Transcrição integral do discurso do PR:
Discurso do Presidente da República nas Cerimónias Militares das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=74552
Elvas, 10 de junho de 2013
Comemoramos hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Comemorar é revisitar o passado, o legado da cultura e da história, de referências e de valores que moldaram a nossa identidade. Porque esta Pátria em que nos revemos foi e sempre será determinada pelo querer e pela vontade dos portugueses. É este o sentido que devemos dar a estas Comemorações.
Fazêmo-lo em Elvas, Cidade-Quartel, cidade de longa presença e tradições militares, palco de batalhas, e onde se escreveram das mais belas páginas da nossa história. Aqui se travou uma das decisivas Batalhas da Restauração, nas Linhas de Elvas, onde, movidas pelo querer e coragem, as tropas portuguesas e a população obtiveram uma vitória de enorme importância política, militar e simbólica.
Envolvida pelo imponente Aqueduto da Amoreira, sob o testemunho das suas muralhas intemporais e o olhar distante do Forte da Graça, uma das jóias da arquitectura militar, a grandiosidade de Elvas materializa-se no seu vasto património de fortificações, simbiose perfeita entre o saber e o querer, o conhecimento da arte da guerra, a que se juntou a determinação e a ambição de um Povo.
É este o legado que deve ser exaltado, competindo a todos nós estar à altura desta herança, confiantes e seguros de que a alma e o sentir português se mantêm vivos e merecedores do seu passado.
Portugueses,
Uma vez mais contamos com a presença, nesta Cerimónia, dos Antigos Combatentes que, como tem acontecido nos últimos anos, ocuparão lugar de relevo no Desfile Militar. Destaco o extraordinário espírito de solidariedade que os Combatentes tão bem conhecem e que hoje, em Portugal, como tantos exemplos ilustram, se estende por toda a sociedade civil, no seio das famílias, nas instituições de apoio social e nas iniciativas que surgem a nível local para minorar as dificuldades dos que são mais atingidos pela crise que o País atravessa.
A Nação deve saber honrar aqueles que tudo deram por ela, prestando-lhes a devida homenagem e não esquecendo o apoio que lhes é devido..
Militares,
A situação de crise e de exiguidade de recursos que vivemos exige reformas, exige sacrifícios, exige a compreensão do que está em jogo, exige um arreigado patriotismo e um notável espírito de missão. Nenhuma instituição deve permanecer intocada. Mas nenhuma instituição deve ser descaracterizada na sua essência. Mais, ainda, quando se trata de pilares fundamentais do Estado, expressão de valores e de princípios que não se alienam.
Quero realçar, desde já, o comportamento exemplar das Forças Armadas.
As Forças Armadas compreendem e participam no esforço que a todos é pedido. Colaborando e procedendo a estudos no sentido de se encontrarem as soluções que melhor se harmonizem com os objectivos propostos. Prosseguindo uma reestruturação que prevê acomodar uma redução significativa de efectivos e que é bem reveladora do espírito e da atitude de cooperação demonstrados neste processo.
As Forças Armadas têm sido um referencial de estabilidade, coesão e disciplina, cumprindo as suas tarefas com grande competência, dedicação e profissionalismo.
As reformas devem ser cuidadosamente preparadas e calendarizadas, ser objecto de um consenso alargado entre os órgãos de soberania e envolver um diálogo aprofundado com os Chefes Militares, salvaguardando a razão de ser das Forças Armadas, a sua capacidade de combate, a sua motivação e a sua condição militar.
Aos órgãos de soberania compete definir o enquadramento político e jurídico da Defesa Nacional e das Forças Armadas. Compete-lhes a orientação política, a afetação de recursos, o acompanhamento e a supervisão da respetiva ação. É sua a responsabilidade primeira pelo bom funcionamento da Instituição Militar em face dos objetivos definidos e dos superiores interesses da Nação.
Aos militares compete cumprir as determinações e orientações dos agentes políticos. Mas têm também o direito e, diria até, o dever de contribuir, com lealdade e sentido de ajuda, para a formulação das melhores soluções em relação às Forças Armadas.
Os decisores políticos têm, por sua vez, a obrigação de com eles trabalharem para essa finalidade.
Estarão assim criadas as condições para que as reformas não se limitem a um mero exercício de rigor orçamental, antes incorporando um conjunto de princípios funcionais e de valores patrióticos, éticos e institucionais que caracterizam as Forças Armadas e que lhes são próprios.
Haverá, sem dúvida, margem para racionalizar na estrutura superior, nas áreas de comando, na logística e no ensino e no dispositivo territorial, mas sempre salvaguardando a componente operacional e não descaracterizando a Instituição Militar.
Militares,
O processo de reformas em curso nas Forças Armadas vai ainda requerer muito trabalho e especial cuidado, nomeadamente no tratamento das questões do âmbito do pessoal, reconhecidamente o seu principal ativo.
A área da Saúde reveste-se de vincada importância operacional e de especial sensibilidade para a Família Militar, possuindo uma natureza específica que importa contemplar na definição da sua estrutura e organização.
Ainda na área do pessoal, decorre a revisão do Estatuto dos Militares das Forças Armadas, que, sendo um documento definidor das carreiras, da formação, das funções, das relações hierárquicas e disciplinares, dos direitos e deveres e, no fundo, moldando o futuro da Instituição Militar e dos elementos que a servem, assume importância capital.
O processo de revisão deve ser conduzido com ponderação, sensatez e respeito pelos princípios, regras e valores da Instituição.
Por último, o Ensino é um verdadeiro esteio da estrutura e do funcionamento das Forças Armadas. Vocacionada para o desempenho técnico-profissional e para o Comando de pessoas, muitas vezes em situações de grande exigência e complexidade, a Formação Militar não se limita à componente académica.
Estando inserida de forma plena no sistema universitário nacional, a Formação Militar, é, antes de tudo, uma Escola de Chefes e uma escola de valores castrenses e de cidadania, o que lhe confere um caráter distintivo. Não é por acaso que as Escolas Militares têm Comandantes e não Reitores.
Portugueses,
As Forças Armadas têm cumprido as suas missões dentro e fora do território nacional, sendo de saudar a sua elevada operacionalidade. Para que esta se mantenha em elevados padrões, é importante garantir as condições para o treino e operação das forças.
No plano interno, para além das missões estritamente militares, as Forças Armadas atuam em apoio às populações e ao desenvolvimento nacional.
Na última década, foram empregues mais de 36 mil militares e percorridos mais de 3 milhões de quilómetros em defesa da floresta e na abertura de estradas, voaram-se mais de 28 mil horas e efetuaram-se 230 mil horas de navegação, envolvendo mais de 70 mil militares, em missões como a busca e salvamento no mar, a vigilância dos espaços marítimos sob jurisdição nacional, as operações de emergência na área da saúde. As capacidades e os recursos das Forças Armadas são postos, no dia-a-dia, ao serviço de Portugal e dos portugueses.
No plano externo, Portugal tem cerca de 700 militares destacados em cinco Teatros de Operações - Afeganistão, Kosovo, Mediterrâneo, Somália e Mali -, continuando também a assumir importantes compromissos, no âmbito da Cooperação Técnico-Militar, com os Países de Língua Oficial Portuguesa.
Destaco o sucesso no combate à pirataria marítima, onde Portugal comanda presentemente a Operação Atalanta no âmbito da União Europeia.
Também no Afeganistão, como parte da “estratégia de saída” da coligação internacional, as Forças Armadas Portuguesas estão a implementar uma nova configuração do dispositivo, com ênfase na formação dos militares locais, de modo a assegurar uma transferência progressiva das responsabilidades de segurança para os próprios afegãos.
Militares,.
A vossa determinação e disponibilidade, o vosso espírito de missão, constituem inquestionável exemplo de cidadania, de profissionalismo e dedicação à Pátria..
Os tempos que vivemos são tempos de riscos, incertezas e desafios. Mas, perante as dificuldades, não podemos perder a coesão e o sentido de comunidade e solidariedade. Não se pode esquecer quem mais precisa, tal como não podemos enveredar por um caminho de negativismo, resignação ou indiferença..
Perante vós, como Comandante Supremo, quero expressar a todos os militares o meu apreço e a minha confiança pela forma responsável como têm interpretado a dimensão e o sentir de ser Soldado de Portugal, manifestando um comportamento e um sentido de dever exemplares. Lembrando a coragem dos que nos antecederam, vamos transformar um tempo de incerteza em tempo de esperança e de mudança, de vontade autêntica em construir um destino comum que, juntos, conseguiremos alcançar: o destino de sermos Portugal.
Obrigado..
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segunda-feira, 10 de junho de 2013
PR DISSE AOS MILITARES, EM 10 DE JUNHO, EM ELVAS
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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Como os serviços (não) funcionam !!!
Enquanto os serviços públicos não tiverem um desempenho exemplar, não se cria na população confiança e respeito. Pelo contrário, pelo mau exemplo, estimulam-se as pessoas a serem desleixadas e golpistas, fugindo às suas responsabilidades e deveres cívicos de cidadania, na esperança das vantagens ilegítimas, com impunidade.
Os actuais funcionários dos serviços, estão a trilhar bom rumo e espera-se que não percam o entusiasmo de cumprir com eficácia e persistência os seus deveres profissionais exigidos pelas suas funções,em defesa dos interesses nacionais.
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009
E por cá? Evitam-se os subsídios indevidos?
Por vezes aparecem na Comunicação Social sinais de que há muitos subsídios, com diversas designações, pagos a pessoas que deles não precisam nem merecem. Parece não haver disso controlo eficaz.
Do Canadá chega a notícia de uma mulher jovem, do Quebec, empregada da IBM, que estava há ano e meio sem trabalhar e a receber uma pensão de uma seguradora, por lhe ter sido diagnosticada uma depressão.
Mas tudo mudou quando Nathalie Blanchard colocou fotografias suas no Facebook, onde aparecia sorridente e festiva, o que levou a seguradora a cortar-lhe a pensão, alegando que a mulher parecia estar curada dos sintomas depressivos. Nas fotografias aparece na praia e em festas com amigos, com aspecto que, no entendimento da seguradora, demonstra que a jovem estavatotalmente recuperada.
Embora a questão esteja a ser tratada pelo advogado, com as alegações consequentes, o certo é que o caso demonstra haver profissionalismo no controlo do dinheiro e a razoabilidade do seu destino. Portugal tem muito a aprender com este e outros exemplos que chegam do estrangeiro.
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terça-feira, 25 de novembro de 2008
Carta aberta à ministra da Educação
Começando pelo cumprir do mais elementar dever de apresentar as minhas desculpas por, sem que Vª. Excia me conheça, e só a conhecendo eu pela T.V., vir usar deste meio para lhe apresentar dois problemas que creio pertinentes, ouso justificar-me com o facto de ser um cidadão votante, já aposentado, sem ser do seu Ministério, pai de docentes, avô de discentes e também casado com uma docente aposentada.
Serei, provavelmente, algo presunçoso ao julgar-me em posição de poder focar os assuntos que irei expor. Creio, porém, que quarenta e quatro anos de serviço público, todos eles (à excepção do período de menos de um ano e pouco do serviço militar) face a face com algum semelhante meu, perante o qual representava o Estado, e sempre na difícil tarefa de, sob alguma forma, procurar compor litígios jurídicos em que com outrem estivesse envolvido, me terão dado alguma experiência da vida que, com a referida presunção, ouso colocar à disposição de Vª. Excia.
Assim, e passando ao que interessa, uma coisa, de todas as vezes que a vi ou ouvi, me impressionou profundamente. Foi ela o ar de cansaço e de quase tristeza que Vª. Excia manifesta e uma muito particular crispação no expor das suas razões, sugerindo uma aparente convicção de que quem à sua frente se encontra pertence à “espécie inimiga”, sempre à espera de a poder rasteirar.
Ora Vª. Excia tem, ninguém duvidará, uma mais que espinhosa missão de argumentar simultaneamente com professores e seus sindicatos, com pais e sua confederação e com alunos e suas associações e, ainda, com órgãos executivos das escolas e se conselho, cada um com seus interesses e suas dúvidas, cada um a desconfiar possivelmente de todos os outros. Não é preciso raciocinar muito para adivinhar um ambiente de “cortar à faca” com o ar carregado de electricidade. E em qualquer reunião, naturalmente, cada um exibindo o rosto mais lúgubre que imaginar se possa. Será uma verdadeira velada fúnebre.
Aqui surge, então, a minha primeira ideia. Será, por certo, necessário um grande esforço para o conseguir, mas um sorriso aberto, descontraído, inculcando a convicção de que todos têm as melhores das intenções, e até pode ser verdade, e de que tudo vai correr às mil maravilhas é desarmante. Creia-me, Senhora Ministra, poucas vezes consegui, na vida, ver as outras partes, face a um sorriso aberto “de orelha a orelha”, aguentarem afiveladas as máscaras que traziam.
Segundo ponto, Senhora Ministra, e mais atrevido, pois não é crível que o ignore quem, na sua vida anterior atingiu os patamares que Vª. Excia atingiu, não o podendo também eu desconhecer: se é facto que a progressão automática numa carreira com responsabilidades é o pior dos males na administração pública, uma classificação do servidor do Estado, que se impõe para efeitos de progressão na dita carreira, pode ser também uma arma letal, e digo-o com toda a consciência. Uma classificação dentro, por exemplo, de uma secretaria, não terá, em princípio, efeitos secundários. Simples juízo sobre produtividade ou perfeição no trabalho, pode envergonhar quem não alcance determinadas bitolas mas tenderá a ficar dentro de portas, A classificação, porém, de um docente, como a de um magistrado, de um médico, de um notário (quando era servidor do Estado) e de outros profissionais que, na sua actividade, só poderão ser credíveis e só poderão ser respeitados se tiverem impoluta a sua reputação, qualquer nódoa nesta corresponderá a uma morte, digo e repito, morte funcional. Quem respeitará um juiz, um médico ou um professor, ou respeitaria um notário, sabendo-o mal classificado? Quem irá ou iria procurar os seus serviços se tiver a faculdade de escolher?
Quererá isto dizer que o seu trabalho não deverá ser classificado? Nem por sombras. Mais que quaisquer outros deverão ser julgados, mas pelos reflexos práticos que a sua classificação terá perante os destinatários dos seus serviços, esta classificação deverá ser programada e executada “com pinças”, tendo toda a filosofia dessa classificação de ser pensada por todos sem excepção, em conjunto, sem ideias feitas e com a maior calma e reflexão.
De resto, e pelo menos desde Copérnico e de Galileu, quem poderá garantir que uma solução é a única?
Tudo querer fazer numa legislatura, e isto já nem será com a Senhora Ministra, só induz a convicção de que o apressado tem consciência plena de que, no momento do apuro de contas, o seu destino será a rua, o que o obriga a andar depressa para tentar um lugarzinho na História.
Mas quem sabe se, numa manhã de sexta-feira, com ou sem nevoeiro, não irá surgir, ainda este mês, qual D. Sebastião, alguma novidade que possa devolver às nossas escolas aquele mínimo de calma que os seus alunos justificam.
E desculpe, uma vez mais, Vª. Excia toda a mais que evidenciada presunção.
deste humilde votante que, até aqui, o foi
João Mateus
NOTA; Caro João Mateus, não tenho palavras para traduzir o prazer da leitura de um texto em estilo tão eloquente e bem estruturado. Mas quero salientar um ponto: embora não seja dito de forma muito clara, está subentendido que todas as negociações e reuniões entre as partes em «conflito» não deixarão, certamente, de ter permanentemente presente os objectivos da acção de todas e de cada uma das entidades abrangidas como agentes da formação das crianças de hoje, cidadãoas de amanhã.
A obsessão estatística dos resultados escolares oculta esses objectivos que devem ser orientados para criar um corpo sólido de cientistas, gestores, técnicos, etc. preparado para garantir o desenvolvimento do futuro País e o bem-estar da população. Nunca será demais chamar a atenção para os reais objectivos do ensino. A propósito da tristeza e crispação, julgo que a educação das crianças deve ser feita com alegria, entusiasmo, e olhos postos na aprendizagem de coisas enriquecedoras propiciadoras de uma vida cheia de sucessos.
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A. João Soares
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quarta-feira, 7 de maio de 2008
Operação às cataratas, sem fazer render o peixe
Transcrevo este artigo da Visão, recebido por e-mail, com notas finais, ao que nada acrescento por não considerar necessário.
"Olhos nos olhos" – Artigo assinado por Teresa Campos na "Visão" de 10/4/2008
Por uma questão de curiosidade, e porque muitos dos destinatários nasceram ou moram nesta terra, ou visitam com frequência o Barreiro, vou reproduzir uma pequena notícia que vem publicada na revista "Visão" de quinta-feira passada, com o título acima indicado e o sub-título "Em apenas 6 dias um oftalmologista espanhol limpou a lista de espera da cirurgia às cataratas, no Hospital do Barreiro"
"José António Lillo Bravo, 45 anos, oftalmologista espanhol, instalou-se de armas e bagagens, como quem diz, com equipa e equipamento, no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, e reduziu drasticamente a lista de espera das operações às cataratas; precisou apenas de seis dias - seis! - para devolver a visão a 234 pessoas.
O procedimento é simples, faz-se em poucos minutos, só com anestesia local; o oftalmologia aplica o método (facoemulsificação) há mais de uma década, e permite ao doente voltar para casa no dia da intervenção. E pelos seus próprios pés.
Sem pudores, José Bravo precisa que, nos dias em que esteve no Barreiro, e com a ajuda da sua equipa, fez 48 intervenções diárias : 24 de manhã e 24de tarde – contra as 50 por ano, em média, dos médicos locais, e que resultaram, no final de 2007, numa lista de espera de 384 pessoas.
Por cada cirurgia, o espanhol, recebeu 900 euros. Um valor que, garante a administração do Hospital, é compensador: corresponde a metade do preço pedido pelos médicos portugueses."
Fim do artigo. Assinado: Teresa Campos.
(Revista Visão)
Notas que vinham no e-mail:
1. Agora digam se vivemos ou não num país de "gente" sem escrúpulos
2. Nem todos os médicos portugueses trabalham por amor à arte, é mais por amor ao dinheiro... Não é novidade para mim, mas o profissionalismo deste médico espanhol é de admirar!
3. O problema é que os médicos portugueses tiram o curso de mercenários
4. Grande parte da "classe médica portuguesa" deveria estar com vergonha!
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A. João Soares
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sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Ajudar não é coisa fácil
Ajudar poderá significar o exercício de um esforço em colaboração com o agente principal da acção em curso, com vista a incrementar os resultados do esforço total, aliviando um pouco o daquele agente.
A ajuda só se compreende quando for desejada pelo agente principal e que este a saiba utilizar com vista a potenciar o seu esforço, obtendo melhores resultados. Quem ajuda deve ter a sensatez e o cuidado de coordenar o seu esforço de forma integrada com a acção e os resultados pretendidos, evitando substituir o agente principal ou a ele se sobrepor.
Hoje, numa visita rápida a dois jornais diários, retirei cinco títulos que nos fazem meditar seriamente neste assunto.
- Um dos títulos coloca em evidência a oferta de um carro de lixo que já não está em condições de exercer a função para que foi construído. Em «Moçambicanos e mal agradecidos» o autor com muita ironia, diz « O camião do lixo que Rui Rio ofereceu à Cidade da Beira e esta recusou poderá "não conferir" utilização na recolha do lixo, mas sempre há-de "conferir" outra utilização qualquer. A Câmara da Beira poderia, por exemplo, oferecê-lo por sua vez à Câmara de Ouahigouya (Burkina Faso), esta à Câmara de Phuntsholing (Butão), esta à de Tanjakent (Tajikistão), esta à de Natitingou (Benin), esta à de Nak'fa (Eritreia), e por aí fora, e o camião do lixo do Porto tornar-se-ia (como os medicamentos fora de prazo que as multinacionais farmacêuticas desinteressadamente doam aos países pobres, poupando milhões em impostos) num verdadeiro embaixador da generosidade internacional, perpetuando o nome de Rui Rio junto dos descamisados de todo o Mundo. A coisa seria ainda mais louvável se o génio económico de Rui Rio se tivesse lembrado de, em vez do camião, oferecer o próprio lixo da cidade (e por que não mesmo a vereação PSD/CDS?) ao Terceiro Mundo.» Não são necessários comentários.
- Em «Ajudar não é para todos» são bem expressivas as seguintes palavras: «A trapalhada em que caiu a ONG Arca de Zoé, no Chade, demonstra que o trabalho humanitário é sério de mais para ser deixado nas mãos de amadores. Dir-me-ão que amador e amar estão ligados e que sem amar não se pode fazer trabalho humanitário. Pois acho preferível a secura profissional. De boas intenções estão os campos de refugiados cheios de gente que só atrasa e, isso, com a presunçosa intenção de ajudar. (...) Os lugares de intervenção das ONG são por definição trágicos. O mínimo de prudência aconselha que para essas circunstâncias tão más só acorra quem sabe. É como num incêndio: pataratas só servem para atrapalhar os bombeiros. Entre os crimes da Arca de Zoé já há este, provado: atrapalharam as ONG sérias.»
- Em «Arca de Zoé e crianças do Chade» podem destacar-se as seguintes palavras «Os elementos da ONG (organização não governamental) Arca de Zoe podem até merecer o benefício da dúvida quanto às suas intenções. Mas são indesculpáveis na sua irresponsabilidade. Estes "amadores", como escreveu em editorial o Libération, foram longe de mais. Ao tentarem levar 103 crianças do Chade para França - pelas quais várias famílias francesas já tinham pago milhares de euros -, puseram em causa toda a constelação de ONG. Países como o Sudão já ameaçaram expulsar as organizações humanitárias estrangeiras. (...)
A acção humanitária é algo de nobre. Mas é preciso cautela, porque sob a sigla de ONG se escondem realidades muito diferentes. Tanto pode haver uma Arca de Zoe como uma Amnistia Internacional com o seu profissionalismo irrepreensível. Quando se trata de vidas, profissionalismo é o mínimo que se pode exigir. Não chegam boas intenções.
- Em «Crianças raptadas tinham pais e não eram de Darfur» pode ler-se «Um relatório de duas agências da ONU e da Cruz Vermelha, ontem divulgado, afirma que a maioria das 103 crianças africanas que um grupo francês planejava levar do Chade para a Europa tinha famílias. O relatório diz que 91 das crianças vieram de um lar com "pelo menos um adulto considerado um dos pais" e que, portanto, não eram órfãs, como alegavam os franceses. O documento também afirma que a maioria das 21 meninas e 82 meninos, com idades entre um e dez anos, veio de aldeias no Chade, perto da fronteira com o Sudão, e não das zonas de conflito de Darfur, contrariando outra alegação dos franceses que pertencem à Arche de Zoé.»
- No artigo «Sentimento anti-ocidental está a crescer no Chade» lê-se «O governo de Idriss Deby já declarou que os ocidentais se aproveitaram do conflito de Darfur e que não seria a primeira vez que os franceses fariam tráfico de crianças. O governador do sul de Darfur afirmou: "Todos sabemos que as ONG ocidentais têm um impacto negativo na cultura islâmica. Dizer que há demasiadas aqui não é uma opinião, é um facto". Entre a população e nos jornais, os estrangeiros, à excepção dos árabes, são agora vistos como esclavagistas e raptores. Um dos diários publicava: "Negreiros violadores dos tempos modernos". E Idriss Deby, responsável pela campanha, incendeia a fogueira do nacionalismo africano e do perigo do neo-colonialismo, recusando, que esta seja uma forma de hostilizar a presença ocidental no Darfur, e de paralisar as conversações de paz para a região, organizadas pela ONU na Líbia.»
Enfim, não bastam as boas vontades. É preciso saber actuar de modo a não produzir catástrofes em vez de salvar vítimas das circunstâncias. O bom senso é indispensável. A adequada preparação prévia é fundamental. A escolha criteriosas dos componentes das missões das ONG é imprescindível. AJUDAR NÃO É TRABALHO PARA MEROS AMADORES.
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A. João Soares
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