Ontem na Madeira, a comissão regional do PS-Madeira aprovou, por unanimidade, um voto de protesto contra os elogios de Jaime Gama a Alberto João Jardim. Toda a oposição madeirense, do CDS-PP ao PCP, contesta tais declarações do presidente da Assembleia da República, na abertura do Congresso Nacional da Anafre, considerando-as inoportunas.
Isto poderia parecer um fait-divers, mas merece ser analisado como um sintoma, mesmo uma evidência, da forma de fazer política partidária em Portugal. Seria desejável que os partidos assumissem ser sua função procurar as melhores soluções, em conformidade com as suas ideologias, para os problemas mais graves do País. Mas, como se vê, na falta de capacidade para superarem os rivais na apresentação de propostas construtivas para criar melhor nível de vida para os portugueses, principalmente para os mais desprotegidos, procuram vencê-los à canelada, depreciando-os, denegrindo-os, à força de golpes baixos, em que todos os truques são válidos.
Jaime Gama, a segunda figura da estrutura do Estado, que por isso é merecedor de todo o respeito, foi honesto ao apreciar qualidades positivas de João Jardim. Ninguém discordará que, em qualquer sector, as pessoas têm qualidades e defeitos, não sendo de espantar que Jardim as tenha. Mas se Gama assim pensa, o mesmo não se passa com os politiqueiros profissionais, de baixo nível, que se esmeram na politiquice de denegrir o adversário, porque não conseguem fazer melhor. E seria mais meritório obter relevância à custa de melhores iniciativas do que as dos rivais.
Esta é uma oportunidade para meditarmos naquilo que os políticos consideram ser a sua estratégia de conquista e manutenção do poder, agredindo-se e ignorando os problemas essenciais do País. E, curiosamente, estas rivalidades não existem apenas entre partidos, mas também entre militantes dos partidos sem se importarem nos prejuízos que isso possa causar em termos de resultados eleitorais. Pensam nos interesses próprios e pouco mais.
segunda-feira, 31 de março de 2008
Como se faz política por cá!
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domingo, 30 de março de 2008
Processo disciplinar a militar reformado
Transcrição do Portugal Club:
A COMIL, Comissão de Militares
Fomos todos surpreendidos com uma notícia saída no Diário de Notícias de hoje, segundo a qual, o Chefe do Estado-maior da Força Aérea (CEMFA) instaurou um processo disciplinar ao coronel, há vários anos na situação de reforma, Luís Alves de Fraga.
Os motivos prendem-se com a denúncia, efectuada no Blog “Fio de Prumo” da autoria daquele prestigiado militar, da gravíssima situação existente no Hospital da Força Aérea Portuguesa (FAP) no tocante ao deficiente atendimento da generalidade dos militares seus utentes. O texto da denúncia era acompanhado de fotografias de longas filas de espera de militares para serem atendidos naquele hospital.
Recordamos que, na reorganização da Saúde Militar que o Governo pretende levar a cabo, este Hospital é aquele que está indigitado para ficar a prestar os cuidados de saúde a um universo de militares cinco ou seis vezes superior ao actual.
Se agora é assim, ficamos com uma ideia do que nos espera!
O CEMFA, incomodado com a denúncia, ao invés de tentar resolver o problema, optou por atitudes que são atentatórias dos mais elementares direitos de cidadania consagrados na Constituição da República.
É uma decisão inédita. Depois de nos últimos dois anos, terem sido levantados 50 processos disciplinares a militares na efectividade do serviço, alguns deles já castigados, por exercerem os seus direitos cívicos consagrados na lei, é a primeira vez que esta onda repressiva chega a um militar na situação de reforma. Isto apesar de estar bem explícito na lei que o Regulamento de Disciplina Militar é aplicado aos militares na efectividade de serviço e numa altura em que os militares castigados reclamam uma amnistia.
A argumentação é, no mínimo, falaciosa. Como é que um militar na situação de reforma tem capacidade para colocar em causa a “Coesão e Disciplina na FAP”?
Se algum chefe militar se sente ofendido na sua dignidade, honra e bom nome tem o direito e o dever de recorrer aos tribunais para se defender. Então porque o não faz? Tem medo de quê? Será que é por nos últimos tempos várias decisões dos tribunais terem dado razão aos cidadãos militares contra as pretensões das chefias militares?
Desde a tomada de posse deste Governo, os cidadãos militares têm estado sujeitos a sevícias indignas de um Estado democrático. O Governo e os seus agentes no interior das Forças Armadas continuam a optar pela repressão, mesmo sobre aqueles que estão na posse de todos os seus direitos constitucionais, em plena igualdade com os restantes cidadãos.
Por isso devemos denunciar castigos desta natureza.
Os direitos de cidadania asseguram-se, exercendo-os.
O comportamento determinado, disciplinado e persistente que tem caracterizado a actuação dos militares é disso a prova cabal.
A verdade e a justiça virão ao de cima.
30 de Março de 2008
A COMIL, Comissão de Militares
NOTA: Deixa-se aqui um apelo aos bloguistas para apoiarem com os seus comentários o Sr. Coronel Luís Alves de Fraga. Poderão deixá-los neste post, no post recente neste blog «Proibido dizer ‘o rei vai nu», ou no blog «Fio de Prumo».
Temos que evitar um Portugal novamente amordaçado.
Posted by A. João Soares at 22:07 12 comments
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Francisco Veloso recebe prémio internacional
À semelhança de vários posts anteriores, trago aqui a notícia de mais um português, Francisco Veloso, que recebeu um prémio internacional de prestígio. Casos como este e os anteriormente citados demonstram que Portugal tem, felizmente, cabeças para conseguir o desejado desenvolvimento. O que faltam são dirigentes políticos patriotas, competentes, dedicados aos interesses do País, isto é, dos seus cidadãos.
Todos os anos, a corrida às bolsas da Fundação Sloan trava-se num clima de forte concorrência, devido à visibilidade académica e ao reconhecimento público que lhe estão associados: 36 antigos bolseiros chegaram a Prémio Nobel. Alfred Sloan foi um dos primeiros presidentes da GM e um dos grandes impulsionadores do que veio a ser o maior construtor automóvel do mundo. Com parte da fortuna que fez, lançou a Fundação Sloan, a qual está por detrás de uma das mais prestigiadas escolas de Gestão, a Sloan School of Management, e criou bolsas para jovens investigadores. O apoio começou por ser para a área da ciência, mas há quatro anos foi alargado à investigação ligada à indústria real: indústria automóvel, tecnologias da informação, software e serviços financeiros.
Francisco Veloso é um dos cinco premiados este ano pela Fundação Albert Sloan pelo seu trabalho académico ligado à indústria automóvel, sendo também o primeiro português a receber esta distinção da conceituada entidade norte-americana atribuída a jovens investigadores com carreira nos EUA ou no Canadá, nas áreas da ciência, tecnologia e competitividade económica.
Francisco Veloso, de 38 anos, actualmente a repartir o tempo como professor nas universidades Carnegie Mellon e Católica, reconhece, satisfeito, que este é um "bom prémio" pelo trabalho que tem desenvolvido tanto nos EUA como em Portugal, cruzando cada vez mais a mudança tecnológica com o empreendedorismo e a engenharia com a economia. A forma como as empresas devem organizar, com sucesso, as suas capacidades tecnológicas em cadeias de valor, como a indústria automóvel, é o seu ponto de partida. Considera-a também a sua "área genérica de trabalho".
Tem seguido duas linhas de investigação.
- Uma tem por referência o Clean Air Act, a lei do ar limpo que começou com Richard Nixon na Presidência dos EUA, e as medidas ambientais tomadas desde então para o sector. "De cada vez que é aprovada legislação ambiental mais restritiva, aumenta o número de patentes", revela Francisco Veloso, o que significa que "as empresas, nessas alturas, são mais inovadoras. Investem e mexem-se".
- A segunda área de estudo refere-se ao que chama a "coerência tecnológica das empresas automóveis", provando que "as empresas devem manter coerência tecnológica para que o seu desempenho não baixe", que é o que acontece quando "diversificam para áreas não relacionadas", nomeadamente para as que adoptaram os padrões de qualidade da norma Iso 9000.
Para melhor conhecimento do tema desta notícia, sugere-se a leitura dos seguintes artigos do Público de 30 de Março:
- «Primeiro português distinguido pela Fundação Sloan»,
- «O peso da Sloan»,
- «Centro de Engenharia da Maia».
Posted by A. João Soares at 16:42 2 comments
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sábado, 29 de março de 2008
Proibido dizer «O rei vai nu»
O sr. coronel reformado da FAP, Luís Alves de Fraga, autor do blogue "Fio de Prumo", está submetido a processo disciplinar por criticar as «longas filas» de militares para marcar consulta no Hospital do ramo (ver DN).
Alves Fraga considerou que "As chefias responsáveis (...) já deviam ter tomado medidas contra tal estado de coisas", e questionou-se se "não serão os Serviços do Estado-Maior da Força Aérea competentes para estudarem e resolverem o problema da marcação das consultas do Hospital".
Segundo o advogado de defesa, a nota de culpa diz que «aquelas afirmações violam o Regulamento de Disciplina Militar (RDM) por ferirem a dignidade, a honra e o bom nome das chefias da FAP e, em particular, do seu chefe do Estado-Maior, serem atentatórias da coesão e disciplina na FAP e denotarem, ainda, falta de respeito por aqueles generais e pelos cargos que ocupam».
Segundo o mesmo, este processo é ofensivo dos mais elementares direitos constitucionais dos cidadãos e até do regime democrático". Como "o militar na reforma não se encontra sujeito às restrições constitucionais relativas à liberdade de expressão", o advogado garantiu ao DN estar-se perante "um problema de liberdade de expressão", onde o recurso ao RDM pela FAP visa "humilhar publicamente alguém que pela sua verticalidade, coragem e saber merece a consideração de todos".
Desde muito novo, que conheço um aforismo, segundo o qual, «o comandante é responsável por tudo o que na sua unidade se faz ou deixa de fazer». Por isso, as autoridades que superintendem nos referidos serviços não podem alijar a responsabilidade pelo que de menos bom neles ocorra. E, num funcionamento normal, elas sabem – ou pelo menos devem saber - o que se passa, e devem tomar medidas para corrigir o que exigir correcção. Como as deficiências são reais, é lógica a dúvida se existe competência para serem estudadas e resolvidas, pois podem ser de tal modo complexas que ainda não tenha sido possível resolvê-las com os meios existentes.
É estranha a actuação da autoridade ao invés da moral da história que nos relata o elogio ao miúdo que teve a sinceridade de dizer «o Rei vai nu». A posição do sr. coronel foi a de alertar para uma situação que causa desconforto a utentes do hospital em posição de debilidade e de sofrimento. Mas num visível mau uso da autoridade, em vez de exercer o esforço no sentido de eliminar rapidamente a deficiência relatada, procura calar o mensageiro. Isto não é próprio de uma democracia.
Parece que aquilo de que o processo acusa o mensageiro, é uma «falta» de que devem ser acusados os responsáveis pelos serviços até ao mais alto escalão. Com efeito, a existência das deficiências referidas fere a dignidade, a honra e o bom nome das chefias da FAP (e de todos os militares do ramo) e, em particular, do seu chefe do Estado-Maior, e é atentatória da coesão e disciplina na FAP e afecta o respeito que deve ser merecido pelos generais e pelos cargos que ocupam.
Será desejável que tais deficiências e outras do género sejam corrigidas logo que detectadas, para a coesão de todos os militares e para a dignidade, a honra e o bom nome destes e das chefias. Portugal precisa de Forças Armadas prestigiadas e de um espírito positivo e colaborante dos seus elementos, do seu capital humano, a todos os níveis.
Ao sr. coronel Alves de Fraga, desejamos que não seja molestado nas suas qualidades, publicamente reconhecidas, de verticalidade, coragem e saber, de que deu provas, mais uma vez ao denunciar, as deficiências referidas.
Posted by A. João Soares at 10:47 0 comments
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sexta-feira, 28 de março de 2008
O Poder corrompe as pessoas mal formadas
Em regime democrático, não parece imaginável a ausência de partidos políticos, mas não será desejável, será mesmo arrepiante, que estes esqueçam a sua função de factores positivos e construtivos do desenvolvimento do País, isto é dos cidadãos, e se concentrem apenas nos benefícios dos seus sócios e aderentes e na luta interpartidária para reforçar as suas benesses, criando situações de injustiça social e de inoperância do Estado.
Conforme notícia de hoje do jornal PÚBLICO, Leonor Beleza, a partir "de dentro", da sua experiência como ministra da Saúde e dirigente do PSD, acusou ontem os chamados "partidos do poder" de se terem entendido na "conveniente posição de que os quadros de topo da administração pública constituem um troféu de quem ganha as eleições". Apelou a uma "pressão pública" que leve "os partidos a dominarem as suas hostes e a arrepiarem caminho".
Colocando-se sempre na perspectiva de quem lutou contra a "tentacular expansão da influência partidária", ela denunciou "um mundo ao contrário", com "profissionais da política - sem experiência de vida nas empresas, no sector público ou na intervenção cívica - nos lugares de topo da administração pública". Frisou que este movimento tentacular "atingiu graus [que eram] inimagináveis, ao princípio", mas admitiu que a tendência é antiga. Porém, admitiu "Não posso dizer que as experiências longínquas que vivi no Governo não tenham já conhecido muitos episódios contrários à minha filosofia de separação completa de águas".
As funções políticas, em benefício dos interesses superiores do País, de acordo com as teorias da pura ciência Política, deveriam ser de sacrifício, de abnegação e de generosidade intelectual. Mas as amostras que nos chegam diariamente evidenciam o contrário. Os partidos digladiam-se para conquistar e manter o poder, e dentro deles os militantes lutam entre si para obterem o melhor naco na distribuição dos tachos. Viu-se dentro do partido do governo em vésperas das eleições internas para escolha do líder, das eleições presidenciais, das eleições para Câmara de Lisboa e em momentos em que estão em discussão casos mais mediáticos, memo que sem valor nacional, como os piercings é outros.
Também em partidos da oposição, aí sem olhar aos custos perante a proximidade de eleições legislativas se arranham uns aos outros em busca de notoriedade de poder interno, de projecção na Comunicação social. Está a ser muito criticável a fragmentação que vários militantes do CDS e do PSD estão a produzir nestes partidos, de que resultará prejuízo interno e para o País. O egoísmo pouco inteligente dá aos cidadãos a noção de que ninguém merece o seu voto, e que a decisão mais lógica será o voto em branco, poupando a esferográfica e não sujando o boletim.
Mas voltando às palavras de Leonor Beleza sobre a partidarização das instituições públicas, estão frescas na nossa memória as sujeiras do caso do professor Charrua e a perseguição de uma directora de centro de saúde, no distrito de Viana do Castelo, em cujos fundamentos ressalta ser casada com um autarca de partido da oposição, tendo sido substituída por um simpatizante do partido do governo embora sem experiência para o cargo. Ao dar empregos aos «boys» e às «girls» não se olha a competência e capacidade para o desempenho das funções. Efectivamente, em vez de nomeações partidárias, por confiança política, os gestores e directores públicos devem ser escolhidos por concurso público aberto a todos os que satisfaçam às condições exigidas. E a avaliação do desempenho na função pública é muito influenciada pela cor política, o que segundo se diz, acontece mesmo nas forças armadas e nas de segurança, onde os valores eram cultivados com veneração.
Enquadra-se neste tema a notícia carreada pelo Correio da Manhã sobre a suspeição de irregularidades graves, próximas do milhão de euros, detectadas na Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (APVG), com a provável conivência de indivíduos ligados a partido no poder. Uma administração pública assim dirigida, com inversão de valores, laxismo, permissividade e predominância de egoísmos, tendo outras prioridades diferentes das do interesse público, não é a melhor para os cidadãos, para o País internamente e para o Estado na sua posição internacional perante os parceiros.
Perante este quadro, que se nos apresenta quase diariamente, como me sinto venerador da memória do Comandante Domingos Palma, citado no post anterior!!! Homens de tal têmpera são hoje muito raros e, os que existem, não estão na política. Desculpem-me aqueles que constituam eventuais excepções.
Posted by A. João Soares at 16:12 0 comments
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quinta-feira, 27 de março de 2008
Domingos Palma, um exemplo a seguir
Vale a pena, pelos ensinamentos que encerra e pelo insólito da situação, recordar um pormenor picaresco do desempenho extraordinário de Domingos Manuel Fialho Palma (falecido em Cuba, sua terra natal, em 5 de Setembro de 1996) na Transtejo, seguindo um texto de Eduardo Maria Rato Martins Zúquete.
No seguimento do movimento do 25 de Abril e na época tumultuosa e vertiginosa dos governos provisórios –cuja vivência forte, poderosa, agreste só a nossa geração e as próximas estão em condições de plenamente avaliar – o nome do Domingos apareceu em cena. As várias empresas que detinham a concessão do transporte fluvial no Tejo na região de Lisboa tinham desaparecido, volatilizadas na turbulência política e sindical da época e arruinadas por uma gestão decadente e pouco esclarecida. A inauguração da ponte sobre o Tejo, em Agosto de 1966, liquidara, pela mais fácil concorrência rodoviária, um monopólio mal organizado e não teria havido a clarividência de prever que a ponte até poderia ter ajudado o sistema fluvial a se reordenar de uma forma mais conveniente. Tinham ficado apenas ruínas – administrações ausentes, barcos abandonados e desprovidos de condições de navegabilidade, pessoal entregue à sua sorte, lamentando-se e exigindo imperiosamente o céu e a terra.
Entendeu-se então, depois do declínio e da agonia lenta e mal assumida, que era indispensável e urgente reabilitar o transporte fluvial, particularidade única de Lisboa e da Grande Lisboa, que muitas vezes não tem sido avaliada nem correctamente estimada, e que, para o efeito e com vista a tirar o maior partido da situação, havia que reunir numa empresa pública única todas as diversas (sete, salvo erro) concessões de travessia – empresa essa que, de início, tinha um nome complicado e gongórico mas que alguém mais esclarecido acabou por crismar simplesmente de Transtejo, nome sugestivo e forte que perdura. E confiou-se a presidência da sua administração à CP, que será o parceiro mais robusto e mais bem equipado d grupo ma que minuciosas ou mesquinhas razões, não sei ao certo, acabaram excluindo da parceria – aparentemente com prejuízo do sistema, certamente com prejuízo do utentes,
Mas, além disso, era preciso encontrar um nome de perfil raro para gerir não só o quotidiano da organização como também o seu inadiável reordenamento. Pedia-se alguém que conhecesse bem o meio marítimo e as circunstâncias empresariais, que soubesse lidar com a administração pública e com os diferentes sindicatos, que tivesse boa preparação de gestão ou de economia e uma assinalável capacidade de liderança. E por cima de tudo, que tivesse coragem física, disponibilidade total, gosto pelo risco, sentido apurado do dever e, em particular, um entusiasmo genuíno e contagioso de nível muito acima do razoável.
O membro do Governo responsável anunciou o caderno de encargos, recortou o perfil, pediu nomes. E alguém sugeriu o Domingos Palma: oficial de Marinha na reserva, administrador de uma empresa que fechara as portas recentemente, com frequência adiantada do curso de economia e então desempregado – obedecia com justeza a parte do caderno de encargos. O resto das condições só quem o conhecesse poderia avaliar e havia de fazer fé nas referências: o «boneco exterior» dava, por vezes, uma frouxa réplica da riqueza interior.
Domingos aceitou o convite sem alegria nem pesar, sem exclamações de júbilo ou de desgosto. Era uma missão, mais uma missão, e havia que a cumprir – da maneira melhor que soubesse e pudesse, com lealdade, firmeza e empenhamento. Era esta a sua escola, a sua postura neste mundo. E foi exactamente assim que sucedeu, posso testemunhá-lo.
Não cabe nos estreitos limites desta pequena notícia descrever o que foi a actuação do Domingos Palma à frente dos destinos da Transtejo – porque, em pleno entendimento com o seu presidente, engº Seixas, foi ele que transformou profundamente todo o quadro empresarial e funcional da organização e, com ela, dos transportes da Grande Lisboa; é, portanto, uma longa, rica e movimentada história que merecia ser investigada, coordenada e escrita mas que, muito provavelmente, ficará sepultada no esquecimento pelos motivos do costume: modéstia de uns, incúria de outros, inveja de terceiros.
Mas vale a pena, pelos ensinamentos que encerra e pelo insólito da situação, recordar um pormenor picaresco desse desempenho extraordinário.
De todos os problemas que Domingos Palma enfrentou de início, aquele que parecia de mais difícil solução era o da indispensável renovação da frota. Havia que substituir embarcações velhas e inseguras, havia que preencher vazios na frota para melhorar os serviços de transporte. A resposta dos estaleiros portugueses consultados era cara e lenta – o preço parecia limitar fortemente a quantidade de embarcações a encomendar, elo menos de momento, mas o mais preocupante era a demora, quase insuportável. Os estaleiros também tinham as suas razões – problemas de desinvestimento, instabilidade laboral afinando pelo diapasão da instabilidade política vigente, dificuldade em programar e cumprir preços e prazos. Além disso, não havia rotina de encomendas naquela área, havia que redesenhar, ganhar experiência, readquirir o «saber como» indispensável que fora interrompido ou negligenciado durante anos. Enfim e à primeira vista, o problema não pareça ter qualquer solução.
Foi então que Domingos teve conhecimento – estou para saber como mas creio que aconteceu no decurso de uma conversa casual – que a empresa de transportes fluviais de Hamburgo, a HADAG, tinha excedentes da sua frota. Fora aberta ao público uma nova travessia rodoviária sobre o Elba e o tráfego fluvial decaíra consistentemente: havia embarcações encostadas sem afectação de serviço, imobilizadas, fortes candidatas a prematuro abate. Um telefonema simples terá confirmado a disponibilidade e o interesse do operador alemão em as alienar.
Domingos Palma não hesitou e marchou imediatamente para o Norte da Europa, em visita de avaliação e sondagem a várias capitais e vários operadores de transportes marítimos e fluviais, e, muito especialmente, para Hamburgo, onde permaneceu mais demoradamente mas não aderiu aos padrões que seriam habituais na circunstância: preferiu levar a família e instalar-se, em férias, num parque de campismo local. Enquanto a família gozava os passeio e as férias, Domingos negociou longamente com a HADAG do modo peculiar de que só ele tinha a receita: com avanços e recuos, cedências e intransigências, rigor e diplomacia, simpatia e dureza, paixão e desapego.
No final, os resultados foram espectaculares: pelo preço de uma única embarcação nova nos estaleiros nacionais e a prazo longo, a Transtejo obtinha, imediatamente 4 embarcações em excelente estado de conservação, revistas e aprontadas para um novo período de serviço, já pintadas com as novas cores e o novo logótipo da empresa e ainda equipadas com os jogos apropriados e habituais de sobresselentes (veios e hélices, designadamente). No preço estava ainda incluído o custo do transporte em pontão trazido por rebocador de alto mar, de Hamburgo para Lisboa, custo nada negligenciável. Era um fôlego novo para uma empresa completamente asfixiada.
Todavia, o ambiente toldou-se um tanto no final. Os homens da HADAG perguntaram ao Sr. comandante em que hotel ele estava alojado, para lhe enviarem a documentação final do processo, e ele, com o ar mais natural deste mundo, soletrou o nome do parque de campismo onde aboletara. Sorrido cortês dos alemães, que não escapou nem agradou ao Domingos mas cujo verdadeiro significado ele não podia adivinhar.
Despediram-se as partes contratantes, haveria agora um compasso de espera. O acto final iria verificar-se em determinado dia no cais, quando estivessem concluídas todas as tarefas agendadas e contratadas – pintura, revisão, embarque em pontão, cabo de reboque passado, tudo a postos para a largada.
No dia aprazado, o Domingos apresentou-se no cais de Altona e ficou estarrecido com o que viu. Certo, lá estavam, alinhadas aos pares, as quatro embarcações recém-adquiridas, flamejantes no seu laranja-e-branco acabadinho de pintar, o duplo TT da Transtejo intrigando os marítimos locais que desconheciam o logótipo, os respectivos sobresselentes estendidos e bem amarrados na base do pontão. Mas, surpreendentemente, havia uma coisa nova, uma coisa a mais: outro barco! Encarrapitado na plataforma da vante do pontão, atravessado por falta de espaço, uma quinta embarcação, bastante mais pequena e aparentemente mais idosa, repousava nos seus picadeiros, bem amarrada e pronta para a longa viagem. E também ela rejuvenescida, pintada de fresco, com o novo logótipo estampado na chapa, vidros e cromados cintilando ao sol matinal do Elba.
Incredulidade, perplexidade, fúria branda – eu sei lá o que se passou pela cabeça do Domingos! Que história era aquela? Como aparecia aquele quinto barco, de que ninguém falara? E já pintado e pronto, embarcado e amarrado a bordo, materializando, sem retorno, o facto consumado!? Que história, que cabala, que equívoco produzira esta confusão?
Só posso imaginar o frenesi da situação, o desassossego do Domingos enquanto não encontrou os responsáveis e os confrontou, de cenho carregado, com a bateria inevitável de questões. Como? Quem? Quando? E…Quanto?
A resposta era simples mas inesperada: o novo barco, apenso gratuitamente à encomenda inicial, bem como toda a sua reabilitação e o seu transporte – se é que isso agravou os seus custos – eram ofertas da administração da HADAG à Transtejo. E porquê semelhante gentileza, tão pouco habitual no mundo áspero dos negócios? Simples, também: porque a administração da HADAG ficara muito sensibilizada com a atitude do administrador da empresa portuguesa, recusando mordomias fáceis e hotéis caros, quando estava lutando com dificuldades económicas para põe a funcionar minimamente a sua organização e, portanto, entendera dar, também ela, a sua colaboração às colegas portuguesas e fazia-o desta maneira. Era uma embarcação mais pequena e mais antiga, sem dúvida, mas, nas circunstâncias vigentes, talvez pudesse auxiliar a administração portuguesa a solucionar a grave crise que atravessava.
Desfez-se o equívoco, rasgaram-se os sorrisos, agradeceu-se a gentileza, reatou-se a normalidade. O recém-chegado foi baptizado de Castelo, em homenagem ao bairro de Lisboa do mesmo nome, que era ao tempo a matriz da nomenclatura, e não resta dúvida alguma que fez muito jeito, olá se fez! As cinco unidades provenientes do Elba permitiram à Transtejo encarar com mais segurança o período considerável que iria ser percorrido até começar a entrega periódica dos cacilheiros da nova geração e continuaram ao serviço mesmo depois disso acontecer, confinadas gora ao triângulo operacional Belém – Trafaria – Porto Brandão, de menor tráfego. Como este serviço apenas carecia de três unidades em, rotação, a quarta resguardava para manutenção ou reserva e a quinta passou a fazer serviço de turismo e aí, o velhinho Castelo teve os seus derradeiros momentos de glória, pavoneando-se Tejo abaixo, Tejo acima durante o tempo que durava o circuito turístico, e sempre embandeirado em arco, num permanente sorriso festivo, dádiva ímpar da Natureza, que a maioria dos portugueses ignora ou quer atravessar o mais depressa possível sem olhar.
NOTA: Trata-se de um exemplo de modéstia e rara honestidade com os dinheiros públicos. Sinto-me feliz por poder aqui dar esta prova da honradez de um português que merece ser apontado como exemplo às gerações seguintes. Repousa em paz Domingos Manuel Fialho Palma.
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Labels: Castelo, Domingos Palma, seriedade, Transtejo
terça-feira, 25 de março de 2008
Títulos da imprensa. Propaganda ou rasteiras?
Há títulos de artigos de jornais que, por serem tão chocantes podem causar asco por serem tomados por propaganda insensata ou constituírem rasteiras ao Poder por se prestarem a futuras comparações entre o prometido e o realizado.
Hoje lê-se no DN que «Portugal vai baixar em 30% novos casos de tuberculose», o que de repente parece ser um desse títulos, pois hoje, devido a factores variados nos últimos anos, o País destaca-se por ter os números mais elevados na Europa.
Depois lê-se o artigo e conclui-se que se trata de um objectivo a procurar atingir em três anos, a fim de Portugal igualar a taxa europeia de incidência da tuberculose, passando dos actuais 25,7 para 18 casos por cem mil habitantes, segundo anunciou ontem a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Para atingir este objectivo prioritário, o Plano Nacional de Tuberculose procederá à detecção de, pelo menos, 70% dos casos e destes a cura de 85% ou mais, ao final de um ano, de forma a consolidar a diminuição de casos e conter o fenómeno da multirresistência.
Segundo a ministra da Saúde, Ana Jorge, esta meta tem que assentar "na importância do trabalho dos profissionais, o cumprimento das terapêuticas, especialmente para reduzir a forma multirresistente da doença e cumprir as boas práticas", o que devido aos comportamentos da sociedade e à complexidade do fenómeno, torna difícil a aquisição do objectivo. Tem de haver persistência na acção dos profissionais e no esclarecimento dos cuidados a ter pela população.
Embora a curva dos números de tuberculose esteja a diminuir - 14% de 2006 para 2007 -, Ana Jorge garantiu que a "acção não pode abrandar", recordando que a forma multirresistente da doença tem uma "expressão muito elevada", sobretudo na área metropolitana de Lisboa.
A governante sublinhou a importância de um acompanhamento de proximidade, de forma a tentar que os doentes tomem os medicamentos de forma directa e presencial., quando for esta a única forma de combate à doença. É preciso ter êxito nestas tarefas em trabalho de equipa de profissionais e das comunidades" por se tratar de uma doença que é "sempre um risco para a comunidade por ser contagiosa".
As acções abrangem actos adequados para tratar os pacientes, rastrear as pessoas que com eles convivem e para apoio domiciliário, sem descurar o acompanhamento de populações mais vulneráveis, e dos imigrantes".
Depois desta explicação (mais pormenorizada na notícia) conclui-se que ninguém garante que se atinja o objectivo, como o título leva a crer, mas que tudo vai ser feito nesse sentido, podendo até, se houver êxito, ser ultrapassado.
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segunda-feira, 24 de março de 2008
ONGs. Uma solução para o País
Segundo notícia do «Público», de hoje, «a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) lançou ontem "um apelo a todos os pais para que exerçam o seu poder paternal junto dos seus filhos, educando-os no sentido da responsabilidade e do comportamento que devem ter em sala de aula, o seu local privilegiado de aprender".
Em comunicado, a Confap manifestou também a sua solidariedade para com a professora que foi confrontada por uma aluna da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto.
"Apela-se aos pais para que imponham regras muito firmes quanto ao uso de telemóveis pelos seus filhos", acrescenta a Confap, reconhecendo que muitos dos conflitos existentes no interior das escolas se devem ao uso indiscriminado de telemóveis. Segundo a associação, o desaparecimento da família tradicional e da escola tradicional estão intrinsecamente ligados à actual "crise da autoridade" e à "crise da educação" com que a sociedade se debate. "A sua resolução não passa pela restauração da autoridade perdida, mas pela compreensão da História e procura de novos caminhos", acrescenta.»
A solução para a revitalização do País irá residir em atitudes como esta, de organizações não governamentais, de particulares, como sindicatos, Igreja, e outras instituições privadas. São necessárias mais organizações como a Confap que contribuam para a recuperação de valores indispensáveis a uma sociedade moderna onde haja respeito por todos e sentido das responsabilidades, e as crianças aprendam cedo a ser pessoas preparadas para viver em verdadeiro ambiente democrático.
Ao Estado deixam-se os problemas «vitais» do País tais como a proibição dos piercings, a investigação das despesas com os casamentos, os casamentos de homossexuais, as leis muito elaboradas que ninguém lê nem pode aplicar, como a do controlo de armas que não fez reduzir a criminalidade violenta armada, as sucessivas alterações do Código da estrada que não reduziram substancialmente os acidentes mortais, etc, etc.
Posted by A. João Soares at 18:56 6 comments
Labels: Confap, disciplina nas escolas, papel dos pais
Arceolindo Maria Cardoso deixou-nos
A notícia chegou, dolorosa, embora não totalmente inesperada, porque há meses que era conhecido o seu complicado estado de saúde. É menos um companheiro para os nossos almoços dos equinócios e dos solstícios.
Recordo os anos de 1959-61 quando, na Guiné éramos companheiros do quarto número um no «comboio» de Santa Luzia, onde mais tarde veio juntar-se a nós outro Cardoso, o Rui.
O primeiro comandante de tropas destacadas em Bedanda, a sua viagem de regresso em que houve um ligeiro despiste de uma viatura que o Comandante–chefe quis transformar num bicho de sete cabeças devolvendo o auto para fazer acareações inúteis, apenas para mostrar que era exigente. Tudo acabou bem.
Mas a recordação mais constante era a do bom trato do Arceolindo, a sua sensatez, capacidade de diálogo, poder de convicção, vocação para mediador nos atritos entre os amigos, apetência pela cultura e pelo estudo, gosto pelos pensamentos elaborados.
Os tempos passaram, cada um levou a sua vida e a dele foi encarreirada pela Guarda Fiscal, onde também deixa amigos. E, quando a idade começou a fazer nascer, ao lado dos cabelos brancos, a saudade da juventude, e o Simões Vagos iniciou a organização dos três almoços anuais da alferezada da Guiné, que depois passaram a quatro anuais, conforme as festas das religiões pagãs, o Arceolindo lá estava, apesar da dificuldade de locomoção, transportado pelo filho dedicado que, nesses dias, deixava os seus afazeres para o trazer de Peniche até à porta do Restaurante Baleal, na Rua da Madalena onde o vinha buscar findo o convívio. Nos últimos encontros já se sentia que fazia grande esforço físico, embora o fizesse com o prazer de estar connosco.
Arceolindo, partes com a certeza de que deixas muitos amigos, tantos quantos aqueles que te conheceram, tal era o teu bom carácter e a tua afectividade. Repousa em paz, naquela paz que os Bons merecem.
À família enlutada deixo aqui o acompanhamento na dor de o deixarmos, envio sentidos pêsames pelo seu sofrimento, por perderem um marido, pai, sogro, avô, que foi gentil e amoroso. Com os companheiros da Guiné solidarizo-me no pesar pela perda de mais um dos nossos amigos que se adiantaram a nós nesta última etapa da vida. A todos cumprimento.
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Labels: Cardoso faleceu
domingo, 23 de março de 2008
Regras a seguir nos posts e comentários
Sirvo-me de alguns aspectos do óptimo post com o título «comentários em blogs» da colega bloguista Naty, colocado no Blog «A Voz do Povo», para aqui colocar à discussão da blogosfera um tema que julgo de muito interesse, para combater a libertinagem irresponsável.
É desagradável que «brincalhões» imaturos e sem respeito pelos outros usem o espaço dos comentários para fazer mal, quer procurando ofender os outros quer empastelando o espaço com colagens de textos extensos que nada têm a ver com o tema do post. É pena que haja pessoas que usem qualquer meio para semear o joio e a cisânia, sem qualquer motivo, por pura maldade.
Penso que uma das finalidades dos blogs, além do prazer da escrita, deve ser:
- divulgar cultura e bons conselhos que não sejam do conhecimento geral,
- salientar actos muito positivos que mereçam ser apontados como exemplos à sociedade,
- alertar para factos e situações que parecem não estar muito bem, a fim de serem apreciados por quem de direito e melhorá-los,
- e comunicar com os comentadores por forma a criar relações amistosas e a aprofundar a análise dos temos expostos, numa polémica respeitosa e salutar, apresentando argumentos convincentes sempre que se discordar, sem faltar ao respeito nem agredir o autor.
Tratar os visitantes com urbanidade no sentido de inspirar amizade, debater ideias com modos educados e sem ferir as pessoas que pensam de maneira diferente é uma virtude a desenvolver que só enriquece quem a pratica.
Mesmo quando estamos perante uma opinião oposta à apresentada no post, desde que venha apoiada em argumentos lógicos, devemos elogiar o que de bom ela possa trazer e responder com argumentos que possam rebater os apresentados. Assim se produz uma polémica urbana e positiva de que todos beneficiam.
Desta forma, os blogues são um óptimo veículo de cultura, de comunicação e de criação de amizades alargadas, entre pessoas educadas que sabem discutir ideias, por mais diferentes que sejam, sem ofenderem as pessoas, respeitando o direito de cada um ter a sua opinião sem querer impô-la aos outros, mas apresentando argumentos convincentes, em sua defesa.
Tenho aqui criado bons laços com pessoas com ideias muito diferentes das minhas, porque procuro, com uma linguagem urbana, aceitar o seu direito à opinião, embora não me sinta obrigado a a ela aderir totalmente. Em cada comentário por mais discordante que seja, encontro sempre algo de positivo que sublinho.
Porém, não são desejados, e deverão ser eliminados, os comentários não identificados, indecorosos ou de índole atentatória da dignidade, bem como mensagens que não se refiram ao post em questão.
O espaço destinado a comentários é público e, como tal, deve ser respeitado por todos e não deve ser transformado em lixeira!
Inspira-se nestas ideias o aviso aos comentadores que tenho neste blog no espaço que antecede o espaço destinado aos comentários.
Um comentador inserido na crise que levou ao meu post «Um alerta importante»
Quem, por sistema, publica comentários impensados e, depois, os elimina e que confessa essas infantilidades, escusa de tentar colocar comentários neste blog, porque eu os elimino poupando-lhe o trabalho de o fazer e evitando aos visitantes a frustração que, de repente, vêm os seus comentários de pés no ar por desaparecer o comentário a que fizeram referência.
Posted by A. João Soares at 17:31 2 comments
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sábado, 22 de março de 2008
Aumenta o fosso entre ricos e pobres
O Número de desempregados que vive apenas com o subsídio social de desemprego, uma prestação destinada a situações de emergência económica, é cada vez maior. Segundo o Instituto de Informática da Segurança Social, havia, em Fevereiro, 44 mil pessoas a receber o subsídio social de desemprego inicial, mais 23% do que no mesmo mês do ano anterior. Nos últimos 12 meses (de Março de 2007 a Fevereiro de 2008), a Segurança Social respondeu positivamente a cerca de 59 mil requerimentos de desempregados, sensivelmente o dobro do número verificado no período homólogo.
Os beneficiários que recebem o subsídio social de desemprego inicial são pessoas que não trabalharam (com descontos para a Segurança Social) o tempo suficiente para aceder ao subsídio de desemprego "normal" e que, simultaneamente, vivem em agregados familiares pobres, com um rendimento per capita inferior a 326 euros, no limiar da pobreza. 40 por cento dos beneficiários têm idades compreendidas entre 20 e 34 anos - tipicamente, são jovens que não viram renovados os seus contratos a prazo (muitas vezes a seis meses ou a um ano).
Do outro lado da sociedade, verifica-se a abundância de dinheiro que não encontra dificuldades para gozar férias dispendiosas.
Nestes dias de Páscoa, os hoteleiros estão satisfeitos com a afluência de clientes. Lisboa, Alentejo e Algarve foram as regiões escolhidas pelos turistas nacionais e estrangeiros. A Serra da Estrela, que supriu a falta de neve com a produção de neve artificial, regista uma taxa de ocupação superior a 80%, podendo subir aos 100% se nevar no fim-de-semana.
O Algarve mantém-se como o local preferido dos portugueses, com alguns hotéis a ficarem esgotados. Segundo a Associação de Hotelaria e Empreendimentos Turísticos do Algarve, o facto de a Páscoa ser, este ano, no mês de Março constitui um atractivo adicional para os turistas, por lhes permitir usufruir ainda dos preços praticados em época baixa.
Mas, além dos que ficam em território nacional, milhares de portugueses rumam por estes dias ao Brasil, Cuba, Cabo Verde, Palma de Maiorca, Egipto e várias cidades europeias, nas miniférias da Páscoa.
A avaliar pelo aumento da procura para o estrangeiro assinalada por alguns operadores, o dinheiro parece não ser problema para muitos que mantêm o Brasil como o destino favorito. Só duas agências citadas pelos jornais diários "levaram" 5200 portugueses para fora em pacotes turísticos, com a procura a subir entre 8 e 64% face ao ano passado, conforme os destinos.
Os dois factos atrás citados na comunicação social de hoje evidenciam as gritantes discrepâncias sociais existentes no País, em que a classe média está a desaparecer e aumenta o vácuo que separa os mais desprotegidos dos mais beneficiados pelo progresso.
Talvez a este fenómeno de injustiça social, não seja alheio o aumento de violência e de criminalidade nem as crescentes manifestações de descontentamento. Também poderá estar ligado ao encerramento, há três décadas, das escolas técnicas onde se preparavam as pessoas para a vida prática, tornando-as capazes de sobreviver, montando negócios, indústrias artesanais, reparações, manutenção, enfim trabalho por conta própria e ocupação de postos de trabalho que hoje estão à mercê de imigrantes, enquanto os portugueses estão no desemprego, por falta de qualificação adequada.
Trata-se de um problema complexo que exige análise cuidadosa por especialistas e pessoas ligados aos aspectos práticos. Os sindicatos poderiam ajudar os seus associados a melhor se prepararem para sobreviverem às dificuldades que a concorrência e a flexibilidade económica lhes apresenta.
Posted by A. João Soares at 21:32 4 comments
Labels: férias da Páscoa, ricos e pobres
Quem sou?
Há dias, um colega bloguista, com ares de dedicado agente da Pide, escreveu, num comentário, que sabe quem sou mas queria que fosse eu a confessar. Ter de confessar é uma imposição do tipo Guantânamo, Tarrafal ou, simplesmente, Rua António Maria Cardoso, mas vou tentar aceitar este desafio.
O que sou? Será que quer saber o peso, a altura, a medida da cintura, do colarinho, do sapato?
Se quer saber o que faço e penso, vou tentar descrever o dia-a-dia do meu intelecto, no mundo sem poluição em que me instalei, pelo menos mentalmente. Vivo a 3 quilómetros a Sul de Gouveia em plena subida para a Serra da Estrela ao lado da estrada que vai para a nascente do Mondego e para as Penhas Douradas. A casa ou casebre onde passo as horas do dia em que não tenho que estar a vigiar o rebanho de cabras que tenho à minha responsabilidade, não tem as comodidades de um prédio urbano com luz, água, esgoto, gás. Mas mantenho-a limpa e com o mínimo de modernidade ao ponto de ter sido convidado a participar no anúncio da netcabo (ele há coisas fantásticas, não há?) de que todo o País gostou.
Os que se recordam desse anúncio, perguntarão como posso em tal casa ter computador e ligação à Internet. Muito facilmente. Tenho uma placa fotovoltaica na cobertura da casa e umas baterias que armazenam e reservam a energia para a noite e, durante o dia, no campo, para não gastar dinheiro em pilhas que ficavam muito caras, tenho uma pequena placa fotovoltaica que dá energia para o rádio de bolso que me mantém ligado ao mundo, através dos noticiários. Esta placa, para não me impedir os movimentos nem ocupar os braços, é transportada como mochila, o que me obriga a procurar estar, o mais possível, de costas para o sol ou, se parado por mais tempo, colocá-la no chão inclinada de forma a que os raios solares incidam nela perpendicularmente. Creio ter sido explícito quanto a energia.
Não transporto comigo o computador portátil, com receio de o danificar, quer pelo mau tempo, quer por quedas ou choques e principalmente, porque ele me distrairia da missão que me foi incumbida de vigiar as cabras. Sem ele, convivo mais livre e atentamente com os meus pensamentos que se debruçam, com o possível pormenor, sobre tudo aquilo que se passa no Mundo inteiro. Esses pensamentos chegam ao ponto de fazer conjecturas que acabam, muitas vezes, por se tornar realidade algum tempo depois. Isso vem confirmar que a humanidade pouco ou nada tem evoluído e o ser humano mantém as virtudes e os defeitos básicos de muitos milénios atrás. Daí, a previsibilidade dos acontecimentos para quem estiver atento e observar sem parti-pris, com isenção e análises apartidárias e imparciais.
Mas, depois desta panorâmica do meu dia-a-dia, a propósito da energia, vou agora tentar fazer uma descrição cronológica. Levanto-me cedo, mal começa no cimo da serra a surgir o alvor da manhã, muito antes de o Sol nascer. Dou uma olhada ao redil para ver se não há novidade, pois concluo das notícias que há por aí ladrões de gado que, durante a noite, carregam grande quantidade de rezes. Felizmente ainda não tive esse azar. Acendo o lume do canto da lareira e aqueço o leite para o pequeno almoço feito de broa de milho, de queijo caseiro e fruta da época e da região e, entretanto, ligo o computador portátil para ver os e-mails recebidos, pois tenho umas dezenas de correspondentes espalhados pelo mundo, como dizia no anúncio de que atrás falei. Dou uma volta pelos jornais online e vejo se tenho novos comentários no meu blog, aos quais respondo de imediato, como podem ver nas horas que neles constam. Entretanto fui comendo o pequeno almoço que tem de ser uma refeição com os ingredientes necessários para aguentar até ao fim da tarde, contando com o «almoço» que é apenas constituído por queijo caseiro, broa e leite ordenhado ali para o tarro.
Depois, lá vamos calmamente para a serra à procura de pasto por entre as fragas. Quando as cabras encontram algo mais apetitoso e abundante, sento-me olho atentamente para a paisagem a perder de vista com a senhora do Castelo e de Mangualde lá ao fundo, e as malditas chaminés de fábricas a sujar os ares com as suas fumaças, sempre com o som do rádio em fundo a não me deixar esquecer que o mundo não é só o meu pensamento mas desgraçadamente e com mais peso, são as tragédias do Iraque, do Sri Lanka, do Quénia, do Tibete, do Kosovo, etc.
Não se espantem, pois esta minha vida de pensador solitário mantém-me mais actualizado do que muitos dos nossos governantes que, fechados nas torres de marfim, rodeados de guarda-costas, de telefonistas e de assessores que lhes filtram toda a informação, vivem de ilusões totalmente alheias às realidades, como se tem visto nas áreas da Saúde, do Ensino, da Justiça, da Economia, das Finanças, das Obras do Jamé, etc.
Aqui, atento a tudo, sem paixões por qualquer opinião de «sábios», apenas socorrido pelos factos filtrados pela lógica e bom senso, consigo formular juízos que como atrás disse, até permitem fazer previsões que, muitas vezes, se tornam realidades. Apesar da minha natural modéstia, chego a pensar que para ser sábio não é preciso ter grandes, estudos, nem comprar diploma de engenheiro no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, bastando usar o raciocínio e observar com atenção o que se pode ver e ouvir. Fora de vaidades, é na gente humilde dos rurais que encontramos os cérebros mais produtivos em pensamentos, simples na sua formulação, mas ricos de saber e senso prático. Não é apenas o António Aleixo, mas há muitos mais de quem pouco ou nada se fala.
A observação das minhas cabras, umas mais inteligentes do que as outras, mas todas com instintos bem desenvolvidos para sua defesa, sobrevivência quanto a alimentação e perigos, a sua ambição de poder para se imporem às outras, o respeito pela chefia, o espírito de grupo que me facilitam a minha obrigação de as manter juntas em autêntico rebanho, etc , esta observação é uma das fontes de saber e de reflexão. Por outro lado, a meteorologia é tratada por nós, rurais, quando bons observadores e habituados a pensar. E essa é uma das minhas tarefas do fim do dia, perscrutando o espaço para prever como estará o tempo no dia seguinte. Viver integrado no terreno, na vegetação e na atmosfera faz parte da globalidade dos interesses imediatos de um pastor que lhe dão um saber tão profundo que não estará ao alcance de qualquer urbano.
Regressado a casa e instalado o gado com as comodidades adequadas, preparo o jantar e vou contactar os amigos da Internet, sempre atentos ou viciados (!) que me enchem o Outlook de e-mails com lindos anexos, alguns com muito interesse cultural. Aproveito as últimas horas do anoitecer para colocar mais um tema para reflexão no blog, responder a algum comentário, e surfar um pouco pela blogosfera onde deixo comentários aqui e ali, porque ninguém visitará o meu se eu não deixar comentários nos outros. É o materialismo dos dias de hoje, principalmente entre os urbanos, em que muitos nada dão, só trocam, se tiverem interesse nisso!
Creio ter feito aqui a confissão que me é exigida pelo carrasco. Mas se ainda restam dúvidas, não tenha receio de perguntar concretamente. Ah esquecia-me de falar numa dor no tornozelo direito por ter escorregado numa fraga e feito um pequeno entorse. Mas as papas de linhaça estão a fazer efeito e, dentro de dias, estará bom.
Posted by A. João Soares at 18:41 6 comments
Labels: pastor de cabras, quem sou?
sexta-feira, 21 de março de 2008
Os professores estão de parabéns
A selvajaria ocorrida numa aula de francês entre uma aluna malcriada, sem ponta de civismo, que agrediu, pelo menos verbalmente, a professora, a quem não respeitou nem obedeceu, dando testemunho de não saber o que é educação e não ter pais competentes, é um trunfo impagável a favor dos professores.
Não estou a brincar, senhoras e senhores professores. É que cenas piores do que estas fazem parte do vosso quotidiano nas escolas sob tutela da ministra Maria de Lurdes, segundo dizem os órgãos da Comunicação Social, mas ninguém estava sensibilizado para a gravidade do problema. Por mais manifestações, comunicados, listas de assinaturas e entrevistas, nunca os senhores professores obteriam o efeito desta cena imprópria de um País do primeiro mundo, da forma com que o vídeo do Youtub conseguiu.
Com este vídeo, os professores podem argumentar junto dos assessores do ME, ignorantes das realidades, que é necessário e urgente estabelecer normas de comportamento cívico nas escolas, dando autoridade aos professores para utilizarem meios convincentes, responsabilizando os encarregados de educação pelos actos dos seus pupilos e criando um sistema de faltas disciplinares que conduzam à perda de ano escolar.
Uma escola em que aparece uma aluna a tomar a atitude que foi tornada pública no Mundo da Internet e em que os restantes alunos, não intervieram para evitar o prolongamento da indisciplina da malcriada menina (que poderá vir a ser assessora de ministro, deputada, governante, juíza ou qualquer outra função que, pela amostra, será mal desempenhada), não está a preparar para amanhã os adultos responsáveis de que Portugal precisa.
Há que dar uma volta ao funcionamento das escolas e isso é tarefa do ministério com a colaboração de professores. Estes devem, desde já, pressionar nesse sentido explorando os efeitos deste vídeo antes que o assunto arrefeça.
Posted by A. João Soares at 16:26 7 comments
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quinta-feira, 20 de março de 2008
Mário Soares e Timor
De: Cor Manuel Amaro Bernardo
Para o site Portugalclub
A propósito das afirmações de alguns intervenientes deste site sobre Mário Soares e os designados “Crimes Irreparáveis” (leia-se, referentes à dramática descolonização dos territórios ultramarinos portugueses em 1974-1975), como José Pires, desejo salientar o seguinte.
Lembremos que Mário Soares, mercê da ligação anterior a alguns líderes dos movimentos de libertação, se decidiu por uma descolonização rápida e apressada, incluindo em territórios onde não existia qualquer tipo de reivindicação nesse sentido, como era o caso de Timor e Macau. Neste último não foi por diante, porque os chineses não o quiseram naquela altura.
Quanto à vergonha de Timor, já no livro, em co-autoria com o ex-Chefe do EMFA, Coronel Morais da Silva, “Timor; Abandono e Tragédia” (Editora Prefácio, 2000) foi tratado esse tema em relação a um território, onde era hábito haver um respeito enorme pela Bandeira Nacional – nem pisavam a sua sombra…
Agora (na semana passada), o General de quatro estrelas, Silva Cardoso, que, a seguir ao Acordo de Alvor, foi nomeado Alto-Comissário de Angola, em 1975, (posteriormente Presidente do Supremo Tribunal Militar e autor do best-seller “Angola; Anatomia de uma Tragédia”/2000) quando Mário Soares era Ministro dos Negócios Estrangeiros, veio fazer as seguintes afirmações no livro que publicou e lançou na Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, “25 de Abril de 1974 – A Revolução da Perfídia” (Editora Prefácio, 2008):
(…) Os descolonizadores estavam tão ocupados com a Guiné, Angola e Moçambique que quase se esqueceram de Timor. Mas em Julho de 1974, o lugar-tenente de Mário Soares visita Timor e é surpreendido por um portuguesismo quase fanático. Aquela população era uma miscelânea de povos, cada um com a sua língua e os seus costumes próprios. O que os une, permitindo-lhes viver em paz, é a veneração que nutrem pela Bandeira Portuguesa e por Portugal. Almeida Santos confessa que ficou estarrecido com a devoção daquelas gentes a Portugal. Ainda em Timor, em Julho de 1974, numa conferência de Imprensa, afirmou: “para além dos programas políticos, o que conta são as realidades humanas, e a realidade humana de Timor, que eu pude testemunhar e que os senhores também puderam testemunhar é que existe aqui muito vivo o sentimento de respeito e amor a Portugal. É um fenómeno sociológico que me parece que sai fora das regras normais da sociologia política”.
E Almeida Santos acrescentaria mais tarde que “os timorenses não querem ser descolonizados pela simples razão de que não se sentem colonizados”. Perante a hipótese de uma descolonização recebeu como resposta das forças-vivas de Timor “a nossa resposta ao problema da descolonização é que o que nós precisamos é de mais cultura, mais saúde, mais desenvolvimento agro-pecuário, mais tractores, mais comunicações e mais indústrias”
O desenvolvimento que teve lugar nos territórios onde grassara a guerra desde 1961, não se verificou em Timor. O pequeno território não foi objecto da cobiça dos imperialistas. Aos EUA agradava o seu actual estatuto e à URSS o seu potencial estratégico ou geo-estratégico não justificava o seu envolvimento, mesmo indirecto.
No acto de posse do novo Governador, ao tempo, Ten-Coronel Lemos Pires, o Ministro Almeida Santos afirmaria:
“Prepare-se V. Ex.ª para o mais espantoso fenómeno de dedicação a Portugal. Quando de lá regressei, rendido a essa heterodoxa sociologia de divinização da Bandeira Portuguesa, que venceu o tempo, a distância e o universalismo político, alguns me terão julgado possesso de romantismo caduco ou de heroicismo carlyleano. Não se trata disso. Apenas relatei, entre atónito e emocionado, factos que sem defesa possível emocionam e espantam”.
Esta era a atitude de Almeida Santos que correspondia à vontade dos timorenses, expressa não em votos, mas em actos e sentimentos. Mas Mário Soares, que de tudo sabe e jamais disse a qualquer questão “Não sei”, e “profundo conhecedor da realidade timorense”, reagiu negativamente à posição do seu lugar-tenente, acabando por afirmar: “É necessário convencer o mundo da intenção sincera de Portugal de abandonar as suas colónias. Manter diversos laços entre os territórios e a Metrópole conduziriam, a meu ver, a formas de neo-colonialismo larvar, que o governo português rejeita em bloco. Nós comprometemo-nos com um trabalho histórico”.
Esta posição do “patrão” da descolonização coloca em xeque a opinião de Almeida Santos que, com o seu grande à-vontade e discernimento, rapidamente faz agulha, acabando por afirmar: “Que independência está em dúvida? Nenhuma. Apenas a de Timor não tem ainda data. Mas tê-la-á em breve”.
Nada havia a fazer. O rei da descolonização não poderia hesitar pois, no fim, era o seu ego que estava em causa. Para subir ao mais alto pedestal na nova plêiade dos políticos portugueses, teria de começar por realizar algo que o imortalizasse e provasse à sociedade a sua enorme capacidade intelectual, cultural e, principalmente, a sede de poder. (…)
Assim, à semelhança do que viria a suceder em Angola e Moçambique, depois da independência, também Timor, depois da fuga de Lemos Pires e do seu Estado-Maior para a ilhota de Ataúro, acabaria por se envolver numa guerra civil com cerca de 60.000 mortos, que terminaria com a invasão da Indonésia, aprovada previamente pelos EUA…
O General Silva Cardoso, no citado livro recorda ainda que:
(…) antes do Ten-Coronel Lemos Pires e do seu grupo de colaboradores ter chegado a Timor, se deu a entrega da Guiné ao PAIGC, o que significou ser o autor moral do fuzilamento de milhares de guineenses; que o então Ministro dos Negócios Estrangeiros (Mário Soares) andou aos abraços a Samora Machel, quando os soldados das nossas FA continuavam a lutar e a morrer na província (Moçambique) em defesa das suas populações; (…)
Cor. Manuel Amaro Bernardo – Março de 2008
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quarta-feira, 19 de março de 2008
Desemprego ou falta de vontade para trabalhar?
Segundo o JN de hoje, há uma «firma do Vale do Ave com falta de operários», tendo sido abertas vagas para as quais os candidatos não são em número suficiente para preencher os lugares disponíveis. Trata-se de uma multinacional americana instalada em Guimarães que se queixa de não conseguir trabalhadores. Manuel Cruz, director de recursos humanos da Amtrol-Alfa, instalada em Brito, estranha que isto aconteça num concelho que tem uma taxa de desemprego acima da média nacional.
Segundo o mesmo jornal esta é «Região fustigada pelo desemprego» em que havia
- 40509 inscritos em Janeiro, nos centros de emprego do distrito de Braga;
- 50000 desempregados no Vale do Ave, que abrange os municípios de Guimarães, Famalicão, Santo Tirso, Trofa, Vizela, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho e Fafe, e
- 12000 desempregados inscritos no Centro de Emprego de Guimarães. Destes, 74 por cento têm mais de 35 anos (29 por cento têm mais de 55 anos).
Os requisitos para os candidatos aos lugares são aptidão física confirmada pelos médicos da empresa, disponibilidade para trabalho por turnos e a aceitação em fazer formação profissional. A empresa oferece um vencimento de 570 euros, mais um bónus, ajudas de custo para transporte e prémios de assiduidade.
Luciano Baltar, presidente da Associação Comercial e Industrial de Guimarães, diz que "há casos de empresas que procuram pessoal, principalmente costureiras, e não conseguem arranjar". O sector do vestuário (que tem um dos mais baixos salários na região) exige um "conhecimento específico" e, "além de haver poucas profissionais, há pouca gente interessada em aprender"
É chocante ver na TV, quando empresas encerram, pessoas relativamente jovens lamentarem não poder arranjar emprego por não saberem fazer mais nada. Em toda a idade se pode aprender um novo ofício. Além de falta de vontade e, eventualmente, de capacidade para aprender, haverá falta de preparação básica que permita fazer face à flexibilidade de emprego e mudança de ramo em caso de necessidade ou de conveniência. Para melhorar a formação profissional e obter capacidade de mudança, o que têm feito os sindicatos? O que faz, o ministério do Trabalho e da Segurança Social e os organismos que tutela? Qual é o aspecto prático do ensino escolar, com o objectivo de preparar os jovens para a vida real, profissional? Quais as medidas dos partidos políticos, das autarquias, da Igreja e de outras instituições com vocação para o aconselhamento e orientação das pessoas?
Há pouco tempo contaram-me que o gestor de um supermercado, da minha área de residência precisava de uma empregada, pediu ao Centro de Emprego e apareceu uma jovem casada que servia para as funções, mas quando lhe foi dito quanto ia ganhar, disse que estava a receber subsídio de desemprego pouco inferior aquela importância, e não tinha que trabalhar que cumprir horário, aturar patrão e clientes e podia passar o dia na cama. Parece que esta mentalidade está generalizada, como disse Luciano Baltar.
Posted by A. João Soares at 17:15 4 comments
Labels: desemprego, formação profissional, vontade de trabalhar
terça-feira, 18 de março de 2008
Altos e baixos no rectângulo
Em dois posts recentes, à semelhança do que já tinha feito em relação a outros factos muito positivos com provável incidência na modernidade de Portugal, enfatizei os casos de Maria de Medeiros e de Filipe Valeriano. O primeiro caso realça a cultura portuguesa no estrangeiro e o segundo constitui um exemplo de como se prepara o Portugal do futuro, através do raciocínio lógico que a Matemática ensina a desenvolver.
Gostaria de incluir aqui muitos mais casos deste género, mas as notícias orientam as atenções para uma «classe» de pessoas de onde apenas saem exemplos do que não deve ser feito. Estou convicto de que poderá haver políticos sérios, pois há excepções em todas as regras, mas o conceito geral não é o mais laudatório. Será por isso que passam a vida a auto-elogiarem-se. Já que ninguém o faz… fazem eles o próprio elogio!
Ontem, o JN trazia a notícia «Fundos europeus em causa própria» de que deixo aqui este link para quem desejar conhecê-la na íntegra, pois apenas vou fazer-lhe algumas pontuadas.
Refere-se a um dirigente do PSD que, na condição de presidente da Associação para o Desenvolvimento Turístico da Região Centro (ADTREC), a 4 de Maio de 2004, interferiu na adjudicação de um contrato de mais de 700 mil euros a uma empresa a que viria a ficar ligado, cerca de um ano depois. A empresa adjudicatária era presidida por um amigo, sócio e antigo deputado do PS. Tudo entre compadres da mesma «classe»!
À data da adjudicação, o referido líder acumulava os cargos de presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e de gestor do Programa Operacional do Centro, sendo nesta dupla condição que viabilizou o financiamento da mesma empresa e do seu contrato com 528 mil euros do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Ainda segundo a notícia, foi eleito deputado a 20 de Fevereiro de 2005, e teve breves passagens pelos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes como secretário de Estado da Administração Local e da Administração Interna.
Perante casos como este e outros que a Comunicação Social, ocasionalmente e de forma discreta, traz ao conhecimento dos leitores, somos levados a ter sempre presente as palavras do bastonário da Ordem dos Advogados quando se refere à confusão que os políticos fazem entre os interesses do Estado e os seus interesses privados. Já João Cravinho referiu a necessidade de combater o enriquecimento ilícito e o tráfico de influências, tudo isto inserido no conceito mais conhecido por corrupção, fenómeno de que o Estado é o maior prejudicado, mas que os políticos evitam combater de forma eficaz. Pois se são eles os principais beneficiados! Mas, segundo estes, tudo está dentro da legalidade, isto é, a coberto das leis que eles próprios fabricam com o cuidado das vírgulas e outras habilidades que lhes dão a protecção de uma blindagem eficaz.
Porém, neste período de meditação pascal, salta um desabafo de inocente pureza: Como seria maravilhosos se os portugueses tivessem razões para ver, nos seus eleitos, bons exemplos a seguir pela população em geral, comportamentos impolutos de isenção e dedicação ao bem estar do povo, às grandes causas nacionais!
Mas os grandes problemas nacionais são, para essas pessoa «geniais», as questões de suma importância do uso dos «piercings». Já não se preocupam com a aplicação geral ou parcial da lei do tabaco ou da ineficácia da lei inviável de controlo de armas ou da crescente criminalidade violenta. Isso, para eles, são coisas menores, insignificantes ao lado do tema de importância nacional dos «piercings».
São estes os valorosos portugueses que «se vão da lei da morte libertando»!
Posted by A. João Soares at 17:24 0 comments
Labels: altos e baixos, Corrupção
Chegou a altura de resolver a questão de Olivença
Publicado no PÚBLICO, Sexta-feira, 14 Março 2008.
Autor: General José Loureiro dos Santos
O contexto estratégico conjuntural que originou o Tratado de Badajoz de 1801, pelo qual Olivença passou paras a soberania espanhola, não se modificara integralmente em 1815, quando a devolução de Olivença a Portugal foi determinada pelo Tratado de Viena.
A relação de forças na Europa da Época não ordenou de modo peremptório e imediato essa devolução, remetendo-a para quando Portugal e Espanha considerassem oportuno - o que significava, de facto, submeter a resolução do problema ao entendimento Portugal-Espanha, logo aos objectivos nacionais de cada país e às tensões estratégicas correspondentes. A definição do momento oportuno, se não fosse efectuada por potências extrapeninsulares, teria de ser proposta por Portugal a uma Espanha da qual, naturalmente, nunca partiria a iniciativa. Para Portugal, o momento oportuno teria de coincidir com uma "oportunidade estratégica" favorável. Na altura do regime da ditadura, foi dito não ser oportuno levantar o problema.
Aqui reside o cerne do problema. Findos os acontecimentos que envolveram os dois Estados nas guerras napoleónicas e seus desenvolvimentos, a relação de forças europeias e mundiais nunca deixou de se traduzir, para a península, numa lógica de conflito e confrontação. Por trás do comportamento pacífico e amistoso entre os dois Estados, havia sempre a percepção, por cada um deles, que a existência do outro constituía uma ameaça. Ou porque poderia servir de cais de desembarque e base de ataque para forças poderosas que visassem a Espanha e/ou foco de contaminação política que fizesse perigar o seu regime (absolutista, liberal ou monárquico). Ou porque representava uma ameaça existencial para Portugal e/ou também poderia contaminar negativamente o seu regime.
Esta lógica de confrontação teve situações mais agudas e outras menos, mas nunca deixou de existir. A percepção dos responsáveis políticos portugueses ao longo dos séculos XIX e XX, até à guerra fria, foi sempre a de que tudo deveria ser feito para evitar uma crise aberta com a Espanha, pois tinham consciência de que a lógica de conflito existente entre os dois países se poderia transformar num confronto aberto muito desfavorável a Portugal. Confronto aberto que até poderia ser convenientemente provocado pelos governantes espanhóis, para fazerem esquecer os graves problemas internos que os seus súbditos sentiam, bem como os efeitos deletérios dos traumas causados pelos enormes abalos nacionais que afectaram Espanha.
Dentro desta lógica de confronto, tornava-se quase impossível alterar as relações de forças de modo a surgir uma oportunidade estratégica que nos permitisse procurar resolver a questão de Olivença junto dos espanhóis.
A lógica de confronto, embora atenuada pela natureza dos regimes então vigentes, não terminou durante a guerra fria. Só viriam a surgir modificações, e profundas, com a democratização dos dois vizinhos peninsulares, a queda do Muro de Berlim e, principalmente, com a globalização, o mercado comum europeu e, acima de tudo, com o estabelecimento do espaço Shengen. Estas novas linhas de força tiveram como resultado uma alteração profunda no contexto estratégico do relacionamento peninsular. Não porque surgiram desequilíbrios que nos fossem favoráveis em termos de confronto, mas precisamente pelo congelamento da lógica de confronto e a sua substituição por uma lógica de cooperação/competição.
A abertura de fronteiras e a liberdade de movimentos de pessoas, bens e ideias entre os dois países fizeram com que as regiões homogéneas naturais da península, todas periféricas, se tivessem aproximado, como que desafiando o centro peninsular - a despeito das fronteiras administrativas e políticas. Na Espanha, foram reconstituindo uma configuração multipolar em termos económicos, com as regiões periféricas a tentar "conquistar" poder político a Madrid, interagindo umas com as outras e também com Portugal, que além de região económica é um país soberano. Esta situação multipolar, num contexto de uma lógica de cooperação/competição, favorece Portugal, pois, de todas as regiões peninsulares com ligações a um centro de poder afastado (Bruxelas), é a única cuja independência lhe permite relacionar-se com o Governo espanhol no mesmo patamar político. Todas as restantes terão de sujeitar-se às orientações de Madrid.
Finalmente, esta lógica de cooperação/competição que caracteriza as nossas relações com a Espanha permitiu o aparecimento da oportunidade estratégica para que os dois países - amigos, aliados, que não encaram o outro como ameaça - resolvam a questão de Olivença. E para que Portugal possa tomar a iniciativa de abrir o diálogo.
É pôr fim a um contencioso que pode funcionar como um foco de potencial atrito e de conflito em situações de maior tensão entre as posições dos dois países. Lembremo-nos de que a História não acabou. Há muita História no futuro. Um futuro incerto e, provavelmente, muito perigoso. É avisado acautelarmo-nos. Olivença é um problema que se pode agravar, mas podemos fazer dele um pólo de atenuação de tensões entre os Estados peninsulares.
Não deve ser ignorada a realidade actual de Olivença, criada nos últimos dois séculos pela administração espanhola. Uma realidade que já não é sustentada apenas em elementos identitários lusitanos, mas em que persistem muitos deles. Olivença constitui uma micro-região, com características distintivas em relação aos espanhóis, mas também aos portugueses. Foi como se, na zona raiana, tivesse aparecido um elo de ligação entre os dois povos, semelhante a ambos mas deles diferenciado.
Para a solução desta questão são de afastar posições radicais, sem recuo e sem condições, antes recorrer-se a uma abordagem gradual e "soft", com a tónica na cultura: considerar a hipótese de permitir que os oliventinos escolham a dupla nacionalidade, autorizar o ensino da língua portuguesa por professores destacados por Portugal, além do castelhano já obrigatório, não proibindo o uso do português no espaço público, estabelecer uma delegação que promova a cultura portuguesa. Admitir mesmo a hipótese de se chegar a uma soberania partilhada sobre Olivença, como região especial e exemplo de amizade e cooperação entre os dois países, que, numa fase inicial, poderia assumir vínculos políticos mais fortes com Espanha do que com Portugal.
José Loureiro dos Santos
«General»
Nota: Este texto constitui a súmula da apresentação do livro de Ana Paula Fitas "Juromenha e Olivença, Uma História por Contar" das Edições Colibri, a publicar na íntegra no próximo número da "Revista dos Negócios Estrangeiros".
Posted by A. João Soares at 09:39 0 comments
Labels: Olivença em aberto
segunda-feira, 17 de março de 2008
Filipe Valeriano, Português que sobressai
Adoro o meu País, tendo aprendido de pequenino a apreciar o que está bem e a analisar as causas do que não está e devia estar.
Felizmente, no meio das angústias criadas pela incompetência generalizada dos políticos, surgem uns raios luminosos que nos fazem ter esperança no futuro, no caso de os jovens mais aptos não emigrarem á procura de melhores condições de realização pessoal.
Hoje, o jornal gratuito «Metro» traz a notícia «Aluno recordista em matemática» que refere Filipe Valeriano, aluno do 12º ano da Escola Secundária de Castro Verde, que conseguiu ontem atingir a marca de cinco medalhas nas Olimpíadas Portuguesas de Matemática (OPM), tornando-se assim o terceiro concorrente a conquistar uma por cada ano possível de participação.
As OPM, são organizadas anualmente pela Sociedade Portuguesa de Matemática, visando incentivar e desenvolver o gosto pela matemática, apelando à qualidade do raciocínio e à criatividade.
Segundo comunicado da Sociedade Portuguesa de Matemática, em 25 anos este feito do aluno Filipe Valeriano tinha ocorrido apenas duas vezes.
Com cidadãos assim preparados, dominando o raciocínio lógico, que aprendem com o estudo da matemática, podemos ter esperança de um futuro melhor para Portugal e os seus cidadãos, mas não podemos deixar de recear que, perante a falta de perspectivas de vida por cá, eles emigrem como as notícias nos dizem estar a acontecer, para a Grã-Bretanha e os EUA.
Pergunto: o que estão os governantes a fazer para cativar estes homens de valor e aproveitar o resultado das suas capacidades intelectuais, em vez de os deixar ir contribuir para o enriquecimento de Estados mais desenvolvidos?
Posted by A. João Soares at 17:34 1 comments
Labels: Filipe Valeriano, genial, matemática
Maria de Medeiros nomeada «artista UNESCO para a paz»
A actriz e cantora Maria de Medeiros é hoje nomeada oficialmente "Artista UNESCO para a paz" em cerimónia a realizar em Paris e a que assistirá o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
No final da cerimónia, que contará com a presença do director-geral da UNESCO, Koichiro Matsuura, Maria de Medeiros cantará acompanhada do seu trio de jazz, com o qual editou em 2007 o álbum "A little more blue".
Em declarações à Lusa, a artista indicou que, a partir de agora, associará a sua agenda à daquela agência da ONU e, neste contexto, uma das suas primeiras iniciativas consistirá num concerto que dará em finais de Abril em Moçambique.
"Vou aproveitar - disse - para dar visibilidade à educação artística, juntamente com Malangatana, que é também artista da UNESCO para a paz".
De acordo com o governo português, a actriz, a primeira portuguesa a receber esta nomeação, foi escolhida pela "visibilidade, carisma, qualidade artística, polivalência, sensibilidade e empenho nas grandes causas do mundo contemporâneo".
Maria de Medeiros, 42 anos, tem-se distinguido sobretudo como actriz de cinema em Portugal e no estrangeiro.
Lusa / AO Online
NOTA: esta transcrição é feita para homenagear uma portuguesa que é distinguida com um galardão internacional, o que deve constituir orgulho para todos nós. Honra ao valor e ao mérito!
Posted by A. João Soares at 09:39 2 comments
Labels: Maria de Medeiros, mérito, valor
Os problemas não se resolvem com discursos
Notícia do Público de ontem diz que «o INEM demorou mais de meia hora a activar ambulância em mais um caso que acabou por ser fatal».
Problemas deste género não se resolvem com discursos optimistas de auto-elogio sem sustentação em realidades nem com a simples substituição de dirigentes por amigos dos governantes. Estando em causa a vida de pessoas em perigo, há que tornar mais eficaz a efectivação do socorro, para ele ter utilidade real.
É preciso uma análise minuciosa de todos os factores incidentes no assunto e, depois, decidir por medidas eficazes e controlar a sua efectivação, a fim introduzir os pequenos ajustes sempre necessários. A reorganização ponderada e lógica das estruturas envolvidas poderá ter de ser uma das medidas a adoptar.
Mas não basta legislar à pressa e com exagerados pormenores, como aconteceu com a lei do controlo das armas que não produziu os efeitos visíveis e desejados na redução da criminalidade violenta, e no consequente aumento da segurança das pessoas de bem.
Pergunta, talvez desnecessária: Será que os governantes e legisladores estarão apoiados por pessoas competentes, conhecedoras das realidades do País e com capacidade para analisar com isenção e rigor os problemas mais graves?
Posted by A. João Soares at 06:21 0 comments
Labels: ineficácia, INEM, inutilidade
domingo, 16 de março de 2008
A blogosfera está viva, muito viva
Como «dono» deste blogue e colaborador em A VOZ DO POVO, agradeço a todos os visitantes e comentadores, directamente ou por e-mail as provas de solidariedade que nos trouxeram.
A crise foi bem visível aos que nos visitaram antes de eliminados os comentários «insultuosos, obscenos e xenófobos» que inundaram principalmente A Voz do Povo, apenas com o interesse de desacreditar os blogues e de destruir a vontade dos colaboradores.
As medidas tomadas com a activação da moderação dos comentários e a denúncia feita pelos posts «VERGONHOSO...» e «Um alerta importante» originaram um movimento de solidariedade notável que demonstra a força da blogosfera e o sentido de dignidade da generalidade das pessoas que a constituem, quer como comentadores quer como visitantes. Estamos todos de parabéns. As provas são concludentes.
O esforço do marginal terrorista que confessou querer destruir os blogues fracassou porque, na realidade, acabou por aumentar a nossa força. Saímos mais fortes desta crise. A blogosfera está viva.
Nas últimas 24 horas o Do Miradouro teve 165 visitas, quase o triplo (+184%) da média das visitas dos 7 dias anteriores (58), e o Do Mirante teve 149 visitas, quase o dobro (+96%) da média das visitas dos 7 dias anteriores (76). É uma prova de vitalidade da blogosfera. As pessoas sensibilizaram-se contra este bandido que dá pelo nome Relvas. Tornámo-nos mais conhecidos e apreciados. Os meus agradecimentos a todos os amigos.
Temos condições para continuar a dar o nosso melhor aos nossos amigos visitantes e comentadores.
Posted by A. João Soares at 07:20 1 comments
Labels: comentários indignos
sábado, 15 de março de 2008
Diploma internacional indesejável!!!
Há dias, a presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR) afirmou, em Coimbra, que Portugal é o país da Europa que recebe menos refugiados e pedidos de asilo. Embora isto possa ser em parte explicado pela situação geográfica do país, no extremo da Europa, não deixarão de ter significado as difíceis condições de vida no País que estão a originar aumento da emigração.
Existem cerca de 10 milhões de refugiados em todo o mundo, tendo, em 2007, a Espanha recebido 12.500 e a Alemanha 350 mil, enquanto Portugal teve apenas 200 pedidos dos quais devem ter sido admitidos menos de 150.
Isto representa um atestado mundial da imagem que lá fora se tem de Portugal e que leva os infelizes que estão com vontade de deixar os seus países a pensarem que «mal por mal» mais vale continuar nas suas terras do que vir passar pior num País estranho de estranhas gentes.
Esta visão da situação que constitui um diploma internacional pouco elogioso, condiz com as notícias que chegam com frequência de que os jovens com mais valor e melhores resultados nos estudos estão a emigrar para a Grã-Bretanha e os Estados Unidos para acabarem as suas formaturas e com a intenção de por lá continuarem até que melhores perspectivas surjam por cá.
Vão longe os tempos em que Portugal era um País em destaque no Mundo como promotor dos descobrimentos e como iniciador da globalização, colocando todo o mundo em contacto íntimo e com uma interacção cultural e económica que teve efeitos durante muitos séculos. Agora, tudo é diferente e, o mais grave, é que não se vislumbram sinais seguros de recuperação da crise em que caímos nos últimos pares de anos.
Posted by A. João Soares at 17:22 0 comments
Labels: asilados, diploma internacional, refugiados
sexta-feira, 14 de março de 2008
Um alerta importante
Temos que estar atentos aos comentários que aparecem nos nossos posts porque há entre nós um bloguista desonesto, criminoso, que, além do anonimato, usa variados nomes fictícios e, o que é muito mais grave, está a falsificar as nossas identidades. Já colocou comentários em meu nome, em que o link vai direito à minha ficha.
Mas o meu computador dá-me prova de que é falso, porque não aparece no fim do comentário o ícone para eu o poder eliminar como deveria acontecer se tivesse sido eu a colocá-lo. E o ID identifica a origem.
Deve tratar-se de um criminoso marginal, semelhante aos homicidas que por aí aparecem nas noites das maiores cidades. Também pelo teor dos textos, não é difícil identificar tal energúmeno.
PEÇO que não levem a sério todos os meus comentários e eliminem sem cerimónia aqueles que levantarem dúvidas ou, se tiverem paciência para isso, usem o e-mail constante da minha ficha de blogger e eu os esclarecerei.
Há pessoas que não são dignas da liberdade de comentar.
Recomendo a visita ao post «VERGONHOSO» em A VOZ DO POVO
Posted by A. João Soares at 11:20 6 comments
Labels: comentários falsos, energúmeno, vergonhoso
A olhar para trás não se vence a corrida
Os propagandistas do Governo festejam o seu terceiro aniversário com palavras fantasiosas, ilógicas irreais. Dizem que é preciso enfatizar os pontos positivos da governação e fazem-no com o máximo exagero publicitário e, espantosamente, afirmam com pretensioso ar convincente que não é preciso falar do que está mal.
Que erro e loucura essa! Qualquer motorista sabe que, se a viatura vai a circular normalmente na via, não é preciso accionar qualquer comando, nem a caixa de velocidades, nem o acelerador, nem o travão, nem o volante. Mas se algo não está bem é necessário e urgente accionar de forma adequada os comandos respectivos para que a rota seja corrigida a fim de evitar acidente e continuar de forma correcta. Também no atletismo, o corredor não perde tempo a olhar para trás, porque dessa forma arrisca não ganhar a corrida. O que necessita de medidas correctivas é que deve concentrar a atenção e os esforços de quem dirige, com a permanente preocupação de atingir as metas e os objectivos.
Estes exemplos de quem quer avançar mostram que seria sensato e prudente que os governantes perdessem menos tempo com auto-elogios propagandísticos e se concentrassem a fundo na correcção dos aspectos menos positivos a fim de a «viagem» chegar ao fim da melhor forma. Os resultados reais falarão por si. As pessoas saberão analisá-los.
Se os ilustres políticos não conseguem ver claramente aquilo que necessita de atenção, bastar-lhes-á ouvir os protestos da população acerca dos assuntos ligados à Educação, à Saúde, à Segurança Pública, à Justiça, à Defesa, etc. O contacto com as realidades do País, a que não estão habituados, senão para propaganda e captação de votos, poderá ser-lhes útil se procurarem compreender o que está a passar-se. O povo é sábio e, junto dele, pode aprender-se muito.
Posted by A. João Soares at 07:51 2 comments
Labels: conduta, governar, pontos negativos
Timor. Maggiolo Gouveia e a descolonização
Recebido por e-mail
Timor. Assim morrem os heróis!
de Manuel Amaro Bernardo, escritor
À semelhança do sucedido com outros temas, José Pires conseguiu sintetizar de maneira satisfatória o sucedido naquela época tão conturbada. No entanto queria adiantar algumas achegas sobre a descolonização de Timor.
De facto Mari Alkatiri sempre foi muito extremista e esteve exilado em Moçambique nos tempos de Samora Machel.
Sobre as condições em que ocorreu a morte de Maggiolo Gouveia, abaixo junto uma carta do Bispo de Dili à viúva deste oficial , datada de 10-3-1976, com as notas actualizadas e constante do prefácio do meu livro (e do Cor. Morais da Silva), Timor Abandono e Tragédia. (2000)
Carta do Bispo de Dili
à viúva do Ten-Coronel Maggiolo Gouveia
Há muito que me pesam no coração a dolorosa ansiedade e a cruel angústia de V.Exª. e de todos quantos têm, em Timor, os seus entes queridos e têm estado sem notícias deles. Por S. Exª. Revª. o Pró-Núncio Apostólico em Jacarta, sei, agora, que V. Exª. vive mergulhada em grande aflição e tristeza por absoluta falta de notícias e que pediu à Santa Sé informações sobre a situação do seu extremoso marido. É mais uma falta da minha parte. Mas, como compreenderá, nem sempre é possível escrever em pleno fragor da guerra. A vida começa, agora, tanto quanto é possível, a normalizar-se na cidade de Díli e nalgumas vilas da Província e, por isso, apresso-me a escrever-lhe esta carta, através da mesma Nunciatura em Jacarta que, espero, a fará chegar à mãos de V. Exª..
Durante o período da guerra, como V. Exª sabe, tenho acompanhado, mais ou menos de perto, directa ou indirectamente, a sorte dos nossos queridos prisioneiros e, por isso, a do seu Exmº Marido e meu caríssimo amigo Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia. Particularmente assisti-lhe com assiduidade, quando ele baixou ao hospital sem gravidade, mas onde se manteve até ao dia 7 de Dezembro de 1975. Nesta data, a FRETILIN levou, para Aileu, todos os doentes presos, como aliás todos os seus prisioneiros, detidos em Díli, que andariam à volta de uns 800. (1)
Foi, então, que perdemos o contacto com os presos. Todos nós sentíamos a sensação de nos encontrarmos num túnel de curva fechada e vivíamos horas cheias de angústia, situações de terror e como de contínuo suspensos sobre o abismo da morte. Deus e só Deus, era a nossa esperança: ao coração d'Ele fazíamos e continuamos a fazer insistente violência.
Preso e morto pelos comunistas da FRETILIN:
Só agora, - e já vão sete meses de guerra – começa a raiar esquivamente a aurora de possíveis dias de paz: começa a haver tranquilidade e confiança e a vida está a voltar à normalidade. E, também, só agora, estão chegando daqui e dali, do interior da Província, notícias do que por lá se passou. Estão aparecendo alguns prisioneiros levados pela FRETILIN, mas são muito poucos, os suficientes, porém, para por eles se saber os que não mais voltarão, porque foram mortos pelas forças comunistas. E entre estes que não mais voltarão, porque seguiram rumo à Casa do Pai do Céu, está o nosso querido Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia: fez parte de mais de mil prisioneiros executados pela FRETILIN, no altar do ódio a Deus, à Família e à Pátria.
É deveras dolorosa esta minha missão de lhe anunciar que Seu extremoso marido não pertence já ao número dos vivos "neste vale de lágrimas", deu a sua vida pela fé e pela Pátria, morreu como um autêntico cristão, como um homem inteiriço, como um militar da têmpera desses militares de antanho, que são o orgulho e exemplo da nossa gloriosa História. É natural, minha Senhora, que o seu coração de esposa sangre de dor e que a Sua alma mergulhe na tristeza mais atroz; mas quando um homem morre como o seu marido morreu, herói da fé e da Pátria, é mais motivo para dar graças a Deus e honrar-se em tal morte do que para lamentações e lutos (...)
Rezar com os companheiros antes do fuzilamento:
A execução devia ter sido entre 9 e 15 de Dezembro de 75. Neste momento, ainda não me é possível averiguar a data exacta (1). Sei apenas, como atrás disse, que todos os presos tinham sido levados de Díli para Aileu, em condições das mais desumanas (2). Em dia que não consegui ainda precisar, mandaram reunir todos os presos, como era rotina, e foi feita a chamada de cerca de 50 a 60 homens, incluindo o nome de Maggiolo Gouveia, que sucessivamente iam alinhando no terraço. A este grupo, escoltado pela milícia armada, como era hábito, foi dada ordem de marcha em relação à estrada Aileu-Maubisse. Chegados aqui, e percorridos uns metros de estrada, soou a voz de "alto" e o grupo parou e viu-se próximo de uma grande vala, previamente aberta ao lado da estrada. É-lhes, então, dito que todos vão, ali, ser fuzilados. Há um momento de consternação e estremecimento colectivos. As milícias põem a arma à cara: e é então que o Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia levanta a voz e diz: «Senhores, deixem-nos rezar». E todo o grupo, de joelhos em terra, reza o terço a Nossa Senhora, dirigido pelo Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia. Terminado este e estando todos ainda de joelhos, encoraja e anima os seus companheiros "condenados à morte" e termina dizendo: «Irmãos, breve vamos comparecer na presença de Deus e Pai; façamos o nosso acto de contrição, o nosso acto de amor». E, em silêncio, intercortado de lágrimas, os corações daqueles homens sobem a Deus para pedir... para lembrar..., e dizer... aquilo de que, naquela hora verdadeira, Deus é o único testemunho. Depois, o Tenente-Coronel põe-se de pé, sendo seguido neste gesto pelos seus companheiros, e dirige-se aos soldados-algozes nestes termos: «Irmãos, nós estamos já preparados para comparecer no Tribunal de Deus, lá vos esperamos também a vós. O meu único crime foi o de não renegar a minha fé e o de amar Timor. Morro por Timor. Morro pela minha Pátria e pela minha fé católica. Podeis disparar». Evidentemente, os soldados timorenses ficam como que petrificados. Não se movem, nem se atrevem a pôr arma à cara. É um estrangeiro que rompe o silêncio nestes primeiros instantes e quebra a indecisão daqueles soldados nativos: põe ele a arma à cara e dispara contra o Tenente-Coronel Maggiolo. E, logo a seguir, todos os outros soldados fazem o mesmo, abatendo, com rajadas sucessivas, todos os presos.
(Esta narrativa – quero que o saiba, minha Senhora – ouvi-a da boca de um dos presos de Aileu, o Administrador de Concelho de Maubisse, Lúcio da Encarnação, que a ouviu, por sua vez, dos próprios soldados algozes e que, ao fim, foi salvo pelas milícias de Ainaro).
Assim morrem os heróis!
Assim morrem os heróis. Assim morreu o Tenente-Coronel Alberto Maggiolo Gouveia. E quem assim morre, é orgulho para os pais, para a esposa, para os filhos e para a Pátria; e desta forma, não é a morte que coroa a vida, é a glória eterna em Deus, que sublima a morte. E mais vale morrer com glória do que viver com desonra – eram desta têmpera os portugueses de antanho. – Foi a ideia-força na vida deste Homem, deste Cristão e deste Oficial do Exército Português, de Maggiolo Gouveia. Se, como piedosamente cremos, ele continua a viver no Céu, junto de Deus, também viverá no coração dos timorenses, enquanto a memória dos homens não se desvanecer.
Desculpe, minha Senhora, fui muito extenso e não disse tudo, mas penso que seria esta a melhor forma de mitigar a sua grande dor, de pedir-lhe que tenha coragem na vida para vencer até ao fim, onde o encontrará, e de exortá-la à confiança em Deus, que é o melhor dos pais e que, assim, a começa a preparar para "esse encontro" na meta final da vida.
Aqui vão, Senhora D. Maria Natália, para V. Exª., para os seus filhos e para a demais família, as minhas profundas condolências e a expressão da minha comunhão de orações de sufrágio, com os meus sentimentos de religiosa estima e muita consideração.
De Vossa Excelência, servo inútil em Cristo
Em 10 de Março de 1976
José Joaquim Ribeiro
(Bispo de Díli)
Notas:
(1) No aspecto legal, o Tribunal Judicial de Abrantes considerou a sua morte presumida em 8-12-75, sendo esta data publicada na Ordem do Exército.
Entretanto, através de fontes ligados a D. Ximenes Belo à Igreja Católica, veio a confirmar-se o fuzilamento de Maggiolo Gouveia e dos seus companheiros na antevéspera do Natal de 1975, e tal como referi anteriormente, ordenado pelo comité central da FRETILIN, ao qual pertencia Xanana Gusmão.
(2) Recortada a notícia de Maggiolo Gouveia ter feito o percurso a pé, carregando um cunhete de munições.
Posted by A. João Soares at 06:09 0 comments
Labels: descolonização, Maggiolo Gouveia, Timor
quinta-feira, 13 de março de 2008
Carta aberta de professor a Emídio Rangel
9 03 2008
Exmo. Sr. Rangel:
Não sou uma figura pública como V. Exa., nem tenho um jornal que acolha as minhas opiniões. Felizmente existe hoje a blogosfera e os amigos para publicar o mais possível a nossa opinião; espero que esta carta chegue até si!
Sou apenas um dos 143 000 professores deste país e um dos 100 000 que estiveram na Marcha da Indignação no dia 8 de Março, dia em que fui brindado com o seu artigo de opinião a que baptizou de «HOOLIGANS EM LISBOA».
Como deve estar à espera, depois daquilo que escreveu, ou coloca uma venda nos olhos e uns tampões nos ouvidos ou terá de ver e ouvir os argumentos dos visados. Como quem não se sente não é filho de boa gente, e fui um dos seus alvos, o seu artigo merece-me uma resposta, bem ao estilo político e jornalístico, em dez breves pontos. Está preparado? Cá vai:
1) A sua legitimidade para me chamar «hooligan» é a mesma que eu tenho de lhe chamar palerma, idiota e atrasado mental! Repito: a legitimidade é exactamente a mesma!
2) A sua legitimidade para me chamar comunista e que o Prof. Mário Nogueira (não é Sequeira, sr. Rangel) é um assalariado do PCP e que tal partido alugou 600 autocarros para a manifestação, é a mesma que eu tenho para lhe chamar fascista, assalariado do PS e alugado por este partido para emitir estas imundas alarvidades. Repito: a legitimidade é exactamente a mesma!
3) Os professores e os empregados da Lisnave são cidadãos dignos, que trabalham toda a vida para sustentar as suas famílias com ordenados por vezes miseráveis, não são jornalistas de segunda que andam à crava de pequenos tachos de ocasião, depois de fracassarem pessoal e profissionalmente à frente de grandes cadeias de televisão, com ordenados de rei para gastar em opulentas noitadas algarvias!
4) A maioria dos professores que V. Exa diz ainda terem dignidade, comparando-os aos seus, somos todos nós, Sr. Rangel, porque somos 143 000, estavam lá 100 000, sendo que dos 43 000 que não estavam certamente 40 000 não estiveram apenas de corpo e os restantes 3000, ou por aí, serão os inevitáveis fundamentalistas partidários, cuja religião PS lhes ofusca a lucidez!
5) V. Exa nunca pertenceu à nossa classe! V. Exa foi professor, mas universitário e, não lhe retirando mérito pela formação que isso permitiu, fique sabendo que ser professor universitário nada tem a ver com o que se passa nas nossas salas de aula, onde todas as crianças e jovens têm lugar, os bons, os maus, os educados, os mal-educados, os civilizados, os selvagens, os ricos, os pobres, os inteligentes, os deficientes, os meus filhos, os seus filhos… Enfim, não se trata de um lugar onde uma clivagem por resultados escolares, permite que tenhamos uma sala com 20 ou 30 alunos com toda a socialização feita e a quem basta dar bibliografia e pouco mais!
6) V. Exa ignora por completo o que o ME quer impor nas escolas e aos professores, pois isso sim, é que favorecerá a incultura, deseducação, a anarquia pedagógica, em que o obrigatório facilitismo formará uma geração de humanóides completamente ocos de valores, cultura e sabedoria; eu sou um produto do sistema que V. Exa acusa de iníquo e sei o que significa dignidade, respeito, admiração, ponderação, civismo, tolerância… enfim, tudo o que V. Exa não revela, na sua miserável crónica!
7) Vergonha devem sentir os cidadãos portugueses de terem de levar com opiniões de jornalistas (esses sim, é que são pseudo) completamente esventrados de sensatez, isenção e responsabilidade. Este artigo de V. Exa é o epíteto do desnorte e testemunho de um intoxicado intelecto!
8 ) A Ministra é corajosa e determinada? Estamos de acordo. Acontece que V. Exa confunde estes conceitos com clareza, responsabilidades e, sobretudo, com justiça e sentido de visão estratégica para a Educação. Todos os grandes facínoras políticos da História eram corajosos e determinados!
9) Todos os que V. Exa chama estúpidos e que, sendo do PSD, do PCP ou daquilo que você quiser, apoiam e compreendem a causa dos professores, se o fazem por antipatia política ou oportunismo, e sei que os há, tal adjectivo assenta-lhes que nem uma luva; aos restantes, que são infinitamente mais, não os confunda com um espelho!
10) V. Exa pertence, ou pelo menos pertenceu, a uma recente classe de portugueses, muito inferior à dos professores, quer em número quer em dignidade, cujo novo-riquismo aliado ao corrupto mercado da imagem, fazem de vós uma praga infestante para o cidadão comum, que luta todos os dias contra as dificuldades de um país minado por políticos fajutos e incompetentes e por um jornalismo bacoco e de algibeira, do qual V. Exa é um belo protagonista!
Paulo Carvalho
Posted by A. João Soares at 19:44 3 comments
Labels: Emídio Rangel, professores