrescentar mais nomes, que fixara com enorme sacrifício e trabalho de memória, porque o meu pai começou a vomitar só de me ouvir pronunciar estes nomes.

Quando se sentiu melhor, disse-me que nunca mais lhe falasse em tais «sacanas de gajos», mas que decorasse antes os nomes de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, D. João II, D. Manuel I, Bartolomeu Dias, Afonso de Alburquerque, D. João de Castro, Camões, Norton de Matos, porque os outros não eram dignos de ser Portugueses, mas estes eram as grandes e respeitáveis figuras da nossa História.

Naturalmente que fiquei admirado, porque o Senhor Professor nunca me falara nestas personagens tão importantes e apenas me citara os nomes que constam dos textos do Professor Fernando Rosas.

Senhor Professor, dada a circunstância do meu pai ter visto, ouvido, sentido e lido a Revolução de Abril, estou completamente baralhado, com o que o Senhor me ensinou e com a leitura dos textos de apoio. Eu julgo que o meu pai é que tem razão e, por isso, no próximo teste, vou seguir os conselhos dele.

Não foi o Senhor Professor que disse que a Revolução nos deu a liberdade de opinião? Certamente terei uma nota negativa, mas o meu pai nunca me mentiu e eu continuo a acreditar nele.

Como ele, também eu vou pôr uma gravata preta no dia 25 de Abril, em sinal de luto pelos milhares de mortos havidos no nosso Império, provocados pela Revolução dos Espinhos, perdão, dos Cravos.

O Senhor disse-me que esta Revolução não vertera uma gota de sangue e agora vim a saber que militantes negros que serviram o exército português, durante a guerra, que o Senhor chamou colonial, foram abandonados e depois fuzilados pelos comunistas a quem foram entregues as nossas terras.

Desculpe-me, Senhor Professor, mas o meu pai disse-me que o Senhor era cego de um olho, que só sabia ler a História de Portugal com o olho esquerdo. Se o Senhor tivesse os dois olhos não me ensinaria tantas asneiras, mas que o desculpava porque o Senhor era um jovem e
certamente só lera o que o Professor Fernando Rosas escrevera.

A minha carta já vai longa, mas eu usei de toda a honestidade e espero que o Senhor Professor consiga igualmente ser honesto para comigo, no próximo teste, quando o avaliar.

Com os meus respeitosos cumprimentos

O seu aluno

P.S.: Todos os anos, nesta data, se fala em comemorações em todo o país,
mas eu pergunto:
COMEMORAR O QUÊ????

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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Lutemos pelo Abril ainda por fazer

Abril de sim, Abril de Não
(soneto de Manuel Alegre, que fecha com chave de ouro)

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vire
como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.

Manuel Alegre

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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Discurso do PR no 34.º Aniv do 25 de Abril

Discurso do Presidente da República na 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril
Assembleia da República, 25 de Abril de 2008
Clique aqui para ouvir

Senhor Presidente da Assembleia da República,
Senhor Primeiro-Ministro,
Senhoras e Senhores Deputados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Celebramos hoje, uma vez mais, o aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974.

Não vou repetir o que aqui afirmei o ano passado. Apenas direi que me impressiona que muitos jovens não saibam sequer o que foi o 25 de Abril, nem o que significou para Portugal. Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário.

Não posso deixar de recordar, Senhores Deputados, que, quando o 25 de Abril ocorreu, uma parcela substancial da nossa população nem sequer era nascida. Quem viveu a revolução, tem a tendência para não se lembrar disso, julgando que essa data, fixada no tempo, possui uma perenidade eterna.

Não é justo para aqueles que se bateram pela liberdade, tantas vezes arriscando a própria vida, que a geração responsável por manter viva a memória de Abril persista em esquecer que a revolução foi um projecto de futuro e que, por ter sido um projecto de futuro, deve continuar a ser um sonho inspirador e um ideal para as gerações vindouras.

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

Um regime político não pode esquecer as suas origens. Não é saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas. Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar. Naquilo que continha em termos de ambição de uma sociedade mais justa, naquilo que exigia de um maior empenhamento cívico dos cidadãos, naquilo que implicava de uma nova atitude da classe política, há ainda um longo caminho a percorrer.

Foi justamente a pensar na importância do 25 de Abril para a juventude dos nossos dias que, no ano passado, procurei suscitar a reflexão dos Senhores Deputados sobre o sentido a dar a esta efeméride.

Eu próprio reflecti sobre que sentido faz hoje evocar o 25 de Abril. E, como sempre defendi que os agentes políticos devem prestar contas do que fazem, aqui me encontro para dizer aos Portugueses que continuo convencido que a juventude é o horizonte de qualquer comemoração do 25 de Abril verdadeiramente digna desse nome.

O 25 de Abril, disse-o há um ano e digo-o de novo, não é monopólio de uma geração nem de uma força política. O pluralismo que inaugurou leva a comemorá-lo pensando na salutar diversidade de opiniões, no confronto de tendências e de visões do mundo, na livre expressão das ideias, no legítimo exercício do direito de criticar e discordar. Acima de tudo, leva a comemorá-lo pensando que o 25 de Abril é cada vez mais daqueles que nem sequer o viveram.

Ora, aquilo que encontrei ao longo deste ano faz-me ter esperança na juventude, mas também alguma preocupação quanto aos seus destinos. Ao percorrer o País, nomeadamente nos «Roteiros» que tenho lançado, deparei de Norte a Sul com jovens empreendedores e dinâmicos que ousam projectos de risco, conheci o trabalho de investigadores de excelência à altura dos melhores do mundo, contactei uma nova geração que se dedica a acções de voluntariado e que demonstra um comovente espírito de entrega ao serviço dos outros.

Mas, à semelhança do que aqui disse o ano passado, se por toda a parte encontrei sinais promissores, também sinto que não temos conseguido mobilizar os jovens para um envolvimento mais activo e participante na vida política. Como esta é uma questão que considero demasiado séria, entendi que não poderia limitar-me a falar com base em meras suposições. E, como considero que devo prestar contas do que fiz, gostaria de partilhar com os presentes nesta sala e com todos os Portugueses os resultados de um estudo sobre as atitudes e comportamentos políticos dos jovens em Portugal que, por minha iniciativa, a Universidade Católica realizou e que irei em breve facultar aos grupos parlamentares. Verifica-se que os jovens se distinguem dos outros grupos etários em relação a alguns tipos de comportamento, mas não em relação a todos eles.

Nesse estudo, que me foi apresentado em Janeiro deste ano, concluiu-se, e passo a enunciar:

- em primeiro lugar, que é notória a insatisfação dos Portugueses com o funcionamento da democracia, assim como a existência de atitudes favoráveis a reformas profundas na sociedade portuguesa;

- os mais jovens, entre os 15 e os 17 anos, e os jovens adultos, entre os 18 e os 29 anos – ou seja, os que nasceram após o 25 de Abril – são a camada etária que se mostra mais favorável à introdução de reformas incrementais e limitadas no sistema. De realçar, contudo, que os jovens revelam menor pessimismo quanto ao futuro do que os outros grupos etários;

- os jovens estão menos expostos à informação política pelos meios convencionais de comunicação do que os restantes segmentos da população e mostram também mais baixos níveis de conhecimentos políticos;

- exceptuando o exercício do direito de voto, a população portuguesa tende a ser céptica em relação à eficácia da participação política tradicional, isto é, aquela que é feita através dos partidos;

- no que respeita a um conjunto genérico de medidas destinadas a melhorar a qualidade do sistema democrático, os portugueses são particularmente favoráveis à presença das mulheres na vida política, à criação de novos mecanismos de participação e à maior personalização do sistema eleitoral.

Trata-se de um estudo efectuado de acordo com os métodos mais adequados e fiáveis de recolha de informação, podendo considerar-se que os elementos que contém são fidedignos e correspondem à realidade. Foi esta realidade que o Presidente da República quis conhecer. E é esta realidade que aqui trago ao conhecimento dos Senhores Deputados, na convicção de que os agentes políticos não podem alhear-se do pulsar da sociedade e daquilo que os cidadãos pensam daqueles que os governam.

O estudo mostra ainda outros dados que merecem uma análise séria e uma ponderação profunda:

- já em 2004, os Portugueses contavam-se entre os europeus e os cidadãos de países desenvolvidos com uma pior avaliação do funcionamento da democracia; de 2004 para cá, a insatisfação e o pessimismo cresceram de forma sensível;

- do ponto de vista do chamado «interesse pela política», os resultados demonstram, e cito textualmente o estudo, um «baixíssimo interesse dos inquiridos entre os 15 e os 17 anos»;

- em termos comparativos, além da Hungria e da Eslováquia, Portugal é o país europeu em que os cidadãos dão menos importância à política nas suas vidas;

- os cidadãos em geral mostram maiores níveis de interesse pela política a nível local do que a nível nacional e internacional.

O estudo colocou aos inquiridos três perguntas muito simples: qual o número de Estados da União Europeia, quem foi o primeiro Presidente eleito após o 25 de Abril e se o Partido Socialista dispunha ou não de uma maioria absoluta no Parlamento. Pois, Senhores Deputados, metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos e um terço dos jovens entre os 18 e os 29 anos não foi sequer capaz de responder correctamente a uma única das três perguntas colocadas. Repito: metade dos jovens entre os 15 e os 19 anos não foi capaz de responder a uma única de três perguntas simples que lhes foram colocadas. No dia em que comemoramos solenemente o 34º aniversário do 25 de Abril, numa cerimónia todos os anos repetida, somos obrigados a pensar se foi este o futuro que sonhámos.

Justamente por isso, é meu propósito promover em breve um encontro com representantes de organizações de juventude, tendo por objectivo colher a sua opinião sobre o distanciamento dos jovens em relação à política e sobre as medidas que possam contribuir para minorar ou inverter esta situação.

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

Se estes são os resultados, será mais difícil diagnosticar as causas. Sei que a actividade política, sobretudo nas democracias consolidadas e nas sociedades desenvolvidas, não ocupa um lugar cimeiro nas preocupações quotidianas dos cidadãos. Simplesmente, mesmo em comparação com os demais países da Europa, os resultados obtidos em Portugal não são animadores.

É natural, é saudável até que os cidadãos em geral e os jovens em particular tenham centros de interesse para além da vida política. Tal significa que têm a democracia como um dado adquirido, que interiorizaram o facto de viverem num regime democrático e agora dedicam a sua atenção a outras realidades.

Em todo o caso, o nível de informação dos jovens relativamente à política é de tal forma baixo que ultrapassa os limites daquilo que é natural e salutar numa democracia amadurecida.

O alheamento da juventude não pode deixar de nos preocupar a todos, a começar pelos agentes políticos. A começar por vós, Senhores Deputados. Se os jovens não se interessam pela política é porque a política não é capaz de motivar o interesse dos jovens. Interrogo-me que efeitos daqui resultarão para o governo de Portugal num futuro não muito distante.

Impõe-se, por isso, que diminua aquilo a que os especialistas chamam a «distância ao poder». Não por acaso, a política local, segundo os elementos daquele estudo, é aquela que mais motiva os cidadãos. Quanto mais próximos estiverem os cidadãos dos centros de decisão, maior será o seu interesse em participar e intervir. Daí que os centros de decisão tenham de procurar uma «política de proximidade» relativamente aos Portugueses.

É isso que tenho feito através dos «Roteiros» e de outras iniciativas, que me levaram a contactar directamente as populações, conhecendo de perto os seus anseios, os seus problemas, a sua insatisfação, mas também as suas esperanças, a sua crença num País melhor, os inúmeros exemplos de sucesso e de boas práticas que encontrei na vida empresarial ou académica, ou nos domínios da cultura, da inclusão social, do ambiente e da investigação científica.

Os partidos políticos possuem responsabilidades muito claras no combate ao alheamento dos jovens pela vida pública. No fundo, no combate à indiferença que muitos jovens têm pelo futuro do seu País. Tal deve-se, em boa medida, ao facto de não ter havido o necessário esforço para a credibilização da vida política. Esse esforço não dispensa algo de muito simples: ouvir o povo e falar-lhe com verdade. Vender ilusões não é, seguramente, a melhor forma de fortalecer o imprescindível clima de confiança que deve existir entre os cidadãos e a classe política.

Do mesmo modo que seria bom acabar com um certo autismo de alguma classe política, levando-a a conhecer melhor a realidade do País, deveríamos pôr cobro ao pessimismo que muitos dizem ser uma característica singular do povo português, desde tempos imemoriais.

Na sua vida de todos os dias, os Portugueses interrogam-se sobre o que lhes reservará o futuro. Existirão sinais para sermos optimistas? Ou, pelo contrário, os indícios apontam para um futuro sombrio? Esta é a atitude típica daqueles que preferem aguardar pelo futuro ou que persistem em tentar adivinhar como será o futuro, em vez de pensar o que devem fazer no presente.

Em vez de nos interrogarmos tanto sobre o que o futuro nos trará, seria melhor que nos concentrássemos sobre o que poderemos trazer ao presente. O futuro começa agora. O futuro será o que dele fizermos hoje, nas nossas vidas profissionais e pessoais, nos nossos comportamentos cívicos, nas nossas atitudes perante os outros. Ao invés de imaginar o dia de amanhã, em lugar de procurarmos sinais nas estrelas de um futuro incerto, construamos hoje mesmo o que queremos para um Portugal melhor. É esse o espírito com que exerço as funções em que fui investido, precisamente neste hemiciclo, onde jurei cumprir e fazer cumprir a Constituição Portuguesa.

Sou Presidente da República porque não me resignei. Porque quis dar o meu contributo presente para o futuro das gerações que nos seguem. Não me resigno, acima de tudo, porque acredito no meu País e nos seus cidadãos. E, por isso, renovo o apelo de há um ano, dirigido a todos os Portugueses, sobretudo aos mais jovens: não se resignem! Só assim sereis dignos da memória do 25 de Abril.

Muito obrigado.
Faça aqui do download do estudo "Os Jovens e a Política" (PDF com 252KB)

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