Não devemos rejeitar inovações
(Public em O DIABO nº 2266 de 05-06-2020 pág 16. Por A João Soares)
As controvérsias fazem parte inerente da pesquisa científica. O filósofo francês Edgar Morin afirma que uma teoria só é científica ser for refutável e que em ciência nada deve ser considerado dogmático. Por isso, não devemos recusar inovações mas, ao tomar uma decisão estratégica, destinada a regular a vida futura, devemos ponderar com o maior cuidado e profundidade as suas vantagens e inconvenientes, tendo sempre em atenção os condicionamentos actuais e previsíveis que influenciarão a sua concretização. Se rejeitarmos, levianamente ou por receio excessivo, aquilo que nos parece ter riscos, podemos estar a aceitar a paralisia e a estagnação da vida, o que é grave, principalmente, quando se trata do futuro de um Estado. Assim, é preocupante quando se ouve um alto responsável afirmar, sem explicação cuidada e com ar aparentemente seguro, que a virtude está em prometer a continuidade dos assuntos socioeconómicos e a estabilização e recuperação das soluções que podem ter parecido boas durante a crise actual.
É imperioso não ter medo de fazer mudanças e verificar que grandes passos em frente, na História Nacional, foram devidos a decisões corajosas que podiam ser criticadas por demasiado ousadas e perigosas pela tradicional calma passiva do nosso povo. É aplicável a este conceito a posição do ‘Velho do Restelo’ que Luís de Camões descreve na sua obra épica. Porém, a coragem não deve ser confundida com inconsciência, capricho fantasioso ou atrevida ousadia, pois devem ser bem ponderadas as prováveis vantagens e inconvenientes a fim de serem obtidos os melhores resultados para o melhor futuro dos portugueses. É conveniente que, neste momento, com grandes perspectivas de evolução em variados aspectos da sociopolítica mundial, as decisões estratégicas não se confinem a recuperar a vida anterior à pandemia e, muito menos, não se agarrem à continuidade de algo que tivesse vantagens para um ou outro sector mas sem interesse para a globalidade dos portugueses. Tal visão estratégica de melhorar os interesses essenciais de Portugal deve contar com a colaboração de pensadores nacionais e especialistas dos temas a abordar e das soluções a procurar, e que sejam independentes sem ligações a partidos nem a grandes grupos económicos para não se perder esta oportunidade de procurar o melhor para o futuro dos portugueses e para o engrandecimento do nosso País.
Tem havido muita gente a apontar como exemplo países que reconheceram que as medidas de confinamento foram demasiado restritivas e sem tomarem em consideração aspectos peculiares que não deviam ser abrangidos por regras gerais, e olhando para indesejados resultados para a economia, os serviços fundamentais, etc., e que estão a alterar todo esse projecto, como o Japão e vários países europeus, controlando os resultados e não vendo inconveniente no abrandamento das restrições aplicadas. Das pessoas que se colocaram ao lado do alívio do isolamento exagerado destaca-se a médica Margarida Abreu, que afirmou que pior do que a pandemia do Covid-19 foi a pandemia do medo que tolheu muitos cérebros e criou consequências de difícil eliminação e os muitos crimes de violência doméstica que afectaram muitas famílias da pior maneira. Os inconvenientes de ordem psicológica foram muito notados. Embora não haja certezas e previsões dogmáticas, podemos abraçar a realidade dos “factos que acompanhamos diariamente: o despertar da solidariedade e a oportunidade de reforçar a consciência das verdades humanas que fazem a qualidade de vida: amor, amizade, comunhão e solidariedade”.
Muitos pensadores à semelhança de Edgar Morin, sem darem uma ideia clara do que será a vida social nos próximos meses e anos, confessam a incerteza mas admitem que surgirão soluções totalmente discordantes da vida anterior à pandemia. Será um mundo novo e imprevisível. Oxalá se caminhe para mais amizade e solidariedade, com mais respeito pelas pessoas e menos apego doentio ao dinheiro e que as sociedades sejam mais pacíficas e harmoniosas. A criação do futuro está nas mãos dos governantes que devem ter a honestidade de perscrutar os reais interesses da população em geral, sem privilegiar injustamente ‘elites’ alheias aos mais altos interesses da Nação, como conjunto de todos os cidadãos. ■
quinta-feira, 4 de junho de 2020
NÃO DEVEMOS REJEITAR INOVAÇÕES
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A. João Soares
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terça-feira, 10 de abril de 2018
A FORÇA DA JUVENTUDE GERA ESPERANÇA
A força da juventude gera esperança
(Publicado no semanário O DIABO em 10-04-18)
O futuro pertence aos jovens e, por isso, eles devem começar cedo a ser optimistas, entusiastas e positivamente inconformados com o
ambiente opressivo em que são criados. Devem abrir os olhos para aquilo que é positivo e que merece o seu esforço para conseguir o seu
futuro de dignidade, com respeito pelos mais válidos valores éticos e combater corajosamente as amarras socialmente patológicas com que os
querem impedir de sonhos e de desenvolvimento. Devem exigir condições para crescer em idade, saber e civismo. E, neste, enquadra-se o
respeito pelos outros, a recusa de injustiças, prepotências, exigências inúteis, etc.
Não podem deixar de ser motivos de esperança casos como os dos quatro projectos de investigação inovadores, de jovens investigadoras que
estão a abrir novas pistas, a desbravar, no estudo das ciências da saúde e do ambiente, que mereceram as Medalhas de Honra L’Óreal Portugal
2018. Além da honra de terem sido escolhidos, entre mais de 70 candidaturas, vão receber também 15 mil euros cada, para aplicarem
na continuação dos seus projectos de investigação.
Cito-as por ordem alfabética: Carina Crucho, investigadora no Instituto Superior Técnico, em Lisboa; Dulce Oliveira, estuda o clima
do passado, no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA); Inês Bento, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), da Universidade de
Lisboa; Margarida Fernandes, bolseira de pós-doutoramento na Universidade do Minho.
Estas quatro jovens merecem mais publicidade na Comunicação Social do que a que lhes foi dada e deve ser-lhes demonstrado o orgulho que
temos nelas. Merecem mais tempo de antena do que qualquer malandrim a quem as TV dedicam muitas horas por dia. Elas dão-nos esperança de que
a imagem de Portugal será recuperada. Parabéns a estas estudantes e investigadoras entusiastas.
Além destes casos, tem havido outros de projecção internacional e continuará a haver muitos mais, o que prova que o real valor dos
portugueses está a ser revitalizado pelos jovens. Felizmente, Portugal não se evidencia apenas pelo futebol!
Mas o caso mais focado nas notícias é o que ocorreu nos EUA, em que sobreviventes do ataque em Parkland, Florida, em 14 de Fevereiro, em
que um ex-aluno promoveu um massacre na escola Marjory Stoneman Douglas, matando 17 pessoas e deixando vários feridos, organizaram
uma manifestação geral em todos os EUA que chegou a mais de 800 localidades e, em Washington DC, juntou meio milhão de pessoas, em que
os discursos foram reservados aos menores de idade e gerou protestos solidários de Londres a Sydney, de Genebra a Tóquio.
A chamada geração dos tiroteios na Marcha Pelas Nossas Vidas foi um protesto global contra as armas, contra a permissividade da concessão
de licença de uso e porte de arma e pela alteração da lei, de forma a restringir esse direito.
A sociedade tem vindo a cair na falta de respeito pelos outros, na insegurança, no crime. Estes jovens querem um mundo sem armas. Não
querem mais mortes nas escolas, manifestando-se contra as armas e outros perigos e exigindo ao governo que actualize a legislação e
deixe de se submeter aos lobbies do armamento. E gritaram «Basta. Nunca mais».
É muito positivo que a juventude aja para ter um futuro melhor. Cabe às gerações mais novas preparar o seu futuro, eliminando muita coisa
errada da sociedade. Devem lutar por mais civismo e menos prepotências e arrogâncias dos detentores dos Poderes político, económico e
financeiro.
António João Soares
03 de Abril de 2018
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016
É NECESSÁRIA LIDERANÇA E CORAGEM PARA EVITAR CRISES
É necessária liderança e coragem para evitar crises
(Foi Publicado em O Diabo em 161025)
Ou há liderança assente na competência e na disposição para estudar os problemas e decidir, correndo o risco de sofrer críticas de quem pensa de forma diferente ou tem interesses a defender ou tem que se sujeitar a procurar sobreviver por entre as crises. Foi, por outras palavras, esta a previsão feita por um elemento da administração Obama em relação aos trabalhos que se apresentam a Guterres nas suas novas funções.
Ter qualidades de liderança e exercê-la, enfrentando as dificuldades inerentes à responsabilidade é mais salutar do que ser vítima, andando ao sabor das crises. Entre nós, tem faltado liderança suficiente para pôr termo a gastos abusivos do dinheiro público em actividades sem utilidade bem justificada e esclarecida para o interesse nacional, embora sejam apontadas de forma bem visível por pessoas de competência indiscutível, como alvos a eliminar ou nódoas a limpar.
Num documento que circula com o título «Indecoroso» e atribuído a Adriano Moreira, aparecem doze motivos de «vergonha» que devem impedir os deputados e ex-governantes de criticar o OE para 2017. Segundo ele, grandes buracos nas despesas públicas arrastam-se desde há muito e em crescimento crónico, em vez de terem sido podados, aparados ou até eliminados, mas faltou capacidade e liderança, até porque a decisão passa por quem está interessado e beneficiado por essa aplicação indevida do dinheiro público.
Além das fundações em que algumas podem não ter conexão com interesse nacional correspondente aos seus custos, há as dezenas de observatórios que, segundo tem vindo a público, chegam a ser duplicados, e muitos dos quais apenas servem para justificar a remuneração mensal da direcção. Mas há também a quantidade de assessores nos gabinetes que parece pouco contribuírem para serem evitados erros de governação, e originam obesidade da despesa pública e causam aumento de burocracia que contraria a desejada simplificação.
No referido documento que anda a circular são referidas 12 vergonhas: comparação da reforma de deputado com a de uma viúva; tempo de serviço para os deputados obterem a reforma; redução do IRS e cálculo da reforma; salários dos assessores comparado com técnicos qualificados; dinheiro para apoiar os partidos; ausência de prova de capacidade aplicada aos políticos para o exercício do cargo; custo de comida, de carros oficiais, de motoristas, de cartões de crédito; deputados gozam quase 5 meses de férias por ano; após saída do cargo recebem 80% do salário durante 18 meses; ex-governantes após cessar funções podem acumular dois salários do erário; há quem viva em Sintra e diz viver noutra cidade para receber ajudas e custo de deslocação à capital.
A manutenção destas mordomias e a tendência para a sua dilatação em valor e em número dos beneficiados, não passa despercebida dos populares mais atentos que poderão fatigar-se da sua tolerância e do seu silêncio e começar a esbracejar, sabe-se lá com que grau de violência. E a lista das vergonhas citadas no texto «Indecoroso» não se limita aos órgãos do poder legislativo e executivo, mas tem alastrado a autarquias, em graus mais ou menos preocupantes.
É urgente que se mostre com clareza aos contribuintes qualidades de liderança, e coragem para assumir a responsabilidade de gerir adequadamente os interesses colectivos dos portugueses, isto é, os interesses nacionais. Isso desagradará aos que estão a beneficiar de tais abusos mas é para isso que é necessária a capacidade e liderança e a coragem dos chefes.
/
A João Soares
18 de Outubro de 2016
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quinta-feira, 25 de julho de 2013
POESIA DE ZÉLIA CHAMUSCA
Um outro dia
ouvi chamar coragem
à cobardia.
Que ironia…
A vil cobardia
é medo,
é fraqueza,
pois, apenas, atinge
os que não têm defesa,
a quem o sofrimento inflige!
É cobarde, é traidor
o que atinge o desprotegido,
a quem causa tanta dor,
fazendo deste
o alvo preferido.
O rico está isento
do tormento…
Na guerra, o rico foge;
Fica o pobre,
e, só este sofre…
É o pobre que de escudo serve
para proteger o rico a quem serve…
E, até nas intempéries,
Deus meu,
nas catástrofes naturais
são os pobres que sofrem mais…
É tal a injustiça
que até brada aos céus,
causando tantos escarcéus,
que por vezes chego a crer
que estou a enlouquecer…
Quando ouço chamar
coragem à cobardia
é tanta a ousadia
que já nem sei
se louca serei,
perante tanta cobardia
que só por ironia
será coragem
algum dia!...
«»
NOTA: Felicito a Amiga Zélia por nos trazer tópicos de meditação que desejo sejam bem aproveitados pelos leitores.
Não tenho a coragem de ousar comentar o valor da poesia, mas esboço uma ligeira consideração acerca do tema, aqui tratado com a liberdade poética, com base em observações ocorridas durante a vida. Nesta nem tudo acontece a preto e branco, havendo nuances, ao ponto de, muitas vezes, não se distinguir a diferença entre uma coisa e outra.
As palavras nem sempre traduzem as realidades e há actos de coragem que são loucura e insensatez e outros considerados cobardia que são reflexo de sensatez, serenidade, maturidade. Numa e noutra atitude, o essencial é agir com consciência, após uma, mesmo que curta, reflexão sobre a melhor solução e os possíveis efeitos da forma como decidirmos actuar.
O jovem rei D. Fernando era «corajoso» a tal ponto que o cardeal que lhe servia de mestre lhe chamava a atenção para a conveniência de ser mais contido nas suas acções demasiado exuberantes. O rei perguntou Mas o que é o medo, de que cor é? Ao que o mestre respondeu o medo é da cor da prudência.
Muita gente corre atrás de «ídolos passageiros» para alimentar a exibição a vaidade, a ostentação, multiplica as aparições em público e as palavras abundantes e sem conteúdo, numa aparente coragem falaciosa, mas que mais parece uma cobardia que procura ficar oculta pela poeira levantada pela exteriorização «publicitária».
Não se deve saltar de uma janela para a rua, mesmo em caso de incêndio, com o estilo com que se salta da prancha para a piscina.
Peço desculpa à grande poetiza, por este abuso de lhe ocupar espaço. Mas como comecei por dizer, temas como este merecem meditação e seria bom que surgissem muitos comentadores a aprofundar o assunto. Ler mais...
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segunda-feira, 29 de abril de 2013
GRÉCIA APROVA REFORMA DO ESTADO
O Parlamento grego aprovou reestruturação do setor público com encerramento de dezenas de organismos públicos e redução de milhares de funcionários.
Os funcionários a reduzir deverão ser os sancionados por corrupção ou incompetência, com excepção dos que forem encaminhados para a aposentação voluntária ou sejam vítimas da eliminação do seu posto em consequência de encerramento.
E por cá? Será que apenas se fará uma pequena maquilhagem para ficar tudo na mesma e manter os tachos dos «boys»?
Imagem de arquivo
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sexta-feira, 29 de março de 2013
Há que ter coragem para assumir os erros
A velha sabedoria popular, com a sua tolerância e boa vontade, criou o ditado «errar é humano», mas tudo tem limites e é preciso ter dignidade e sentido da responsabilidade para reconhecer os erros e corrigi-los com oportunidade e eficácia, principalmente quando deles resulta prejuízo para milhões de pessoas. Em consonância com este conceito, foi hoje publicado no Diário As Beiras o seguinte artigo de João Azevedo, presidente da Câmara de Mangualde:
Orçamento do Estado
Diário As Beiras, 130329, Por João Azevedo
O país, e os portugueses, aguardam ansiosamente a decisão do Tribunal Constitucional (TC) relativamente ao Orçamento do Estado (OE). Algumas das leis/medidas base deste orçamento, definidas estrategicamente por este Governo, podem ser decretadas inconstitucionais…
Passos Coelho, Vitor Gaspar e Paulo Portas traçaram este caminho para o país. A ditadura da austeridade é para eles a única solução. Não olham a regras e a direitos adquiridos pelos portugueses para conseguirem seguir este caminho. Mesmo que esteja à vista de todos que será um esforço desmesurado e inglório, porque assim não vamos conseguir atingir os objetivos!
Contudo, o país aguarda um eventual chumbo pelo TC ao OE deste ano. Em causa estão a suspensão do subsídio de férias a trabalhadores e a aposentados, a contribuição extraordinária de solidariedade e a sobretaxa de 3,5% em sede de IRS. Foram estas as normas orçamentais que levaram o Partido Socialista e o Presidente da República a solicitarem a fiscalização sucessiva do Orçamento do Estado.
Importa ressalvar que a responsabilidade de um eventual chumbo não pode ser imputada a nenhuma entidade ou órgão institucional deste país a não ser ao atual Governo. O TC faz o seu trabalho e decide em função da lei. A inconstitucionalidade do OE, a existir, deve-se única e exclusivamente a medidas que contrariam a lei constitucional, pilar fundamental de uma democracia de direito. Quem erra é quem não decide em função da lei. O desrespeito pela lei fundamental do nosso país, a sua constituição, tem sido apanágio do atual Governo e será ele que terá de assumir a total responsabilidade do eventual chumbo do OE e das consequências que daí advierem.
A responsabilidade está inerente à figura de um líder. Na tomada de decisões, na gestão, nas relações pessoais e institucionais, nos bons e nos maus momentos. Não devemos fugir às nossas responsabilidades mas sim assumirmos que a natureza de liderar é um processo difícil, de respeito, de disciplina, de humildade e de grande compromisso.
Assumir a responsabilidade das nossas decisões como chefes de governo ou autarcas é um imperativo das nossas funções. Somos sempre nós responsáveis dos sucessos ou fracassos das nossas decisões. Temos que ter a coragem e a frontalidade para as assumir.
Imagem do Diário As Beiras
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Presidente cauteloso !!!
Um Presidente que não conta
Diário de Notícias. 23-12-2012. por PEDRO MARQUES LOPES
É um tempo para pararmos um pouco, olharmos à nossa volta e reflectirmos sobre aquilo que fizemos, aquilo que deixámos de fazer, aquilo que não devíamos ter feito, aquilo que podíamos ter feito melhor", afirmou Cavaco Silva durante a sessão de apresentação de cumprimentos natalícios por parte do Governo.
Não é de crer que o homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas tenha, por uma vez, resolvido anunciar uma introspecção. De alguém que continua a tentar fazer-nos de parvos e diz que as suas palavras sobre as suas pensões foram mal interpretadas quando todos as ouvimos claramente, não podemos esperar grandes actos de contrição.
Por estas e outras não faltou gente a interpretar aquela frase como um recado ao Governo e não como uma espécie de mea culpa. No fundo, uma troca de recados: o primeiro-ministro mandou um recado a Cavaco Silva quando falou - de forma ignorante e imprudente pondo em causa a solidariedade entre gerações, essencial ao equilíbrio da comunidade - sobre "pessoas" que não descontaram o suficiente para ter as reformas de que hoje desfrutam e o Presidente da República tratou de mandar outro recado incentivando Passos Coelho a reflectir. Digamos que estamos bem entregues quando, num momento como o que passamos, Presidente e primeiro-ministro se divertem a mandar recados um ao outro.
É provável que a santíssima trindade composta por Passos, Gaspar e Relvas, essa entidade una e indivisível, não tenha consciência do mal que está a fazer ao País e da catástrofe que está a semear. O Presidente da República também ainda não percebeu que está a ser conivente por acções ou omissões da dita trindade, e que os cidadãos entendem que ele é parte integrante da equipa que está a destruir a classe média, a condenar gente, sobretudo de meia-idade (que não mais vai conseguir arranjar emprego) à miséria e a fazer regredir social e economicamente o País muitas dezenas de anos.
Não, não foram apenas as suas infelicíssimas declarações sobre as suas pensões, não foi aquele inominável discurso em que ofendeu tudo e todos aquando da sua vitória eleitoral, não foi o episódio das escutas (que em qualquer país civilizado teria levado à demissão do Governo ou do Presidente da República) que faz com que Cavaco Silva seja o Presidente da República mais impopular da história da democracia. Não é em vão que sondagem após sondagem Cavaco Silva reúna mais opiniões desfavoráveis que Seguro, Paulo Portas ou até do duo dinâmico Martins/Semedo - só mesmo Passos Coelho é mais impopular que ele. Nada disto surpreende: além de o sentirem colaborar com o Governo, os portugueses não conseguem perceber a sua importância. Cavaco Silva conseguiu tornar o cargo de Presidente da República irrelevante.
O Presidente renunciou ao seu papel de provedor do povo quando não fala dos problemas, das angústias, dos verdadeiros dramas dos seus representados e gasta o tempo com recados que apenas servem para que mais tarde venha com o seu habitual e fútil "eu tinha avisado" que nada acrescenta e apenas lembra a sua inutilidade . Não cumpriu o seu juramento de "defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa" quando deixou que um grupo de deputados fizesse o que ele devia ter feito mandando o orçamento de 2012 para o Tribunal Constitucional. Não pediu a fiscalização preventiva do Orçamento para 2013 quando, segundo todos os constitucionalistas, todos os observadores independentes e até do próprio partido do Governo, este tem várias normas inconstitucionais e apenas 7,6% dos portugueses acham que ele o deve promulgar.
Ouviu-se, aliás, muito o argumento de que o Presidente não iria enviar a lei para o Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva por existir o risco de não haver orçamento nas primeiras semanas de 2013. Cavaco Silva pode invocar todas as razões para não o ter feito menos essa. O Presidente não jurou cumprir e fazer cumprir um qualquer orçamento, jurou sim fazer cumprir a Constituição. Mais, se as dúvidas são muito fortes não faz sentido que não requeira a fiscalização deixando assim que muito provavelmente entrem em vigor leis inconstitucionais.
Quando, lá para Março, toda a gente perceber a catástrofe orçamental, o Governo entrar em colapso, os tribunais, departamentos do Estado e sociedade civil mergulharem numa crise sem precedentes vamos ter um Presidente descredibilizado, impopular, barricado em Belém e em que ninguém confia. Nem os partidos, nem a comunidade em geral. E logo quando mais precisávamos dum Presidente da República.
NOTA: É pena que o cronista não tenha referido a comprovada discrição, precaução, prudência, segurança, cuidado para evitar errar, recorrendo a «tabus» e, mesmo, a pedaços de pão-de-ló. Consegue levar tais cuidados virtuosos ao ponto de parecer hesitação ou dificuldade em decidir e, entretanto, o problema resolve-se e deixa de ser oportuno ou necessário arriscar. Homem prudente que não se mete em aventuras…
Imagem do DN
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Popular enfrenta Armando Vara
Mais significativo do que manifestações de rua e greves dos serviços públicos que prejudicam inocentes mas não beliscam minimamente os alvos desejados, este popular teve a coragem, a hombridade de dizer as coisas de frente, cara-a-cara, a quem julgou dizê-las. Portugal precisa de mais homens de estatura moral e de dignidade, como este.
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Ter ou não ter «Solanum lycopersicum»
Transcrição seguida de NOTA:
Masculinidade e virilidade
Jornal de Notícias. 20-09-2010. Por Manuel António Pina
A crer no primeiro-ministro luxemburguês (e um primeiro-ministro luxemburguês está sempre no topo da lista de gente que merece crédito no que toca a bisbilhotices), a discussão entre Sarkozy e Durão Barroso sobre as deportações de ciganos em França terá sido "máscula e viril". A notícia trouxe-me à memória a síntese crítica que João Gaspar Simões um dia fez no DN sobre determinada obra literária: "Máscula e viril, sem deixar de ser realista".
Masculinidade e virilidade (palavras femininas, como judiciosamente observou Prévert) remetem, de facto, mais para o realismo mágico ou a literatura fantástica do que para o realismo puro e duro. Dir-se-iam, por isso, independentemente de eventuais divergências acerca de como "fazer a coisa", adequadas a classificar as diferenças ideológicas que haja entre Sarkozy e Barroso quanto a ciganos e indesejáveis em geral. O mesmo não se pode dizer da oposição do PS à condenação pela AR das deportações de ciganos. Sendo talvez "realista", foi tudo menos "máscula e viril", encaixando-se, sim, no concorridíssimo e previsível género parlamentar da cobardia política.
NOTA: «Cobardia», embora conceito ajustadamente aplicado, parece demasiado «másculo e viril» para os nossos políticos mansos, conformados, tolerantes, acomodados, usando a táctica muito divulgada do tabu e do ‘a bem dizer’. Há muita falta de «Solanum lycopersicum»!!!. Muitas vezes tal audsêm+ncia é camuflada por arrogância, abuso do poder, ou levantamento do braço à voz do pastor, como aconteceu na aprovação por unanimidade da «lei da rolha» no congresso do PSD ou na votação da lei de financiamento dos partidos na AR.
E desta maneira informe, plástica e moldável, em que não se nota sinal de coluna vertebral, se tem receio de rever seriamente a Constituição nascida em época tumultuosa e geneticamente doente, e se vai empurrando Portugal para o fim do mundo, para trás de pequenas repúblicas quase ignoradas.
Venha depressa o D. Sebastião!!!
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sábado, 12 de junho de 2010
Pacheco Pereira e o negócio TVI
Há cerca de 20 anos conheci de perto o Dr. José Pacheco Pereira e aquilo que tenho observado das suas atitudes mostra que se mantém coerente com o seu método muito racional de analisar as circunstâncias e a frontalidade e coragem com que enfrenta situações em que a maior parte se encolhe e desvia.
A forma como se comportou na comissão parlamentar de inquérito ao caso TVI, referida na notícia que pode ser lida abrindo link «Pacheco Pereira ameaçou e ganhou», mostra a sua têmpera que nos faz lembrar a deputada brasileira Cidinha Santos aqui
e também aqui,
e de quem não se têm visto réplicas em Portugal.
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quarta-feira, 12 de maio de 2010
Cidinha Campos no seu melhor
Portugal precisava de um deputado com esta coragem e esta dedicação ao País!!! Mas por cá todos parecem ser vocacionados para o voto único, como se viu na votação da afamada Lei do financiamento dos partidos, felizmente vetada pelo PR.
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segunda-feira, 14 de julho de 2008
Uma lição do Solidariedade
A notícia do falecimento do polaco Bronislaw Geremek, levou-me a refrescar a memória sobre um exemplo que me impressionou pela positiva, num estudo que fiz sobre os pontos altos do desenvolvimento de vários países. Dissidente do regime soviético, Geremek passou a integrar um núcleo de intelectuais colaborando com o Comité de Defesa Trabalhadores, embrião do movimento democrático na Polónia, fundado em 1976.
É nesta altura que se torna conselheiro de Lech Walesa, líder do movimento sindical que, no Verão de 1980, promoveu uma paralisação na indústria naval, que abalou o regime do general Jaruzelski e acabou por dar origem ao Solariedade, sindicato não alinhado que defendia a queda do comunismo pela via pacífica. Depois de ter estado preso durante dois anos e meio, no início de 1989, o regime comunista polaco começa a esboroar-se, Geremek estará de novo ao lado do Solidariedade e de Walesa, surgindo como um dos principais artesãos do acordo para a transição pacífica para a democracia.
Eis o resultado da pesquisa:
O movimento sindical Solidariedade, liderado por Lech Walesa, não se sentia preparado para tomar o poder. Era uma larga coligação política, um movimento de protesto, mas não um partido. Com o Solidariedade, englobando apenas um terço da Câmara Baixa, os seus líderes receavam se deviam – ou mesmo podiam – tomar o poder. O seu novo conselheiro económico era Jeffrey Sachs, o professor de Harvard cujo papel na América Latina lhe tinha granjeado o reconhecimento internacional.
Um líder do Solidariedade disse a Sachs que o movimento não tinha votos suficientes no Parlamento para fazer qualquer coisa e que a Polónia era um cabaz de problemas económicos. Sem dúvida que era um cabaz de problemas, respondeu Sachs, mas as aparências podiam ser enganadoras. A Polónia partilhava uma fronteira com a Alemanha, e estava no centro da Europa – e os polacos não eram totalmente carentes de qualidades económicas. A curto prazo, os resultados poderiam surpreender toda a gente. Isto foi o que Sachs aprendeu na América latina. Depois de horas de serena discussão, ele finalmente deu uma mensagem simples: Actuem, tomem o poder. O líder do Solidariedade deu um largo suspiro. «estou muito infeliz com esta conversa», disse, «porque penso que você está certo».
Os líderes do Solidariedade pediram a Sachs e ao seu colega David Lipton que preparassem o projecto de um programa económico para uma rápida e abrangente reforma. «E, por favor», disseram eles, «comece o projecto com as palavras ‘Com este programa, a Polónia saltará para a economia de mercado’. Nós queremos avançar depressa; é a única maneira de isto fazer sentido». Sachs respondeu que ele e Lipton iriam regressar aos Estados Unidos e escreveriam o plano. Não, disseram eles, não havia tempo para isso. Ele era necessário na manhã seguinte. Os dois americanos estiveram a trabalhar toda a noite, escreveram um projecto de plano, depois foram para Gdansk no dia seguinte para um encontro com os membros do Solidariedade a fim de o explicar. (Tradução de parte da pág270 de «The Commanding Heights, de Dabpniel Yergin e Joseph Stanislaw, Ed. A Touchstone Book, 1999.
NOTA: Na primeira leitura, quase há uma dezena de anos, à minha sensibilidade, saltaram das conclusões, a humildade e a sensatez que levou os nacionalistas do Solidariedade, conscientes da responsabilidade que iam assumir, a procurar um bom conselheiro com nome feito a nível internacional e, depois, a determinação de avançar firmemente, sem dar tempo a hesitações dos titubeantes opositores. Esta é uma boa lição que deveria ser seguida pelos nossos governantes para ultrapassarem a actual crise, com os mínimos sacrifícios para as populações.
domingo, 25 de novembro de 2007
Chávez, o «amigão»!!!
A verdade nua e crua !!!
Todo menino passou por isso ao menos uma vez: Ter de encarar um valentão na escola. Todo mundo já foi para o recreio passando por uma odisséia mental, e a nada metafórica górgona que o aguardava era um moleque mais velho e mais forte, espancador de menores e ladrão de merenda. Todos conhecem o tipo. E todos evitavam cruzar com ele, claro. Quanto maior a distância, menor o problema. Mas alguns usavam uma tática oposta; viviam puxando o saco do sádico mirim. Eram os baba-ovos de plantão, que compravam a simpatia dele com as adulações. Quando o valentão escolhia um deles pra extravasar sua violência natural, a saída do puxa-saco agredido era fingir que tudo não passava de uma brincadeirinha do amigão. Diminuía o tempo de surra e salvava as aparências. Assim o puxa-saco continuava amiguinho do covardão e tentava fazer com que os outros acreditassem que era apenas uma travessura. E afinal, quase nem tinha doído, gente.
Semana passada Lulla riu quando Hugo Chávez o chamou de sheick da Amazônia e de magnata do petróleo, entre outras graves ofensas. Tudo televisionado. O riso nervoso, forçado, demonstrava claramente que Lulla tinha medo. Lulla morre de medo de Chávez, o valentão boquirroto. Lulla fez o papel de amiguinho para apanhar menos.
Lulla foi ironizado, espezinhado, humilhado pelo psicopata Hugo Chávez , na Cúpula Ibero-Americana, ocorrida no Chile. Riu, nervoso, quase histérico, para disfarçar a humilhação mundial que passava. Não só ele, mas, aos olhos do mundo, todo o Brasil foi, de novo, agredido verbalmente pelo venezuelano. O mesmo que chamou nosso Congresso de papagaio dos americanos.
O rei da Espanha não comunga com esses pensamentos. Não agiu como Lulla, fingindo que era tudo brincadeirinha do amigão do peito. Não foi fraco, não foi pusilânime. Quando o psicopata falou mal da Espanha e do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, chamando-o de fascista, ouviu o merecido cala-boca; rei Juan Carlos, um homem educado, piloto aposentando da Força Aérea espanhola, fidalgo que bem representa seu país, deu seu recado ao ditador. E ao mundo: chega desse imbecil. Algo que não ouviu do presidente brasileiro; Lulla perdeu uma excelente chance de mostrar que não somos idiotas, ou ao menos, que não é covarde. Estamos mal. Lulla riu (riu!) ao ouvir as ofensas ironicamente dirigidas ao Brasil e à sua triste figura, meu nobre cavaleiro Dom Quixote; digo, Sancho Pança. Moinhos que o digam. Cervantes foi honrado pelo seu rei. Fomos humilhados pelo nosso presidente, mais ainda que pelo falastrão venezuelano. É de chorar; justamente quem deveria, até pela força de seu cargo, defender o Brasil de Chávez, preferiu fingir que a pancada não doeu. Achou melhor assim. Lulla só mostra as garras com os menores, como o jornalista americano Larry Rother, que relatou as paixões etílicas do presidente e quase foi deportado pelo "crime". Com os mais parrudos, age diferente; Chegou até a ficar amicíssimo de Fernando Collor, José Sarney e Orestes Quércia, a quem antigamente chamava de ladrões.
Com Evo Morales não foi diferente. O boliviano espoliou e humilhou o Brasil invadindo militarmente a Petrobrás, com transmissão ao vivo pela TV mundial. Lulla fez que não era com ele. Como se a pedrada não tivesse atingido suas costas.
O rei espanhol provou que tudo tem limite. Fez com Chávez o que Churchill fez a Hitler em 1938: Avisou ao mundo o perigo que representa um tirano demente e armado até os dentes. Parece que Juan Carlos teve mais sucesso que o inglês em sua empreitada. O alerta foi ouvido.
A Europa cansou de Chávez. O rei disse o que muitos pensam, mas não falam. O venezuelano odeia a Espanha, um país que enriqueceu à custa de muito trabalho duro. Muito diferente da Venezuela, que empobrece a olhos vistos, não obstante as fortunas arrecadadas com a exportação de petróleo, cujos lucros vão diretamente para o ralo do populismo e da corrida armamentista.
Na escola em que o rei Juan Carlos ministra aulas, Lulla ainda está no primário. E Chávez o espera no recreio, para roubar nossa merenda.
Fernando Montes Lopes Advogado
fermlopes@uol.com.br
NOTA: recebido por e-mail de correspondente identificado.
Não é só Lulla da Silva a ter medo do amigão valentão. Recorde-se a forma como tem sido tratado pelo nosso Governo e pelo ex-PR Mário Soares. Infelizmente, nas relações internacionais, não é frequente a frontalidade, a coragem e a nobreza demonstradas pelo Rei Juan Carlos, de Espanha.
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sábado, 4 de agosto de 2007
Onde andam os valores de carácter?
Dalila Rodrigues, que foi afastada da direcção do Museu Nacional de Arte Antiga, afirmou hoje compreender a demarcação de 16 dos seus colegas em relação às suas posições, afirmando que "terão os seus lugares em concurso muito brevemente".
Palavra, eu sei que já vos chateio com estes meus comentários... Mas... as pessoas agora trabalham todas só por amor ao dinheiro e às mordomias? Esta Dalila tem o desplante de dizer o que diz acima: "se ficasse calada..." etc e tal?
Então, porque não conversou antes com o seu chefe hierárquico, expondo-lhe lealmente a sua posição e mesmo, se fosse o caso de haver tantas coisas na nova lei que lhe ferissem a deontologia e a sua visão profissionais, pedindo, dignamente, a sua demissão?
E fala pelos seus colegas dizendo que eles se mantêm no lugar, apenas para não perderem os "tachos", contra-vontade?
Palavra que não compreendo - onde andam hoje valores de carácter como a DIGNIDADE, FRONTALIDADE, LEALDADE, CORAGEM e outros?
O sensacionalismo mediático e o carreirismo político será tudo para esta gente/gentalha?
Passem bem e desculpem mais uma vez, mas, "Vemos, ouvimos e lemos... não podemos ignorar!!!" (Fanhais)
mctorres
NOTA: transcrito de um e-mail baseado em notícia do Público
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quarta-feira, 25 de julho de 2007
Já lá vão 35 anos. Parece que foi ontem.
Por António Neves, tenente-coronel comando
Há momentos na vida em que tudo parece acabar, tudo se desmorona, tudo se desmancha, tudo cai, tudo desaparece num turbilhão imenso, confuso e escuro.De repente e sem que nada o fizesse crer, todos os nossos projectos, todas as nossas fantasias, todos os nossos castelos construídos ou a construir, tudo desapareceu inexoravelmente de forma brutal, cruel e instantânea. Os sonhos, os planos longamente arquitectados para um início de uma vida adulta e organizada, que na prancheta da imaginação se apresentam sempre de forma risonha e apelativa, tudo desapareceu, tudo se escoou, tudo se afundou, devorado por esse tremendo “buraco negro” afunilado e profundo.
Já lá vão 35 anos.
A constatação da dura realidade em que nos encontrámos, a certeza de que o pesadelo era palpável e é real, a consciência da monstruosa injustiça que os deuses permitiram que sobre nós se abatesse, geraram em nós sentimentos de raiva, de dor e de inconformismo que apelaram às nossas mais recônditas reservas de energia e de resistência para conseguirmos emergir de todo este caos. O destino reclamou de nós pesado tributo. Iremos pagá-lo mas iremos igualmente cobrar dividendos.
Já lá vão 35 anos.
Não lançámos a toalha ao chão. Não aceitámos a derrota e recusámos a rendição. Por muito poderosas e destruidoras que sejam as forças que sobre nós se abatam, por mais profundas que sejam as marcas e as feridas que provocam e enquanto subsistir a nossa capacidade de pensar e a nossa vontade própria, há sempre coisas que são indestrutíveis e que são as grandes armas que irão permitir vencer a adversidade e lutar contra todas as barreiras: a personalidade, o carácter, a força interior, a criatividade e o poder de iniciativa. Com este arsenal e com o sólido e indispensável apoio dos entes queridos e dos amigos, é e foi possível, recriar todo um novo projecto de vida, voltar a colocar na prancheta novos planos e novos horizontes, voltar a sonhar e voltar a acreditar nas fantasias.
Já lá vão 35 anos.
A luta não é, nem foi fácil. As múltiplas barreiras físicas, culturais e sociais continuam a ser tremendas e por vezes difíceis de ultrapassar. Ao longo desta caminhada, dia após dia, mês após mês, ano após ano, foi necessário subir montanhas e atravessar desfiladeiros. Poucas vezes encontrámos planícies. Foi necessário abrir muitas portas, quase sempre fechadas, forçar a entrada, muitas vezes a pontapé. A novidade e o ineditismo da luta que vimos travando no seio de uma sociedade quase totalmente alheia a estas realidades, trouxe-nos algumas vezes momentos de desalento e de frustração, mas trouxe-nos igualmente, momentos de alegria e sentimentos de vitória, quando conseguimos finalmente abrir as portas ou atravessar os desfiladeiros, mostrando aos outros que todos juntos e cada um com a sua quota parte de participação, é que preenchemos e construímos o puzzle deste imenso universo que é a humanidade e/ou a sociedade ou as micro-sociedades em que estamos inseridos.
Já lá vão 35 anos.
É tempo de olhar para trás e sentir a agradável sensação e o prazer de quem cumpriu mais uma etapa na vida. Olhar para baixo, lá do cimo da montanha e ver o sinuoso edifício traçado que desde a base até aqui nos conduziu, vencendo e ultrapassando inúmeros e aparentemente intransponíveis obstáculos. Olhar com alguma nostalgia para tudo o que aconteceu, para tudo o que foi construído, para tudo o que foi concretizado, quase sempre a partir do zero, como tudo hoje parece tão simples e tão fácil.
Já lá vão 35 anos.
Para nós e contrariamente às conhecidas teorias da astrofísica, primeiro aconteceu o “buraco negro” e depois o “grande boom” que permitiu que tudo se recreasse e que tudo se reconstruísse. E assim aconteceu e vai acontecendo. Aquilo que aconteceu numa fracção de tempo, que foi um hiato da nossa existência e em que tudo parecia irremediavelmente perdido, voltou a ser realidade e a vida reapareceu com todo o seu esplendor.
As actividades profissionais e culturais, sempre vividas e desenvolvidas, o envolvimento e a participação em múltiplas iniciativas e projectos de âmbito social e comunitário, a partilha de conhecimentos e experiências com pessoas e instituições, permanente contacto e convívio com os amigos, aquecem-nos o ego e dão-nos a certeza de sermos membros pro-activos da grande aldeia a que pertencemos. Mas há um factor que é, e foi fundamental para que o “boom” que sobreveio ao “buraco negro” acontecesse: o calor humano e o amor da família e dos amigos. Sem o companheirismo, o apoio e o amor sempre presentes, da família, dos pais, dos irmãos, da esposa, dos filhos e agora dos netos, as vitórias alcançadas não teriam nem o sabor nem o significado que todos lhes atribuímos. Foi por eles e com eles que tudo se realizou.
Faz hoje 35 anos que esta saga começou.
Cascais, 24 de Julho de 2007»
A. Neves, Tenente-coronel Comando, in Passa-Palavra
NOTA: O Amigo António Neves é, no meu conceito, um herói, não por ter sido ferido em combate e ter ficado totalmente invisual e sem as duas mãos, porque isso pode acontecer a qualquer um, mas porque, tendo sofrido uma tragédia que deixaria um ente normal destruído para o resto da vida, soube de uma forma muito inteligente desenvolver uma luta permanente, que o levou a encontrar uma forma muito digna e exemplar de superar as dificuldades. Já tive o grande prazer de referir as suas qualidades de Homem de carácter e força de vontade indomável, ao expressar as minhas impressões dos primeiros contactos que com ele tive, aqui e aqui. Não sei dizer mais mas tudo o que pudesse dizer seria pouco para exprimir a minha admiração, respeito e muita consideração pelo Sr. Tenente-coronel António Neves.
Parabéns António Neves pela sua tenacidade e força de vontade e pelo exemplo que tem dado.
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A. João Soares
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