Segue-se a transcrição de um artigo de opinião sobre este tema que está gerando muita controvérsia. Deixo-o à consideração dos leitores, visitantes, deste blogue, na esperança de serem aqui colocados comentários pró e contra, aos quais, como é meu hábito, procurarei dar a resposta que entender mais adequada. É um desafio aos leitores e a mim próprio. A vida é mesmo isso, uma sequência de desafios. Haja quem aproveite esta oportunidade para dizer o que sente e pensa.
O regresso de Sócrates, o lobo mau
Jornal de Notícias 25-03-2013. Publicado às 00.43. Por Alfredo Leite
Afinal, quem tem medo do lobo mau? Vamos esquecer o Capuchinho Vermelho ou os Três Porquinhos porque esta não é uma história para crianças. É a história de um país bacoco que lida mal com o carisma alheio, procurando justificar o desmoronamento político que se avizinha com um passado já devidamente escrutinado. É, também, a história de um país que, à falta de outros argumentos e entretenimento, avança com patéticas petições públicas por tudo e por nada. A mais mediatizada dos últimos tempos é, pasme-se, para impedir que um ex-primeiro-ministro seja contratado (e, ainda por cima, probono) por uma televisão para um novo espaço de comentário político. A aparição de José Sócrates deverá ser analisada a dois níveis distintos, ainda que estas coisas estejam todas ligadas.
O primeiro é político. O insuspeito social-democrata e, por sinal, comentador Marques Mendes acha que o regresso de Sócrates pode ser "mortífero" para o Governo. É certo que o peso do antigo primeiro-ministro vai transformar, ainda mais, a oposição de Seguro numa brincadeira de meninos, mas Mendes tem razão quando afirma que será Passos o verdadeiro alvo de Sócrates. O ex-líder socialista ferve em pouca água vezes de mais para evitar ajustar contas de tudo o que dele foi dito pelos membros do atual Governo. Nesta revisão do passado recente, Sócrates não deverá igualmente deixar Cavaco Silva em sossego.
O segundo nível do regresso de José Sócrates é jornalístico. Ao ir buscar para o ecrã o mais odiado - mas também amado - dos ex-primeiros-ministros, a RTP protagonizou uma contratação surpreendente. E, de uma só vez, atirou para segundo plano os políticos comentadores da concorrência: Marcelo Rebelo de Sousa na TVI (e as suas mais do que previsíveis análises com direito a réplicas na generalidade da imprensa); e Marques Mendes, recentemente seduzido pelos encantos da SIC e que aos espectadores se apresenta muito mais como a correia de transmissão de um qualquer 'garganta funda' da esfera governativa do que como o comentador que quer ser.
Sócrates no ecrã vai eclipsar os seus pares e garantir, sem grandes margens de erro, audiências à RTP.
Eram, portanto, previsíveis as reações à ousadia da televisão pública. José Sócrates foi, para o bem e para o mal, o mais carismático dos líderes portugueses dos últimos anos e esse é um património que uma (breve) ida para Paris não apaga. O que não se esperaria é que o seu eco transbordasse as fronteiras nacionais.
A sua contratação televisiva mereceu ontem generosas referências na imprensa de Direita no país vizinho. O "La Vanguardia", de Barcelona, escreveu que "em Espanha ninguém poderia imaginar que no canal 1 da TVE, logo após o Telejornal, aparecesse José Luis Zapatero [ex-chefe do Governo socialista] para comentar a atualidade política semanal". O "El Mundo", de Madrid, refere a multiplicação de petições online contra e a favor da passagem de Sócrates "de primeiro-ministro a tertuliano" televisivo, referindo ainda as suas responsabilidades na crise iniciada em 2008, mas sem admitir que, se Sócrates cá tivesse continuado, haveria sempre a hipótese de, tal como em Espanha, estarmos sem resgate e hipotecados à troika.
Por tudo isto, a diabolização do regresso de Sócrates era inevitável. Essa fatalidade não pode é servir para atirar alguém para uma lista negra onde aos proscritos está vedado o regresso à vida pública.
Imagem de arquivo
segunda-feira, 25 de março de 2013
Sócrates comentador
Posted by A. João Soares at 17:57
Labels: esclarecer, ética, jornalismo, moralidade, política, sentido de Estado, sinceridade, transparência, verdade
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4 comentários:
Caro João Soares
Dá a ideia que já se esqueceram das complicações altamente suspeitas em que essa criatura se meteu. E da actuação iníqua da Justiça, que capitulou perante o poder político. Que já se esqueceram de que o homem devia estar preso, no mínimo, por gestão danosa do Estado.
E quanto ao "probono", deixem-me rir. Porque o que vai acontecer é que o falso engenheiro vai beneficiar de audiências e tempo de antena sem pagar! Mas que golpada de mestre!
Não é só a classe política que está podre, é a sociedade, que acha que a vigarice, se for feita por um governante passa a ser legítima.
Caro Fernando Vouga,
O que diz poderá traduzir-se em que a sociedade, de cima a baixo está podre, o que não é de admirar, pois os governantes são modelos e exemplos a seguir pela população pelo menos pela mais crédula e ingénua com pouco sentido crítico por carências de raciocínio.
Por seu lado a Justiça tem deixado um rasto gravado nas rochas dos caminhos seguidos de subserviência aos políticos e outros poderes reais embora não formais. Isaltino é um exemplo de que o crime compensa. Sócrates teve o caso desprestigiante da licenciatura, com certificado passado num domingo em papel impresso muitos anos depois, houve o caso do aterro sanitário da Cova da Beira, o Free Port, aeroporto de Lisboa na OTA, dúvidas sobre negócios privados que lesaram o Estado, Magalhães, apartamentos na Rua Braancamp, etc etc.
Por vezes, dada a incapacidade de os políticos avaliarem os problemas e as consequências das suas decisões, pode acontecer que a exposição de Sócrates nesta actividade de comentador lhe crie mais críticas que ponham a descoberto outros podres que não saltaram á luz do dia quando era PM (pelo medo a que se refere José GIL). E, como a Justiça parece estar a perder o respeito exagerado aos políticos, pode vir a mexer novamente nos escândalos em que esteve metido e que foram abafados.
Muito se pode dizer e será bom estar atento ao que ele vier dizer e as reacções que aparecerem. Se houver uma boa polémica a esse respeito acaba por ser útil ele ser comentador. Mas, infelizmente, a polémica como é costume, será demasiado influenciada pela cor política de quem vier a intervir e isso reforçará os preconceitos que os ouvintes já têm.
Nada melhorará e só se reforçam antagonismos e radicalismos.
Um abraço
João
É positivo que Socrates nos fale, e, mais positivo sabermos interpretar suas palavras.
Quem levou este país ao caos em que se encontra foram os Governos que o (des)governaram e estes deviam ser julgados e condenados por motivos vários que, alguns já apurados e outros a apurar.
Não foi o Socrates que levou o País ao desastre em que se encontra foram todos, e, inclusivamente, o fracasso da União Europeia que levou os Países á destruição.
Salvar o euro para quê?
Os países estavam todos muito bem e agora estão todos destruídos...
Voltando a Socrates, não foi este, repito, que destruiu o País nem é este que está a espoliar o povo, quem está a espoliar todos nós até à exaustão que acabará por enterrar Portugal é este Governo.
Eu nunca vi, na minha vida, pessoas tão incompetentes, e, fundamentalmente, desumanas e insensatas como os que nos estão a (des)governar, governando-se a eles.
A maioria chega pobre e sai rico...
O Socrates, independentemente de suas intenções, deve vir, e, se se tornar Presidente da República,será melhor Presidente e não assinará, apenas, papéis!
ZCH
Amiga Zélia,
Desde há muito tempo, temos azar com a qualidade dos nossos políticos. A nosso História torna Portugal merecedor de melhores Governos. Há pessoas de valor, como cientistas, empresários e outras ligadas aios aspectos culturais, mas recusam candidatar-se a funções governativas, devido ao desprestígio que, devido aos exemplos existentes, as caracteriza.
O povo é o que é e nunca foi muito diferente e tem o azar de não ter governantes moral e eticamente inteligentes e generosos que procurem conhecê-lo e dirigi-lo, com as muitas capacidades que tem, apesar dos defeitos tradicionais. Um dos grandes defeitos é ser crédulo e cair no conto que lhes é impingido pelos candidatos a eleições e depois ser paciente, tolerante e aceitar todos os erros, alguns de natureza criminosa por fazerem o contrário daquilo que prometeram e ainda lhe chamarem «piegas».
«Custe o que custar» o povo acabará por abrir os olhos, dizer NÃO a mais sofrimento e dar o sinal de partida. Se uma perna está gravemente doente, sem sinal de recuperação deve ser amputada e sem demora. Quanto mais demorar mais se vai sofrendo. Parar é morrer.
Não devemos ter medo de mudar, mas temos consciência de que as probabilidades de melhorar são quase nulas, porque o sistema está demasiado propenso à corrupção, aos abusos e à incapacidade de serem tomadas boas decisões, para melhorar a vida dos portugueses.
Triste a sina a nossa!!!
Beijos
João
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