Persistência em decisões erradas, porque sim
(Publicado no Semanário DIABO em 29 de Janeiro de 2019)
Como terminará o problema do Brexit, ou a birra dentro do PSD, ou o aeroporto para o Montijo ou para Alverca ou para Alcochete, o muro na fronteira com o México, ou a guerra comercial com a China ou a confrontação dos EUA com o Irão ou com a Coreia do Norte, etc. Poderá resultar de um azar de lotaria ou até de um estudo racional bem elaborado assente nas vantagens e inconvenientes de cada solução dando possibilidade de escolher a melhor. Esta última hipótese só pode vir de uma cabeça sonhadora e um tanto ingénua quando se trata de enfrentar um decisor teimoso que não gosta de recuar, por vaidade.
Mas, em política, esta decisão inteligente, seguindo uma metodologia semelhante à que expus no artigo aqui publicado em 29 de Setembro de 2016, não é muito do gosto de governantes. Não foi por acaso que nas tricas no PSD, os apoiantes de cada um dos litigantes acusaram o rival de nada ter feito senão política, com o que queriam significar que, na política, não paciência nem vontade para lutar por uma estratégia, bem estudada e bem definida e concretizada com rigor, que leve Portugal a bons resultados para o desenvolvimento e para uma melhor qualidade de vida. Na política, nada se aprende para melhorar o desempenho das funções e o que impera é a decisão rápida (em cima dos joelhos), a teimosia do «quero, posso e mando» e a vaidade leva a recusar dar um passo atrás, para não lhe chamarem tolo.
Faço sobre isto referência a um conto de George Orwell, intitulado «Abatendo um elefante» em que um agente da polícia imperial britânica na então Birmânia foi chamado para abater um elefante que a população em geral afirmava estar descontrolado. Quando finalmente chegou perto do bicho feroz, este já estava longe de qualquer aldeia e calmo, pelo que matar aquele belo animal seria cruel e desnecessário. Mesmo assim, o agente disparou sobre ele, e matou-o. Perguntaram-lhe porquê? E ele respondeu “para evitar fazer figura de tolo”.
Assim gira a engrenagem política.
Não devemos esquecer: a “bomba mãe de todas as bombas”, explodida pelos EUA no Afeganistão, em 13 de Abril de 2017, contra o grupo extremista Estado Islâmico, sem depois se ver, como resultado, os efeitos benéficos desejados, com tal vaidade e arrogância. O uso da bomba GBU-43 / B foi para "minimizar o risco" quer para as forças afegãs, quer para as forças norte-americanas que combatiam o Estado Islâmico em Achin, por se desejar que destruísse os abrigos em túneis e outros subterrâneos, onde o inimigo se escondia. Provavelmente, oficiais experientes em trabalhos de estado-maior, desaconselharam tal atitude arrogante por não serem garantidos resultados compensadores. Mas nada impediu a explosão da qual não resultou a destruição esperada no inimigo e, pelo contrário, este encheu-se de ódio vingativo e, nove dias depois, lançou um ataque contra uma base militar afegã, no norte do país, numa altura em que soldados estavam reunidos para rezar, tendo causado a morte a mais de 100 soldados e ferimentos em muitos mais. Tratou-se de uma dezena de assaltantes fortemente armados e que durou pelo menos cinco horas. Isto mostra que a teimosia arrogante raramente traz resultados compensadores.
Mas, apesar de todos esses inconvenientes, na política usa-se a insensatez de decidir por impulso ou capricho, prometer e depois, se não conseguem que o povo esqueça o prometido, acabam por cumprir. Ainda há poucos dias alguém dizia «está decidido, a solução é esta e não se fala mais noutras modalidades». Porque sim, para não o chamarem tolo.
O contista George Orwell sabia que os vaidosos não gostam de mostrar sinais de fraqueza.
António João Soares
22 de Janeiro de 2019
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
DECISÕES PORQUE SIM
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sábado, 20 de julho de 2013
E AGORA? QUE SALVAÇÃO?
Transcreve-se o editorial do Diário de Notícias de hoje por apresentar uma análise isenta e desapaixonada do fracasso do «Compromisso de Salvação Nacional» devido a posições inconciliáveis, sem viabilidade de cedências que permitissem consenso entre a coligação e o PS.
Uma boa ideia condenada ao fracasso
Um compromisso de salvação nacional era uma boa ideia e até uma necessidade urgente para o País. Mas estava, pelo timing e pelas condições em que foi proposto, condenado ao fracasso. O pacto proposto pelo Presidente da República entre PSD, PS e CDS falhou - e não tinha maneira de ter tido sucesso - porque há duas visões inconciliáveis sobre o rumo que Portugal deve seguir.
PSD e CDS-PP, os partidos da maioria do Governo, continuam a defender, mesmo depois da deserção de Vítor Gaspar do Ministério das Finanças, que o caminho que têm sido seguido é para manter. Que a linha de austeridade acertada com a troika pode ter pequenas nuances, pode até ser aliviada, mas tem de ser cumprida e aplicada no seu essencial.
Já o PS sempre defendeu uma inversão de política, a renegociação com os nossos credores, e uma aposta efetiva no crescimento económico.
Ora se conciliar estas duas linhas já era praticamente impossível, juntar-lhe o problema concreto do corte de 4,7 mil milhões de euros, com que o Governo em funções já se comprometeu e que o PS disse sempre que não aceitava, tornava o acordo absolutamente impraticável. Um consenso sobre o âmbito de cortes desta amplitude, que já por si só é uma tarefa inglória, não se faz de um momento para o outro, nem se acerta numa semana.
Assim, o que ontem o PS comunicou em primeira mão, marcando assim o seu terreno, foi anunciar o que já era esperado. O ponto final da ronda de nove negociações que acabou numa mão cheia de nada. Ser António José Seguro o primeiro a dar a Cavaco Silva a resposta ao repto presidencial e a fazer o anúncio do rompimento das negociações tem claramente significado. Seguro continua a fazer o seu caminho do ponto de vista político: uniu o PS em seu redor e ganhou espaço à esquerda. Mas falta-lhe explicar o essencial das propostas concretas que fez questão de enunciar ao País: de onde vem o dinheiro para a sua concretização.
Em resumo, esta não era a altura para um acordo sobre a necessária reforma do Estado. Mas o País precisa dela. E haverá um momento em que esse consenso terá de ser feito: sem pactos sobre dívida, défice e despesa, Portugal não consegue seguir em frente.
E agora? Tendo falhado esta proposta de Cavaco Silva e tendo ele já reafirmado que não estimulará nenhum governo de sua iniciativa dentro do que a Constituição lhe permite, ou seja, pedindo um novo executivo à maioria, sobra muito pouco. Apesar de as últimas semanas terem sido férteis em surpresas, não parece possível que o Presidente opte por outra solução que não a de devolver todas as decisões à Assembleia da República que, como também já reafirmou, é a única instituição com legitimidade para decidir.
A maioria PSD/CDS do Parlamento apresentar-lhe-á assim o Governo que já acordou (com novos poderes para o CDS e novos ministros) e que Cavaco terá de aceitar porque não se vislumbra outra alternativa. Vinte dias depois da demissões de Vítor Gaspar e 19 depois da de Paulo Portas, voltamos assim à estaca zero, ao ponto de partida.
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quarta-feira, 5 de junho de 2013
SER FELIZ OU TER RAZÃO?
Oito da noite, numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar na casa de uns amigos. O endereço é novo e ela consultou no mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela orienta e pede para que vire à esquerda, na próxima. Ele tem a certeza de que é à direita. Discutem.
Percebendo que além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado.
Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados. Mas ele ainda quer saber: - Se tinhas tanta certeza de que eu estava indo pelo caminho errado, devias ter insistido um pouco mais... E ela diz: - Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz.
Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!
MORAL DA HISTÓRIA
Esta pequena história foi contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de tê-la ou não. Desde que ouvi esta história, tenho-me perguntado com mais frequência: Quero ser feliz ou ter razão?
Outro pensamento parecido, diz o seguinte: "Nunca se justifique; os amigos não precisam e os inimigos não acreditam".
Eu já decidi... EU QUERO SER FELIZ e você?
NOTA. Texto pequeno mas de grande interesse que merece ser meditado e divulgado
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Mais tempo para quê ???
Perante o desastre do Governo na gestão do País, Gaspar diz que precisa de mais um ano para cumprir a promessa do défice. Por seu lado, por solidariedade corporativa, a comissária europeia aceita que Portugal vai precisar de «mais tempo».
Mas a observação, mesmo que muito superficial, dos acontecimentos dos últimos 20 meses mostra que mais tempo será mais recessão, mais descalabro nacional, mais esmagamento das vidas dos cidadãos. Tem sido esse o efeito da actividade dos nossos «técnicos» e «sábios». Deviam ter sido substituídos logo que foram detectados os primeiros erros graves que os obrigaram a fazer recuos, alterar a austeridade para pior, confessar erros de previsão, etc. Com mais tempo continuarão a enterrar o país, como têm feito, com arrogância e teimosia obsessiva. Não se pode esperar que façam melhor do que aquilo que já mostraram saber fazer.
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segunda-feira, 20 de junho de 2011
Nobre fracassa e arrasta Passos
Fernando Nobre falhou eleição para presidente da AR também na segunda volta
Passos Coelho foi teimoso e mostrou não saber avaliar as realidaes. A derrota de Fernando Nobre Já era visível e o que teria sido mais correcto para evitar esta mancha na imagem do líder do PSD e indigitado PM, teria sido convencer Nobre a desistir antes da primeira eleição, na qual seria apresentado um candidato mais consensual como Mota Amaral ou Guilherme Silva, nomes agora citados para a terceira eleição.
Para teimoso obsessivo tínhamos o Sócrates de que já nos livraram.
Este á um mau começo. Oxalá, para bem de Portugal, que não venha a ter mais teimosias insensatas.
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quarta-feira, 18 de julho de 2007
Inconvenientes da maioria absoluta
O Parlamento, em funcionamento normal, tendo como objectivo encontrar as melhores soluções para o País, em sobreposição a interesses particulares de partidos ou outros grupos, muito ganharia com a participação em consenso dos vários intervenientes, sem autoritarismos, arrogâncias ou teimosias apoiadas na maioria absoluta. Duas cabeças pensam melhor do que apenas uma, e os partidos da oposição têm capacidade para moderar posições menos sensatas e para chamar a atenção para pormenores positivos não negligenciáveis. Mas, infelizmente, a maioria manifesta-se inconveniente para o bem do País, por se considerar única detentora da verdade, alimentando egoísmo e vaidade, o que a impede de ver e ouvir a realidade e o bom caminho. Uma lei que é aprovada apenas pelo partido do Governo perde credibilidade. Seguem-se alguns exemplos retirados da imprensa recente.
A redacção final da Lei Política Criminal (LPC), correspondendo, no essencial, à proposta de lei apresentada pelo Governo, foi aprovada pela Assembleia da República na semana passada apenas com o voto favorável da maioria" socialista, o que fez ficar perplexo o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP). Este denuncia "erros jurídicos graves" e "contradições" e questiona se a LPC é uma ruptura assumida ou a governamentalização da justiça penal. Segundo o sindicato, a lei poderá colocar em causa a essência do Ministério Público, encarregado pela Constituição de defender a legalidade, agir com objectividade nos processos, e fragilizar o Procurador-Geral da República se este definir directivas que violem as normas basilares do Código Penal, pelo que a promulgação da lei poderá ser "um desafio difícil" para o PGR.
Também o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) é criticado por ser uma manta de retalhos e não uma verdadeira reforma do Ensino Superior", o que se deduz do facto de o PS apresentar 74 propostas de alteração. Com todos estes remendos, poderá concluir-se que a proposta do Governo estava mal preparada e elaborada de forma atabalhoada.
Também a lei das finanças locais passou com o "sim" isolado do PS e agora, como a nova lei das finanças regionais enfrenta a contestação da Assembleia Regional da Madeira, a maioria absoluta do PS irá sozinha garantir de novo ao Governo a aprovação de uma proposta de lei polémica.
Mas, os próprios socialistas começam a estar preocupados embora sem forma bem definida. Os inconvenientes da arrogância do Poder estão a fazer-se sentir, como se viu no Congresso [socialista], em que o ministro da Saúde foi deixado a falar praticamente sozinho, parecendo que a sua intervenção "foi acolhida pelos poucos presentes com grande frieza". A sua política de Saúde parece estar subordinada ao compromisso de destruir o Serviço Nacional de Saúde, e abrir espaço para os grupos privados, o que não parece agradar a alguns socialistas mais sérios.
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A. João Soares
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